Para tentar legitimar os juros altos, Campos Neto diz que grande parte da população seria rentista da dívida pública

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Na véspera do feriado, o Presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto repetiu um argumento normalmente colocado pela grande imprensa, analistas conservadores, e todos os governos: que a dívida pública brasileira beneficiaria grande parte da população, mais especificamente 48 milhões de beneficiários de fundos de pensão, 6 milhões que aplicam na bolsa, e todos os que investem em fundos de investimento, ou no “Tesouro Direto”.

Porém, essa é uma grande “pegadinha” que vem sendo fomentada na últimas décadas pelos diversos governos, no sentido de estimular pessoas da classe média a comprarem uma parcela dos títulos da dívida pública (parcela essa bem pequena, na verdade), e depois alegarem que a dívida pública beneficiaria grande parte da população.

Porém, essa bolada fica a serviço da Bolsa-Banqueiro, pois quando analisamos os dados oficiais, verificamos o contrário. Em primeiro lugar, as tabelas comumente divulgadas pelo Tesouro Nacional simplesmente OMITEM mais de R$ 2 TRILHÕES de títulos da dívida pública federal em poder do Banco Central, sob a alegação de que seria uma dívida com outro ente público. Porém, o Tesouro paga juros altíssimos ao Banco Central sobre estes mais de R$ 2 trilhões de títulos (ano passado foram R$ 212 bilhões de juros) e este recurso não volta para investimentos sociais, mas, pelo contrário, fica no BC para remunerar também com juros altos a sobra de caixa dos bancos, por meio das chamadas “operações compromissadas” e “depósitos voluntários remunerados”.

Em segundo lugar, o Tesouro Direto responde por apenas 1% do total do estoque da dívida pública federal, e os Fundos de Pensão (“Entidades Fechadas de Previdência Complementar”) por apenas 2%, mediante a compra direta de títulos, e 6% mediante aplicações em Fundos de Investimento. Além do mais, a Auditoria Cidadã da Dívida já solicitou diversas vezes informações sobre os detentores de títulos da dívida pública federal (inclusive dentro dos chamados “Fundos de Investimento”) que poderiam mostrar como a maior parte desta dívida está concentrada em pouquíssimos rentistas, porém, os diversos governos escandalosamente se recusam a divulgar tais dados, apesar de estarmos tratando de recursos públicos. No caso dos servidores públicos, por exemplo, todos os nomes e valores constam abertamente na internet.

Se o atual governo quer, de fato, enfrentar a política monetária do Banco Central, com seus juros “sem explicação”, conforme diz o próprio Presidente Lula, está mais do que na hora de divulgar estas informações, para permitir finalmente uma ampla auditoria feita pela sociedade sobre estes dados, de modo a separar os grandes bancos e rentistas dos pequenos aplicadores, e assim derrubar os argumentos falaciosos do presidente do Banco Central e de vários outros analistas, para que a toda a população saiba quem são os super ricos que vivem de tirar dinheiro das áreas sociais.

Para que possa ampliar significativamente os investimentos sociais, é preciso enfrentar este “Sistema da Dívida” que no Brasil não se presta a financiar as áreas sociais, mas a apenas pagar os próprios juros e amortizações da dívida, enriquecendo cada vez mais os super ricos, que assim ficam com a riqueza produzida com o suor dos trabalhadores, e deixa os governos de joelhos diante do “mercado”, tendo de apresentar regras fiscais que apenas limitam absurdamente os gastos sociais, deixando totalmente livres os gastos com a dívida pública.

AUDITORIA DA DÍVIDA JÁ! COM PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE!