Estoque de títulos em reais correspondente a 13% da dívida externa pública
O Jornal de Brasília repercute a reunião da CPI da Dívida de ontem, onde o Vice-Diretor Gerente do FMI, Murilo Portugal, afirmou que a dívida brasileira é muito alta, contradizendo a informação divulgada por ele mesmo e bastante anunciada pelo governo, de que a dívida não seria mais problema, pois o Brasil seria um país credor externo, inclusive do FMI. Seguindo a tradicional receita do FMI para lidar com dívidas altas, recomendou a realização de superávits primários. Também afirmou que não possui conhecimento sobre irregularidades na dívida externa. Importante ressaltar que, durante a reunião, o Deputado Ivan Valente (PSOL/SP, proponente da CPI) questionou diversos pontos da fala de Portugal, afirmando que inúmeras ilegalidades no endividamento constam nos relatórios finais das próprias Comissões Parlamentares anteriores, realizadas na década de 80.
Importante artigo de Cláudia Safatle no Valor Econômico derruba outra afirmação de Portugal, de que o perfil da dívida estaria melhorando. Safatle confirma os comentários anteriores desta seção, de que há uma importante parcela da dívida interna que não aparece nas estatísticas constantemente divulgadas pelo governo. São as “Operações de Mercado Aberto” do Banco Central (BC), que possuem prazos curtíssimos e bateram a marca do meio trilhão de reais dia 19 de outubro. Estas operações, também chamadas de “compromissadas”, são feitas para financiar a compra de dólares para as reservas cambiais.
Outro motivo deste crescimento é o pagamento em dinheiro de parcela da dívida interna sob a responsabilidade do Tesouro Nacional, o que na visão do BC, causaria inflação, devido ao aumento da quantidade de dinheiro em circulação. Então, para retirar de volta estes reais, o BC faz tais operações compromissadas. Ou seja: isto mostra o caráter suicida da atual política de endividamento, pois quando se paga uma parte da dívida, o BC imediatamente emite mais dívida.
A autora do artigo faz uma sugestão ao final: que o governo não atenda ao apetite do mercado pela compra de títulos públicos, o que poderia reduzir os juros ao patamar próximo a zero.
O Correio Braziliense mostra que o governo procura tomar novas medidas para evitar a constante valorização da moeda nacional frente ao dólar, decorrente da entrada em massa de dólares no país, em grande parte para ganhar com os altíssimos juros da dívida interna. Conforme previsto por esta seção, este movimento continuou ocorrendo, apesar da instituição do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% sobre a entrada de capital estrangeiro. Isto porque os ganhos dos estrangeiros com a dívida interna já chegam a 50% este ano, visto que estes ganham a Taxa Selic mais a valorização do Real.
O governo planeja aumentar ainda mais a compra de dólares, na tentativa de que, desta forma, com uma maior procura, a moeda americana pare de cair. Outra medida é intensificar a venda de títulos em reais no exterior. Ou seja: os recursos dos investidores estrangeiros não mais precisariam entrar no país para ganhar com a dívida interna. Outra medida proposta pelo BC é permitir que os Fundos de Investimento invistam no exterior, e que os brasileiros possam ter contas em dólares.
Porém, nenhuma destas medidas ataca as verdadeiras causas da enxurrada de dólares para o país: as altíssimas taxas de juros brasileiras (pagas aos estrangeiros que compram títulos públicos), e a liberdade de movimentação de capitais. Além do mais, a certeza de que o governo irá comprar os dólares trazidos pelos especuladores tem incentivado ainda mais a entrada dos estrangeiros no país.
Enquanto os especuladores continuam com sua farra garantida, a Folha de São Paulo noticia a briga pelos recursos do Orçamento 2010, onde somente agora a Equipe Econômica aceitou garantir o ressarcimento de uma pequena parte das perdas dos estados com a isenção de ICMS sobre as exportações (Lei Kandir). O governo teria aceito pagar aos estados R$ 3,9 bilhões, frente a uma perda calculada em cerca de R$ 20 bilhões anuais. A Folha também noticia o custo de R$ 3 bilhões em 2010 do aumento dos aposentados.
Porém, há um gasto que não aparece nas constantes discussões sobre o orçamento 2010: os juros e amortizações da dívida, que somente em 2009 (até 20 de outubro) já consumiram R$ 268 bilhões.
Por fim, o Valor Econômico noticia que o governo está propondo uma nova capitalização de R$ 100 bilhões do BNDES, para permitir mais empréstimos ao setor privado, o que pode aumentar ainda mais a dívida. Cabe ressaltar que na primeira capitalização, o governo emitiu dívida interna à taxa Selic (ou até mais) para que o BNDES empreste ao setor produtivo a uma taxa mais baixa. Em suma: ao invés de obrigar que os bancos privados financiem a produção, o governo assume todos os riscos do financiamento produtivo, enquanto os bancos continuarão financiando o governo, sem risco algum, e recebendo a Taxa Selic.
Vice-diretor do FMI considera dívida pública do setor público brasileiro muito elevada
Jornal de Brasília – 06/11/2009
O vice-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Murilo Portugal, disse hoje (5) que considera a dívida bruta do setor público brasileiro muita elevada em relação à de outros países emergentes do G20 (grupo das maiores economias mundiais), da América Latina e também dos que têm grau de investimento como o Brasil.
Conforme dados apresentados por ele, a dívida este ano está acima de 60% em porcentual do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país), enquanto nas economias emergentes fica acima de 40%.
Murilo Portugal ressaltou, porém, que o Brasil precisa manter uma “prudência monetária”, continuar com o câmbio flutuante e, principalmente, respeitar a responsabilidade fiscal. Dessa forma, a manutenção das metas de superavit primário reduzirá cada vez mais a dívida pública em relação ao PIB, acrescentou Portugal, que participou hoje de audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida Pública da Câmara dos Deputados. Ele deixou claro que as opiniões que emitiu durantes os debates eram pessoais e não representavam a posição do FMI.
O representante do FMI, que integrou a equipe econômica nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, disse aos parlamentares que, diferentemente do que afirmam muitos críticos dessa prática, o endividamento público e a tributação podem ser encarados também como instrumentos importantes, pois fazem parte do Estado moderno e permitem financiar o investimento público em prazos mais longos, distribuídos entre os contribuintes do presente e do futuro.
Segundo Portugal, a imagem negativa da dívida pública surgiu na época em que era preciso pagar juros elevados para o financiamento das contas públicas. Era reflexo de uma época de inflação alta, de indisciplina fiscal, com aumento da vulnerabilidade da economia e consequente dificuldade de financiamento, o que levava à elevação crescente das dívidas interna e externa do país.
Portugal lembrou, porém, que isso mudou a partir de 1994, quando o país passou a ter melhores fundamentos econômicos, conseguiu controlar a inflação e estabeleceu um regime de metas, que vêm sendo mantidas pelo governo atual. Ele ressaltou que a situação melhorou a tal ponto que o país se tornou credor do FMI. “A dívida pública brasileira, que já foi um bicho-papão, deixou de ser um problema”, afirmou.
Em termos comparativos e para entender as mudanças ocorridas na percepção dos investidores no Brasil, Portugal citou a crise da Ásia, quando os juros tiveram que ser elevados de 20% para cerca de 46%, e a atual crise, quando as taxas brasileiras de juros foram reduzidas para enfrentar a situação.
Ele ressaltou que a dívida deve crescer de 4 a 5 pontos percentuais, devido às medidas adotadas para evitar que a turbulência econômica originada nos Estados Unidos tivesse reflexos no Brasil no ano passado. Portugal elogiou a adoção de um superavit maior pelo governo na tentativa de reduzir o estoque da dívida interna, pois considera a externa já solucionada. Quanto à alegação de que o pagamento tem reduzido os gastos sociais, ele disse que são ainda despesas significativas e em cima da arrecadação de tributos. “É preciso fazer mais, melhor com menos e com o aumento da produtividade ”, afirmou, lembrando que é preciso reduzir custos unitários para depois conseguir destinar recursos aos setores mais carentes.
Perguntado se tinha conhecimento de irregularidades na gestão da dívida, Murilo Portugal disse que não sabia de problemas desse tipo, pelo menos durante o período em que esteve no governo.
Há meio trilhão de dívida pública paralela
Brasil
Autor(es): Claudia Safatle
Valor Econômico – 06/11/2009
No dia 19 de outubro o estoque de operações compromissadas superou meio trilhão, batendo em exatos R$ 500,17 bilhões. Essas são operações feitas com títulos da dívida pública, através do Banco Central, que coloca os papéis no mercado para enxugar a liquidez, com compromisso de recomprá-los na data contratada. Segundo dados oficiais, o saldo dessas operações em outubro, depois do pico do dia 19, fechou em R$ 466 bilhões – equivalente a 15,7% do produto Interno Bruto (PIB) – com uma posição média de R$ 483,4 bilhões. Elevadíssimo, portanto.
Quando o governo retomou a colocação de títulos com compromisso de recompra, em 2002, no auge da crise da marcação a mercado dos fundos de investimento, seguida da brutal desvalorização do real e de uma crise cambial, foram emitidos menos de R$ 15 bilhões.
Os números começaram a aumentar substancialmente a partir da política de acumulação de reservas cambiais e da sua consequente esterilização. A esta se juntou uma outra decisão, do Tesouro Nacional, de fazer resgates líquidos da dívida pública nos últimos dois anos e meio e regrar a oferta, ao mercado, de títulos indexados à Selic e de papéis prefixados de curto prazo, conforme determinação do Plano Anual de Financiamento da Dívida (PAF). Com isso, a STN deixou de atender às demandas do sistema financeiro, numa espécie de queda de braço que terminou por induzir o mercado a buscar uma alternativa. As operações com cláusula de recompra tornaram-se, assim, substitutos das LFTs (títulos selicados) e dos prefixados de curto prazo.
A soma de ambos (reservas e resgates), que acabam sendo os principais determinantes da liquidez existente no mercado, resultou num aumento vertiginoso do estoque de compromissadas. Ou seja, criou-se uma assombrosa dívida pública paralela. Hoje o peso da opção do Tesouro (de reduzir a dívida) na expansão da liquidez e, portanto, na demanda por compromissadas, superou sensivelmente o das operações de reservas cambiais.
Dentre os fatores condicionantes da base monetária (emissão primária de moeda), enquanto as operações com títulos federais foram responsáveis por uma expansão de R$ 299 bilhões na liquidez de 2007 até agora, as operações de esterilização de reservas contribuíram com R$ 267 bilhões.
Os dados indicam um movimento claro: em 2005, as emissões de títulos públicos enxugaram a liquidez em R$ 30 bilhões. A partir de 2006 até o mês passado, o sinal mudou e formou-se um movimento crescente de irrigação da liquidez na proporção de R$ 28 bilhões, R$ 19 bilhões, R$ 139 bilhões e R$ 112 bilhões, respectivamente.
No caso das reservas, a trajetória foi diferente. Começou com uma injeção de recursos no mercado de R$ 52 bilhões em 2005, cifra que salta para R$ 155 bilhões em 2007, vira em 2008 para uma contração de R$ 12 bilhões. Neste ano, as operações externas voltaram a irrigar o mercado com R$ 50 bilhões, um volume expressivo de recursos, mas menos da metade do que o Tesouro Nacional injetou de janeiro a outubro. Coube ao BC recolher essa dinheirama do mercado, colocando títulos com cláusula de recompra.
Do lado da oferta, são os fundos de investimentos, com cerca de 70% , os maiores detentores desses papéis. Os 30% restantes estão nas mãos dos bancos (cerca de 20%) e de grandes companhias públicas e privadas (10%).
Ao contrário do que se imagina – que as operações compromissadas são a expressão da escassez da oferta de crédito na economia – os especialistas do governo explicam que uma coisa não guarda relação com a outra.
O estoque de compromissadas pode crescer ao mesmo tempo em que aumenta a oferta de crédito. E foi isso que aconteceu nos últimos anos. O crédito dobrou como proporção do Produto Interno Bruto (de 20% do PIB para a casa dos 40% do PIB) ao mesmo tempo em que a dívida com esses títulos saltou da casa dos R$ 15 bilhões em 2002 para quase meio trilhão.
“O fato dos bancos emprestarem não altera o volume de compromissadas, apenas faz com que os títulos mudem de mão”, explicou um técnico qualificado do governo, que exemplificou: quando o Tesouro Nacional empresta R$ 100 bilhões ao BNDES, aumenta em R$ 100 bilhões o estoque da dívida com as operações compromissadas. No momento que o BNDES empresta esses recursos para determinada empresa e esta compra bens no mercado doméstico, quem vendeu os bens aplicará o dinheiro recebido e esta será com cláusula de recompra. Ou seja, o papel continua no sistema financeiro. Ele apenas mudou de mão.
Do saldo total de quase R$ 500 bilhões em compromissadas, cerca de 60% estão em títulos públicos com prazo de 45 dias e os 40% restantes divididos praticamente ao meio em papéis com prazo de um dia e de seis meses.
Desmontar essa anomalia não é uma tarefa simples. Os especialistas do governo, muitos deles com visão crítica do caminho tomado pelo Tesouro Nacional de 2006 para cá, veem apenas uma alternativa: o Tesouro Nacional voltar a operar com os títulos que o mercado demanda.
Alguém até poderia sugerir algo mais truculento: não atender ao apetite do mercado com títulos remunerados pela taxa Selic nem com operações compromissadas. O resultado de um embate desse porte seria, muito provavelmente, reduzir os juros a um patamar próximo de zero.
Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras
Novas medidas para conter alta do real
Autor(es): Vicente Nunes
Correio Braziliense – 06/11/2009
Governo deve permitir que Tesouro passe a comprar dólares no mercado para pagar dívida externa. Por outro lado, pode isentar lançamento de ações da taxação de 2%
O Ministério da Fazenda decidiu se antecipar às mudanças na legislação que está sendo estudada pelo Banco Central e deve anunciar, em breve, novas medidas para conter o forte processo de valorização do real frente ao dólar — ontem, a moeda americana voltou a cair 0,46%, cotada a R$ 1,742. Em dois pontos já há consenso. O primeiro dará liberdade ao Tesouro Nacional para comprar, antecipadamente e sem limite de prazo, dólares no mercado para o pagamento de dívida externa. Hoje, a aquisição só pode ser feita antecipadamente para débitos com vencimento em até 360 dias. A tendência é de essa medida ser estendida a empresas do setor privado.
O segundo ponto também envolve o Tesouro. O governo quer retomar a emissão de títulos da dívida pública em reais. Os papéis serão vendidos no mercado internacional e o dinheiro captado não, necessariamente, terá que entrar no Brasil. O último lançamento de papéis corrigidos em reais pelo Tesouro foi feito em 2007, quando o mundo sequer discutia a possibilidade de uma crise mundial. Pelos cálculos do governo, há, hoje, um estoque de R$ 10,2 bilhões em títulos em reais, o correspondente a 13% da dívida externa pública. “São medidas muito boas, que representam o avanço, pois não são intervencionistas, como o IOF cobrado dos investidores estrangeiros em bolsa e em renda fixa”, disse o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto.
Há, ainda, a possibilidade de o Fundo Soberano do Brasil (FSB), criado no ano passado, ser autorizado a comprar dólares no mercado, em operações complementares às do Banco Central. O fundo tem hoje patrimônio de R$ 16 bilhões. Apesar de contar com o aval do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a medida não é bem-vista no BC. Os técnicos do banco alegam que as operações do fundo injetariam um volume adicional de reais no mercado, que teria que enxugar por meio da venda de títulos públicos. O BC também não quer abrir mão da exclusividade das compras. Neste ano, já arrematou US$ 21 bilhões.
Fundos
A despeito das medidas emergenciais para conter o excessivo movimento de valorização do real, como foi a criação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% sobre o capital estrangeiro, a intenção do governo, liderada pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, é fazer uma ampla liberalização do mercado de câmbio. Já estão na mesa de debates a autorização para que os fundos de investimentos possam destinar até 10% dos R$ 1,3 trilhão em patrimônio para aplicações no exterior, a liberdade para os bancos comprarem ativos financeiros fora do país e a permissão para que os brasileiros possam ter contas em dólares. “Quanto mais desregulamentação houver no aparato cambial, melhor será para o país”, afirmou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.
Os economistas chamaram ainda a atenção para a proposta feita pela BM&FBovespa ao Ministério da Fazenda, para que possa transferir para o exterior cerca de R$ 8 bilhões que os estrangeiros têm depositado na bolsa como garantia de operações nos mercados futuro e de opções. Também é grande a torcida para que o BC autorize os bancos a emitirem debêntures, títulos de longo prazo, para captar recursos que serão destinados, principalmente, ao crédito consignado. Hoje, a maior parte dos empréstimos com desconto em folha é bancada por dinheiro tomado no exterior, onde os juros são menores.
CALOTE DERRUBA LUCRO DA CAIXA EM 38%
A determinação do governo para que a Caixa Econômica Federal pisasse fundo no acelerador do crédito custou caro ao banco. De janeiro a setembro deste ano, a instituição foi obrigada a provisionar R$ 2,530 bilhões para cobertura de créditos de difícil liquidação, ou seja, com risco de calote. Esse volume é 77% maior do que o registrado no mesmo período de 2008, quando as provisões somaram R$ 1,428 bilhão. Com isso, o lucro líquido da Caixa nos nove primeiros meses do ano desabou 37,91% em relação a igual período do ano passado. O ganho da instituição neste ano totalizou R$ 2,027 bilhões, contra R$ 3,265 bilhões de janeiro a setembro de 2008. No terceiro trimestre de 2009, a Caixa lucrou R$ 870 milhões. (VN)
O número
Moeda
R$ 10,2 bilhões
Estoque de títulos em reais correspondente a 13% da dívida externa pública
Exceção na cobrança do IOF
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou aos agentes de mercado a possibilidade de isentar os investidores estrangeiros do pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% nos lançamentos de ações (IPOs, na sigla em inglês). De início, Mantega se mostrou resistente ao pedido do presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, mas foi convencido por empresários de que o dinheiro captado por meio dessas emissões é fundamental para a retomada dos investimentos produtivos. A quinta-feira foi positiva no mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 1,4% ontem, influenciada pela alta de 2% na Bolsa de Nova York. O principal motivo foi o crescimento da atividade industrial nos EUA, onde também houve queda no número de pedidos de seguro-desemprego.(VN)
Na mesa de decisão
O que a área econômica estuda para conter a entrada de dólares no país
Compra antecipada de dólares: o Tesouro Nacional poderá adquirir, sem limite de tempo, a moeda americana para pagar dívidas com vencimento além de um ano. Hoje, as compras antecipadas se limitam a pagamentos de débitos vencendo em, no máximo, 360 dias. A medida deve ser estendida ao setor privado
Emissão em reais: o Tesouro Nacional retomará a emissão de títulos da dívida externa em reais para venda no mercado internacional. A última emissão desses papéis ocorreu em 2007
Fundo Soberano: o Ministério da Fazenda quer que esse fundo também possa comprar dólares no mercado, o que seria um complemento às ações do Banco Central
Fundos de investimentos: há a possibilidade de que os fundos possam aplicar até 10% do seu patrimônio em ativos no exterior. Esses fundos detêm R$ 1,3 trilhão em ativos
Bancos: as instituições financeiras nacionais poderão aplicar no exterior. Mas isso exigirá um controle de risco maior por parte do Banco Central, para que os bancos não se metam em aventuras, como os subprimes, dívidas de péssima qualidade que originaram a atual crise mundial
Debêntures: o Banco Central deve autorizar os bancos a emitirem debêntures, títulos de longo prazo, para financiar o crédito consignado. Hoje, grande parte dessas operações é bancada com recursos captados por instituições no exterior
Garantias das bolsas: representantes do mercado propuseram ao Ministério da Fazenda transferir para o exterior cerca de R$ 8 bilhões que os estrangeiros são obrigados a depositar como garantias para suas operações na BM&FBovespa
Contas de pessoas físicas em dólar: é vista como a última etapa do processo de modernização da lei cambial, que está sendo feita pelo Banco Central. Os brasileiros poderiam ter contas em dólar no país
O QUE JÁ FOI FEITO
IOF de 2%: em 19 de outubro, o Ministério da Fazenda taxou o ingresso de investimentos estrangeiros destinados às bolsas de valores e à renda fixa (títulos públicos, principalmente)
Fundos de pensão: o Conselho Monetário Nacional autorizou às fundações de previdência complementar aplicarem até 10% de seu patrimônio no exterior
Fundos exclusivos: destinados a clientes com mais de R$ 1 milhão, esses fundos podem aplicar até 100% do patrimônio fora do país
Compras do BC: o Banco Central intensificou o processo de aquisição de dólares no mercado para tentar contar a alta do real. Neste ano, o BC já arrematou US$ 21 bilhões, destinados às reservas internacionais do país
Exportadores: as empresas podem deixar por até um ano no exterior 100% dos dólares recebidos de clientes de fora do país. É o que o mercado chama de cobertura cambial
Estados recebem, em 2010, R$ 3,9 bi das perdas da Lei Kandir
Folha de S. Paulo – 06/11/2009
Esse valor está garantido no Orçamento; se houver receita disponível, União repassará mais R$ 1,3 bi
Os Estados conseguiram garantir um reembolso de R$ 3,9 bilhões pelo imposto que deixarão de recolher com a isenção às exportações no ano que vem. A compensação pelas perdas da chamada Lei Kandir não estava prevista no Orçamento enviado ao Congresso, mas será incluída no relatório final depois de acordo feito com a equipe econômica.
“O problema está resolvido do ponto de vista político e técnico. Com a reestimativa de receitas, abrimos espaço para o pagamento”, disse o relator do Orçamento, deputado Geraldo Magela (PT-DF).
A disputa entre os Estados e a União pelo ressarcimento das perdas com a isenção do ICMS nas vendas ao exterior é recorrente. O governo entende que, desde 2002, não tem mais a obrigação de fazer o pagamento, que seria condicionado à disponibilidade de receitas.
Já os governadores insistem que o valor devido é de R$ 5,2 bilhões. Neste ano, São Paulo e Minas Gerais, grandes Estados exportadores, ameaçaram proibir o uso de créditos acumulados pelas empresas nas vendas externas.
A negociação com a União garante o pagamento de R$ 3,9 bilhões e condiciona o restante do repasse ao comportamento da arrecadação federal. Se houver recursos, o governo federal deverá transferir mais R$ 1,3 bilhão aos Estados em 2010.
Essa foi a segunda vez que o governo federal deixou de incluir o pagamento da Lei Kandir no projeto do Orçamento enviado ao Congresso. A primeira vez foi em 2005, e, depois de negociações com os governadores, a União também concordou com o pagamento.
O acordo feito neste ano foi chancelado pelos secretários-executivos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento. De acordo com Magela, a aprovação do Orçamento corria o risco de “emperrar” caso não houvesse uma solução para o problema da Lei Kandir.
Aprovada em 1996, a lei isenta as exportações do pagamento de ICMS. Mas, para evitar que os Estados perdessem receitas, a União concordou em ressarcir as perdas até 2002.
Reajuste a aposentado pode custar R$ 3 bi
Folha de S. Paulo – 06/11/2009
Previsão de gasto extra para 2010, caso a proposta de Lula vingue, é vista como “absorvível” pela equipe econômica
Ganho real acima da inflação ficaria em 2,5%, enquanto previsão para reajuste em 2011 ficaria em cerca de 0,5%, segundo projeções
O impacto fiscal do acordo que o presideznte Lula negociará com os aposentados é considerado “absorvível”, segundo avaliação do governo. Sem levar em conta o resultado dessa negociação, o deficit esperado para a Previdência no ano que vem é de R$ 39 bilhões.
Nas contas do Ministério da Previdência, o aumento real para os benefícios acima do salário mínimo -pela regra de 50% da variação do PIB de dois anos antes- deverá gerar um custo adicional de R$ 3 bilhões no Orçamento de 2010, cerca de um terço dos gastos com o Bolsa Família neste ano.
O aumento (incluindo a inflação) em 2010 ficaria próximo de 6% e beneficiará 8,2 milhões de aposentados e pensionistas. Para 2011, no entanto, a mesma regra deverá garantir reajuste real próximo de zero, já que o PIB a ser aplicado será o deste ano, e as projeções flutuam em torno de 1%. Como os aposentados levariam só a metade da variação do PIB, o aumento acima da inflação no primeiro ano do próximo governo seria equivalente a 0,5%.
De todos os pontos do acordo, o aumento real para os benefícios de quem tem aposentadoria acima de um salário mínimo é classificado como o de maior potencial na elevação dos gastos públicos.
Já a proposta de criar o chamado fator 85/95, nos seus primeiros cincos anos de vigência, trará ganhos para o governo. Aumentará a arrecadação previdenciária e reduzirá as despesas com benefícios.
O novo fator é defendido pelo governo como alternativa ao atual fator previdenciário. A nova fórmula permitirá que o trabalhador se aposente quando a soma de sua idade e tempo de contribuição for igual a 85 anos, para mulheres, e 95 anos, para homens.
Na prática, o fator 85/95 jogará para a frente gastos que o governo teria agora. Mas terá um efeito colateral: ao adiar as aposentadorias, a Previdência também estará assegurando aos trabalhadores benefícios de valor mais elevado no futuro. Assim, a economia obtida nos primeiros anos do novo fator será transformada em aumento de gastos a partir de 2016.
A previsão é que essa elevação das despesas atinja quase um ponto percentual do PIB em 2050. Para os técnicos, os ganhos imediatos e as perdas de longo prazo se equilibram.
LULA GARANTE MAIS R$ 100 BI AO BNDES
Presidente confirma novo aporte para BNDES
Autor(es): Cristiano Romero e Sergio Lamucci, de Londres
Valor Econômico – 06/11/2009
O governo vai fazer uma nova capitalização para garantir a expansão da carteira de crédito nos próximos anos
O governo vai fazer uma nova capitalização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir a expansão da carteira de crédito da instituição nos próximos anos, afirmou ao Valor o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O BNDES postula um aporte de R$ 100 bilhões, o mesmo valor concedido pelo Tesouro Nacional à instituição ao longo de 2009. “Temos que apoiar. Não vamos ficar sentados em cima do dinheiro”, disse Lula, mencionando em seguida o forte crescimento da oferta de crédito ocorrido na economia brasileira nos últimos anos. “A carteira de crédito do Banco do Brasil chegou a R$ 300 bilhões. Este era o valor de todo o crédito da economia em 2003”.
Essa perspectiva de consistente expansão da economia brasileira foi apresentada ontem pelo governo a uma plateia de cerca de 200 presidentes e diretores de instituições financeiras e empresas europeias, que disputaram os convites para o seminário realizado em Londres pelos jornais “Financial Times” e Valor . Mas nem o presidente, nem os ministros e empresários que falaram no evento precisaram de grande esforço para convencer a plateia. O mundo financeiro parece ter se rendido aos bons números que a economia brasileira vem apresentando nos últimos anos. Ou, como sintetizou o ministro da Fazenda, Guido Mantega: no Brasil, o juro ainda é alto e as condições de investimento, seguras, o que fortalece o poder de atração de capitais.
Para Mantega, os empresários brasileiros estão caminhando muito mais lentamente na retomada de seus investimentos no país que os estrangeiros. “Este é o momento de investir porque, do contrário, no ano que vem vamos ter que esfriar a economia por excesso de demanda”. Mantega afirmou que o PIB brasileiro deve crescer 8% no terceiro trimestre em termos anualizados
Ontem à tarde, Lula foi recebido pela rainha Elizabeth II em encontro privado na Banqueting House. Depois, foi homenageado com o Prêmio Chatham House, concedido aos que mais contribuíram para melhorar as relações internacionais no ano anterior. Lula foi escolhido por esforços na mediação de crises regionais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou ontem que o governo vai mesmo fazer uma nova capitalização no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com o objetivo de garantir a expansão da carteira de crédito da instituição nos próximos anos. “A decisão já está tomada”, disse o presidente ao Valor, depois de participar de café da manhã com editores do jornal britânico “Financial Times”.
O BNDES defende a realização de um aporte de R$ 100 bilhões, quantia igual ao total dos empréstimos feitos pelo Tesouro Nacional à instituição ao longo de 2009. De acordo com o presidente Lula, a operação de capitalização já está decidida, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do banco, Luciano Coutinho, ainda se reunirão para acertar os mecanismos do apoio.
“Temos que apoiar. Não vamos ficar sentados em cima do dinheiro”, disse Lula, mencionando em seguida o forte crescimento da oferta de crédito ocorrido na economia brasileira nos últimos anos. “A carteira de crédito do Banco do Brasil chegou a R$ 300 bilhões. Este era o valor de todo o crédito da economia em 2003”, afirmou.
Luciano Coutinho informou que a carteira de empréstimos que já obtiveram aprovação junto ao banco soma R$ 160 bilhões. Hoje, o BNDES está capacitado para emprestar cerca de R$ 60 bilhões por ano sem a ajuda do Tesouro. Na próxima quarta-feira, Coutinho vai se reunir com o ministro Guido Mantega para discutir os detalhes do novo aporte.
O ministro da Fazenda prefere fazer o anúncio dos novos recursos apenas no fim do ano, para evitar que os empresários posterguem para 2010 investimentos que podem ser feitos este ano. Segundo o ministro, os empresários ainda não se deram conta do potencial de crescimento e de demanda da economia brasileira.
“Eu diria que os investimentos estão atrasados. Se olharmos a utilização da capacidade instalada, já estamos com 82%, 83%. Isto significa que é necessário retomar rapidamente os investimentos e aproveitar esta oportunidade, em que as taxas de juros estão mais baixas do que nunca”, disse o ministro da Fazenda ao Valor. “Este é o momento de fazer investimento, senão, no ano que vem, nós vamos ter que frear a economia por excesso de demanda”, argumentou Guido Mantega. (CR)
Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 05.11.2009
A Folha de São Paulo mostra a afirmação do Ministro da Fazenda, segundo o qual o Brasil “é objeto de desejo dos investidores”. O Ministro protesta contra a entrada em massa de capital estrangeiro no Brasil, ocasionada pela queda nas taxas de juros no 1º Mundo, onde os governos patrocinaram imensas injeções de dinheiro. Portanto, tais recursos procuram locais rentáveis para se reproduzir, razão pela qual procuram o Brasil, que oferece taxas de juros imensas, muitas vezes maiores que as taxas de juros dos países ricos. O Ministro acerta ao dizer que existe “uma massa de capitais que precisa de locais para aplicação”.
Além do mais, esta entrada em massa de dólares no país faz com que o Real se valorize, o que é bastante rentável ao capital especulativo, dado que, quando este quer retirar suas aplicações no Brasil (em reais) e retornar a seus países de origem, pode convertê-los em uma maior quantidade de dólares. Tudo isto pois o câmbio aqui é flutuante, ou seja, varia conforme a vontade dos especuladores, pois não há controle sobre o fluxo de capitais.
Sobre este tema, cabe ressaltar que causa estranheza o Ministro reclamar desta entrada em massa de recursos no país, após conceder e defender todas estas regalias ao capital externo: livre fluxo de capitais, câmbio flutuante, juros altos, oferta imensa de títulos da dívida pública, e abertura total do sistema financeiro ao exterior, estimulando que bilhões de dólares entrem no país em poucos dias para comprar ações de um banco transnacional que ganha rios de dinheiro aplicando na “dívida interna” brasileira.
Por outro lado, a China adota o controle de câmbio, ou seja, possui uma intervenção ativa nos fluxos de capitais, impedindo que os especuladores ditem a taxa de câmbio. Porém, ao invés de elogiar, o Ministro preferiu reclamar da política cambial chinesa, dizendo que “É difícil viver em um mundo em que há câmbio flexível para alguns países e para outros não”, e que não acredita que o mercado, por si só, resolva os desequilíbrios cambiais. Portanto, ao invés de criticar, o Ministro deveria é se inspirar na política ativa de controle sobre o fluxo de capitais feito pelo governo chinês.
O Valor Econômico e o Estado de São Paulo noticiam a aprovação, em primeiro turno na Câmara dos Deputados, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios, que limita o pagamento destes, por estados e municípios. Os Precatórios são créditos já decididos pela Justiça, devidos principalmente a servidores públicos. Os estados somente destinarão aos precatórios 1,5% de sua receita líquida (regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste) ou 2% (regiões Sul e Sudeste). No caso dos municípios, somente 1% (regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste) e 1,5% (regiões Sul e Sudeste).
E o pior: metade destes já escassos recursos terão se ser disputados pelos credores de precatórios em um “leilão de deságio”, ou seja, recebem primeiro aqueles que aceitarem maior desconto sobre sua dívida. Somente a outra metade será destinada aos credores em ordem cronológica, com prioridade para idosos e portadores de doenças graves. A PEC ainda precisa ser votada em segundo turno. O Senado também terá de confirmar as alterações feitas pela Câmara.
Enquanto isso, os estados e municípios que renegociaram suas dívidas financeiras com a União nos anos 90 continuam pagando, no mínimo, 13% de suas receitas, em benefício do setor financeiro. Porém, para os servidores públicos, tenta-se legalizar um verdadeiro calote.
Brasil vai propor que o G20 coordene controle cambial
Clóvis Rossi
Autor(es): CLÓVIS ROSSI
Folha de S. Paulo – 05/11/2009
Mantega ataca sistema cambial da China, na 1ª crítica brasileira ao modelo chinês
Ministro diz que taxação de capital externo em 2% está funcionando e que medida busca conter queda do dólar, não revertê-la
O governo brasileiro vai propor a seus pares do G20, na reunião deste fim de semana na Escócia, a discussão de mecanismos coordenados de controle dos desequilíbrios cambiais, que, na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ameaçam provocar o surgimento de uma nova bolha.
O desequilíbrio, ao menos no âmbito do grupo das 20 maiores economias do mundo, está dado pela excessiva desvalorização do dólar norte-americano e do yuan chinês e pela excessiva valorização das moedas de Brasil, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, conforme os cálculos que Mantega expôs ontem à Folha.
Tais desequilíbrios geram “o deslocamento de capitais para países emergentes que estão mais fortes e que são exportadores de commodities”, na medida em que aplicar recursos em dólares “não rende nada” por conta dos juros baixíssimos nos países ricos.
A análise de Mantega combina com várias outras que têm surgido nos últimos 30 ou 40 dias, a partir do momento em que a crise deu uma certa folga também na maioria dos países ricos, depois de ter sido bastante controlada nos emergentes.
No caso do Brasil, Mantega afirma que o país “passou pela crise a jato” e, por isso mesmo, “é objeto de desejo dos investidores”.
Mas os motivos pelos quais o mundo conseguiu sair do buraco estão agora provocando efeitos colaterais indesejáveis, na forma de “um excesso de liquidez decorrente das medidas anticrise” (redução dos juros e pacotes imensos de estímulo).
Há, portanto, conclui o ministro, “uma massa de capitais que precisa de locais para aplicação”.
Essa massa provocou o que Mantega considera um “overshooting”, uma excessiva valorização do real, que, por sua vez, levou à imposição de um imposto de 2% sobre capital que entra no Brasil.
Mantega acha que está funcionando, embora considere que é cedo para avaliação definitiva. De todo modo, mostrou à Folha um gráfico que apresentará hoje aos executivos britânicos e europeus aos quais falará em seminário para “vender” o Brasil. Nele, tanto a valorização do real como a da Bovespa aparecem contidas, mas não revertidas. Mantega afirma que o objetivo não era reverter, mas conter.
A taxação de capitais será apresentada aos ministros da Economia e presidentes de bancos centrais que se reúnem na sexta-feira e no sábado na Escócia. É uma das fórmulas para enfrentar os desequilíbrios cambiais, mas Mantega admite que “não há resposta fácil” para essa situação.
De todo modo, diz que, “se houver um conjunto de países que adote providências, haveria mais eficácia, até porque ninguém está interessado na formação de uma nova bolha”.
Ao citar o yuan chinês ao lado do dólar, o governo brasileiro está fazendo a primeira crítica à China desde que foi inventada a sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Mantega chega a citar estudo da firma financeira Goldman Sachs, já utilizado nesta Folha por Luiz Carlos Mendonça de Barros, para dizer que o real está sobrevalorizado em 50% em relação à moeda chinesa (e ao dólar, além de 45% em relação ao won sul-coreano).
A crítica é fechada com uma observação lógica: “É difícil viver em um mundo em que há câmbio flexível para alguns países e para outros não”, em evidente alusão à China que controla o seu câmbio de forma a mantê-lo praticamente colado ao dólar. Cai o dólar, como vem caindo no mundo todo, cai também a moeda chinesa, com o que a usina de exportações da China revela um vigor extraordinário.
O ministro diz que não é possível esperar que o próprio mercado corrija os desequilíbrios, como lhe sugeriram economistas que chama de “liberais”. Pode até acabar corrigindo em um dado prazo, “mas até lá acaba com a indústria brasileira”.
Plenário da Câmara aprova PEC dos Precatórios em primeiro turno
Autor(es): Mônica Izaguirre
Valor Econômico – 05/11/2009
A Câmara aprovou em primeiro turno, ontem à noite, proposta de emenda constitucional alterando regras de pagamento, por Estados e municípios, de dívidas decorrentes de sentenças judiciais contra as fazendas públicas. Por 328 votos a favor e 76 contrários, os deputados permitiram que parte dessas dívidas, os chamados precatórios, seja paga com desconto, por intermédio de leilões e, portanto, com quebra de ordem cronológica. Se passar também em segundo turno, o que é provável, a PEC irá ao Senado.
Pesou na decisão dos deputados a pressão de prefeitos e governadores de entes federativos endividados. Eles preferiam a versão que já tinha sido aprovada pelo Senado. Mas, diante das inconstitucionalidades apontadas pela Comissão de Constituição de Justiça da Câmara (CCJ), mobilizaram-se para apoiar a versão aprovada na semana passada pela comissão de mérito da Casa e que tomou por base PEC de autoria do deputado Guilherme Campos (DEM-SP). Apresentado pelo relator, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na forma de emenda aglutinativa global, na forma, o texto votado ontem é um pouco diferente. No conteúdo, porém, repetiu o da comissão. Com exceção das do P-SOL, do PDT e do PSC, as lideranças dos demais partidos pediram voto a favor.
Estimativas do próprio setor público indicam que os precatórios vencidos e não pagos representem hoje dívida superior a R$ 100 bilhões. Se, por um lado, permite leilões de desconto, de outro, o texto aprovado ontem vincula parte das receitas públicas ao respectivo pagamento. Para aqueles com dívida superior a 35% da receita líquida, a vinculação mínima é de 1,5%, para municípios e de 2% para Estados. Para os menos endividados, o percentual cai para 1% no caso dos municípios e para 1,5% no caso dos Estados.
As administrações públicas poderão destinar ao pagamento via leilão até metade dessa receita vinculada. A outra metade necessariamente terá que ser aplicada no pagamento por ordem cronológica, respeitadas as prioridades para precatórios de natureza alimentícia e, entre esses, aqueles pertencentes a credores com mais de 60 anos. No caso da parcela não vinculada à ordem cronológica, Estados e municípios poderão optar também por pagamento por ordem crescente de valor.
Uma alternativa é a adoção de um regime de 15 anos. Nesse caso, o percentual de vinculação de receita terá que ser o necessário para pagamento de toda a dívida pendente dentro desse prazo.
O calote confirmado
O Estado de S. Paulo – 06/11/2009
A Câmara modificou o projeto de emenda constitucional (PEC) que o Senado aprovou em abril, permitindo a Estados e municípios pagar quando quiserem as dívidas atrasadas com empresas e pessoas físicas, reconhecidas em sentenças judiciais de última instância – os chamados precatórios. Mas a nova versão, aprovada quarta-feira em primeiro turno por 328 deputados, apenas 20 a mais do que o quórum mínimo de 3/5 dos votos exigidos para alterações constitucionais, não é menos indecente do que a original, ao ratificar na sua essência o princípio do calote, promovido a “ferramenta permanente de gestão pública”, conforme a avaliação irrefutável da Ordem dos Advogados do Brasil
Tanto que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que em ambas as votações liderou o lobby de seus pares pela “legitimação do calote”, nas palavras do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), deu-se por satisfeito com o desfecho. “O texto aprovado”, declarou, “está bastante consensual” – decerto “na ótica dos governantes e não da cidadania”, como diz Alencar. A Prefeitura paulistana deve R$ 14 bilhões em precatórios vencidos. No País inteiro, estima-se que o estoque desses débitos já ultrapassa R$ 100 bilhões, ou cerca de 20% das receitas estaduais e municipais. É um escândalo continuado. A Carta de 1988 deu ao poder público oito anos para pagar os seus precatórios, fossem eles alimentares (em geral salários, pensões e aposentadorias), relativos a desapropriações, ou por obras e serviços executados.
Em 2000, o Congresso premiou os inadimplentes com mais 10 anos de prazo. Se a PEC do Calote for definitivamente aprovada nos termos atuais, o prazo será de 15 anos no mínimo – e ilimitado. Limites, só para o cumprimento das decisões judiciais: para todos os efeitos práticos, o desembolso não excederá a 2% das receitas líquidas anuais (no caso dos Estados) ou 1,5% (no dos municípios). As dívidas deixarão de ser corrigidas, como estipula a Constituição, por uma fórmula que combina inflação mais juros de 12% ao ano. Quando a emenda for sancionada, a correção passará a ser feita pela variação da TR mais 0,5% ao mês, como nas cadernetas de poupança. A alteração beneficia os entes devedores. Eles também ficarão livres do risco de bloqueio dos seus recursos em caso de não-pagamento.
Em cada exercício, governadores e prefeitos terão a prerrogativa de saldar metade dos seus débitos por meio de leilões ou “câmaras de conciliação” (sic). Dessas modalidades participarão os credores que aceitem, como último recurso, receber apenas uma fração do que lhes cabe, para não esperar uma eternidade pelos valores a que têm direito líquido e certo. Os outros 50% serão pagos em ordem cronológica – o que a Constituição previa para todos os precatórios -, respeitadas as prioridades para os precatórios de natureza alimentar e, entre esses, para os credores com mais de 60 anos. Para os caloteiros, o melhor dos mundos era o do texto que vingou no Senado. Mas a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara flagrou naquela versão diversas provisões inconstitucionais.
Uma delas previa que 40% dos recursos anuais para a quitação dos débitos seriam destinados a pagamentos de precatórios em ordem crescente. Isso permitiria aos devedores quitar valores menores antes dos outros, modificando, em consequência, a posição dos credores na fila original – uma rematada violência. Em seu lugar foi adotado o esquema de 50%-50% acima referido, que doura a pílula. Outra inovação, acrescida à proposta pelo relator Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cria uma espécie de mercado paralelo de precatórios, ao autorizar os credores a transferir parte ou todos os seus direitos a terceiros.
O parecer foi aprovado pela maioria dos deputados de ambos os lados da divisa entre governo e oposição, do PT ao DEM. Ainda assim, 76 parlamentares votaram contra a enormidade, repelida formalmente pelo PSOL, o PDT e o PSC. (Quatro deputados se abstiveram e uma centena deles se ausentou.) Fosse o Brasil um país em que os eleitores se interessassem em saber o que fazem os seus representantes, os políticos que patrocinaram mais esse ato de lesa-cidadania correriam o sério risco de receber o troco nas urnas. Mas, sendo as coisas como são, sobra para os prejudicados.
Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 04.11.2009
O Jornal Folha de São Paulo traz artigo de três deputados federais integrantes da CPI da Dívida, sobre os altos juros cobrados pelos bancos, o que limita o crescimento do país. Segundo os autores, um dos determinantes para isso é a concentração bancária no país, que reduziu em 32,2% o número de bancos nos últimos 11 anos. “Em 2008, havia no país 156 instituições bancárias, enquanto a Alemanha registrava 2.130 bancos, e os Estados Unidos, 7.282 bancos”, dizem os autores.
Outro fator que induz os bancos nacionais a não emprestarem ao setor produtivo, segundo os 3 deputados, é a dívida pública, destino de grande parte dos recursos dos bancos, que assim auferem os ganhos sem risco da taxa de juros Selic, o “que tem levado os bancos à acomodação”.
Porém, no artigo, nenhum dos três autores faz referência à CPI da qual fazem parte, que está investigando exatamente os impactos da dívida pública sobre o desenvolvimento do país.
Por fim, o Jornal do Brasil traz artigo equivocado, que prega o corte de gastos sociais para que o país possa reduzir a dívida pública. Segundo os autores, a dívida tem aumentado devido a um suposto crescimento dos gastos sociais. Porém, cabe ressaltar que o aumento da dívida nada tem a ver com os gastos sociais, visto que o país continua fazendo superávits primários, ou seja, o verdadeiro causador do déficit nas contas públicas é o gasto com a dívida. Na realidade, a dívida brasileira tem explodido devido às altas taxas de juros e à recente política de acumulação de reservas cambiais, por meio da emissão de títulos da dívida interna.
Uma dívida do sistema bancário com o Brasil
Autor(es): CLÁUDIO VIGNATTI, RICARDO BERZOINI e PEDRO EUGÊNIO
Folha de S. Paulo – 04/11/2009
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Os “spreads” cobrados pelos bancos no Brasil têm sido um dos fatores limitantes do crescimento do nosso país
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OS “SPREADS” cobrados pelos bancos têm sido um dos fatores limitantes do crescimento -dificultam o acesso ao crédito e inibem o consumo e o investimento.
No contexto da crise, o governo tomou diversas medidas para ampliar a oferta de crédito e reduzir a inadimplência. Entre outras, a liberação de depósitos compulsórios, a aprovação da nova Lei de Falências, a criação da cédula de crédito bancário e a padronização das tarifas e do custo efetivo total. Apesar disso, as margens bancárias para o crédito livre insistem em manter-se em patamares elevados, contrariamente ao que ocorre com o crédito direcionado (habitacional, rural e crédito do BNDES).
A prática de margens altas impede a inclusão de grande número de brasileiros ao mercado de consumo, que necessita de financiamento bancário.
Por outro lado, as pequenas e médias empresas são penalizadas com os altos custos para financiar capital de giro e capital fixo. Com isso, reduz-se a capacidade de investir.
A incapacidade dos bancos brasileiros de operar com “spreads” reduzidos, compatíveis com as necessidades de consumidores e empresas e com padrões internacionais, mostrou-se evidente na crise financeira global.
O aumento da percepção de risco e da disputa por crédito acarretou aumento dos custos do crédito, a despeito da recente redução das taxas de juros básicas promovida pelo Copom do Banco Central. Os “spreads” subiram, em média, sete pontos percentuais entre setembro e dezembro. Para as empresas, esse aumento foi particularmente desastroso.
Segundo o Banco Central, o desconto de promissórias, que, em janeiro de 2008, apresentava taxa de 40,7% anual, subiu em dezembro do mesmo ano para 55,7% ao ano. As linhas de crédito para capital de giro tiveram um incremento de 17,6% para 25,3% ao ano.
Esse aumento do custo do dinheiro para as empresas afetou os níveis de emprego e renda nacionais.
Estudo do Ipea constatou que, desde o início da década de 1990, crescem a concentração bancária e a presença do capital estrangeiro. Em 12 anos (1996-2008), a participação dos 20 maiores bancos no total de ativos aumentou mais de 20 pontos percentuais, de 72% para mais de 92%.
A concentração bancária no Brasil acarretou redução de 32,2% no número de bancos em operação nos últimos 11 anos. Em 2008, havia no país 156 instituições bancárias, enquanto a Alemanha registrava 2.130 bancos, e os Estados Unidos, 7.282 bancos.
Isso ocorreu ao mesmo tempo em que houve expressivo aumento da população brasileira, inclusive de pessoas em idade para acesso aos serviços bancários. Até a década de 1980, havia, para cada agência, em média, 8.000 brasileiros. A partir de 1990, a relação de brasileiro por agência subiu para mais de 10 mil pessoas.
As razões que levam os bancos brasileiros a operar com “spreads” altos não se esgotam nas mudanças que implicaram maior concentração e redução da competitividade no setor. Outro fator a considerar é a indexação de títulos à taxa Selic, que tem levado os bancos à acomodação.
Seus depósitos são remunerados a taxas bastante atraentes e sem nenhum risco. Com isso, não se interessam por aumentar o volume de crédito.
A sociedade brasileira está à espera de medidas que possam inibir a voracidade dos bancos com os “spreads”.
Dado que o órgão regulador, o Banco Central, não tem tido sucesso em reduzir os “spreads”, o Congresso Nacional resolveu debater um projeto de lei (nº 5.258/09) que estabelece um sistema de metas para a margem bancária. O relator é o deputado Júlio Cesar (DEM-PI).
O projeto prevê que as instituições financeiras que atuam no Brasil passem a operar associadas ao atendimento ou não de metas de incentivo e a penalidades de natureza financeira ou tributária. Com isso, espera-se contribuir com mecanismos indutores de competição em um mercado bancário altamente concentrado, de baixa competitividade.
Essa iniciativa se soma aos esforços do governo, de setores da indústria e do comércio, dos trabalhadores, enfim, da sociedade brasileira, para superar a crise e promover o desenvolvimento com inclusão social.
Contas públicas: desafio do governo é o corte de gastos
Jornal do Brasil – 04/11/2009
Com meta de superávit primário (resultado antes de pagamento dos juros da dívida) em 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2010, o governo precisará aumentar a arrecadação e reduzir custos para ultrapassar os atuais 1,2%, na avaliação de economistas.
Há basicamente duas saídas para o problema dos gastos: emitir moeda, o que aumenta a liquidez, ou criar mais dívida, que tem sido o caminho adotado.
– O governo está gastando mais do que arrecada. Isso é inadequado porque a economia já está em recuperação e pode haver pressões inflacionárias no médio prazo (dois anos) – ressalta o professor da Fundação Getúlio Vargas e economista Antonio Carlos Porto Gonçalves.
O setor público consolidado brasileiro, que reúne as contas do governo central (Tesouro Nacional, INSS e BC), registrou déficit primário de R$ 5,763 bilhões em setembro, pior resultado para o mês da série histórica iniciada em 2001.
– A piora foi tão intensa que, mesmo sem contar o pagamento de juros, houve déficit das contas por causa da baixa arrecadação e aumento dos gastos, principalmente com o aumento do funcionalismo público – destaca o analista econômico da Mercatto Gestão de Recursos, Gabriel Goulart.
O professor de economia do Ibmec-RJ Marco Aurélio Cabral defende que é preciso melhorar a qualidade dos gastos, implementando os projetos planejados, e realizar a reforma tributária para aumentar a formalização dos negócios em alguns setores da economia, como a pecuária.
– O governo também precisa intensificar a fiscalização sobre as grandes empresas, principalmente os bancos. O importante é que o PIB cresça mais que a dívida – apontou Cabral.
O analista da Mercatto Gestão de Recursos observa que há quedas de receita reversíveis a prazo relativamente curto: a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis, por exemplo, cairá gradualmente de outubro e janeiro.
– A proximidade das eleições é um fator que também incentiva o aumento dos gastos públicos – acrescenta Gonçalves.
O analista da Mercatto explica que o o superávit primário foi uma métrica adotada no Brasil em 1998, depois da crise da Rússia, para obter recursos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 03.11.2009
O Jornal do Brasil de sábado divulga um estudo da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, que mostra o custo da enorme acumulação de reservas internacionais pelo país. O estudo confirma os recentes comentários desta seção, de que a compra de dólares tem sido a maior causa de aumento da dívida pública. Isto porque o Banco Central compra a moeda americana pagando-as com títulos da dívida interna, através das chamadas “operações compromissadas”, ou “operações de mercado aberto”. Tais operações aumentaram fortemente desde 2005, passando de 1,7% do PIB no final de 2005 para 15% em agosto de 2009.
O estudo também mostra que o acúmulo de reservas possui outro componente que gera prejuízo ao país: a desvalorização do dólar, que reduz o valor em reais desta montanha de reservas, gerando imenso prejuízo às contas públicas. Enquanto isso, as reservas rendem muito pouco, pois são aplicadas em títulos do Tesouro Americano. O estudo também atribui a enxurrada de recursos externos no país às altas taxas de juros brasileiras.
Por outro lado, alheia a este processo, a Revista Época atribui o aumento da dívida a uma suposta “gastança” com servidores públicos e com a Previdência Social. O artigo propõe a reforma da Previdência como solução, e mostra a opinião do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, segundo o qual a causa dos juros altos é o excesso de gastos sociais, e não a política do Banco Central. Como se o país não estivesse cortando severamente os gastos sociais para manter a política de superávits primários, ou seja, a reserva de recursos para o pagamento da dívida. Ou seja: na visão da revista, o país deveria cortar ainda mais gastos sociais para que a dívida e a taxa de juros caia.
Nada mais equivocado.
Por fim, a Revista Istoé Dinheiro traz reportagem sobre a explosão da dívida americana, feita para salvar o sistema financeiro. O déficit público dos EUA aumentará de 3,2% do PIB no ano passado para 11,2% em 2009, enquanto a dívida pública dá um salto absurdo, de 40,8% do PIB em 2008 para 61,4% em 2010. Resta saber como esta dívida será financiada. Uma parte da resposta já foi dada em edições anteriores desta seção: por meio dos países mais pobres, como por exemplo, o Brasil, que aplica em títulos dos EUA as reservas cambiais compradas por meio de endividamento interno caríssimo. Ou seja: o povo brasileiro paga para salvar os bancos falidos dos países ricos.
Um xeque à administração das reservas adotada pelo BC
Autor(es): Da Redação
Jornal do Brasil – 01/11/2009
RIO DE JANEIRO – A eficácia da manutenção da política do Banco Central de comprar dólares em operações compromissadas, com paralelo aumento das reservas internacionais do Brasil, está sendo posta em xeque pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, órgão técnico que tem função de função de subsidiar os parlamentares da casa em todas as fases do processo legislativo.
O estudo da consultoria da Câmara, elaborado pelos técnicos Marcelo Barroso Lacombe (coordenador), Aurélio Guimarães Cruvinel e Palos e Murilo Rodrigues da Cunha Soares, em consonância com declarações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles a respeito da atualização das normas brasileiras relativas ao câmbio, levanta a possibilidade de que o tributação do capital externo em renda fixa e ações seja apenas um primeiro round de mudança na legislação brasileira.
A análise destaca que, no fim de 2005, as operações compromissadas somavam 1,7% do PIB, passando a quase 15% em agosto de 2009 e que “não por coincidência, a partir de 2006, o ritmo de acumulação de divisas internacionais mudou de patamar”.
”No fim de 2005, o montante das reservas cambiais, pelo conceito de liquidez, correspondia a 6% do PIB. Desde então, essa razão vem crescendo continuamente, atingindo, após breve recuo em 2008, quase 16% em setembro de 2009”. Em subsídio à leitura, o estudo explica que operações compromissadas são aquelas em que ocorre compra de ativo financeiro à vista, concomitante ao compromisso de sua revenda em data futura, ou uma venda à vista, paralela ao compromisso de sua recompra em data futura.
Embora ressalvando que o elevado nível de reservas acumulado a partir de 2006 tenha sido importante na superação da fase mais difícil da crise internacional, a última análise de conjuntura elaborada pelos especialistas da Câmara cita questionamentos quanto à conveniência de se manter a acumulação de reservas internacionais por meio de operações compromissadas em vista de dúvidas sobre se garantiriam a solidez financeira do país e manter a valorização do real sob controle.
Isto porque a continuidade da desvalorização do dólar derreteria o valor das reservas brasileiras, aumentando a dívida líquida do governo, ao mesmo tempo em que, um possível aumento das operações compromissadas do BC tem um custo muito elevado: “As reservas externas concentram-se em títulos da dívida americana com vencimento em até cinco anos, cujas taxas caíram significativamente nos últimos meses. Cerca de 20% desses títulos detidos pelo BC vencem em menos de doze meses e rendem menos de 0,5% ao ano”.
As operações compromissadas, segundo a análise, custam taxa Selic (8,75% ao ano) ao BC brasileiro. E a diferença entre juros internos e externos gera um gravame elevado que tem contribuído para ampliar a dívida bruta do governo: “De 2008 para cá, a dívida bruta do governo geral em proporção do PIB já cresceu impressionantes 10 pontos percentuais, atingindo 66,56% em agosto de 2009, em grande parte pela aceleração do ritmo de crescimento das operações compromissadas, na tentativa de conter a desvalorização do dólar diante do real”.
A análise de conjuntura elaborada pelos técnicos da Câmara, depois de destacar que a valorização do real e a enxurrada de recursos externos que afluem ao país, em vista do alto percentual da Selic face aos demais juros internacionais, tende a reduzir a competitividade externa da economia nacional e a deprimir o saldo das transações correntes.
É sob esse quadro que o estudo sugere que a adoção de IOF seria apenas um primeiro round de novas medidas, tendo-se em vista que o modelo macroeconômico em vigor (meta de inflação, câmbio livre e superávit primário) será duramente testado com as condições do pós crise.
Destacam ainda os técnicos da Câmara que, mesmo os apoiadores consideram o IOF de 2% um primeiro passo no sentido de se evitar o derretimento do dólar, vendo como meritório o afastamento de investidores de curtíssimo prazo,. Isto porque a tributação impõe uma “quarentena” (que outros estudos estimam em 84 dias) para retorno do capital. Entretanto, destacam que opositores da medida apontam a inocuidade da medida tendo em vista os múltiplos estratagemas sempre idealizados pelo mercado para burlar a limitação.
E citam sugestões de uma tributação com escopo mais geral, alcançando outras operações de ingresso de moeda estrangeira.
“Alguns recomendam a constituição de fundos soberanos especiais, que permitam a utilização dos dólares diretamente no exterior, sem a conversão em reais”.
A necessidade torna-se mais palpável, segundo a análise, tendo-se em vista que a arrecadação federal não reage a despeito da melhora do ambiente econômico – somente em setembro, houve perda nominal de 7,4% em relação a 2008. “Realmente, tempos de crise são difíceis para as administrações tributárias” conclui o estudo.
O presidente Lula e a era da gastança
Autor(es): JOSÉ FUCS
Época – 03/11/2009
As contas públicas revelam que o governo está mudando de estilo. Sai o conservadorismo fiscal, entra a multiplicação de gastos
O CUSTO DA VITÓRIA
Lula comemora o início das obras do PAC na Favela de Manguinhos, Rio de Janeiro. Os investimentos federais ajudaram a conter a crise, mas estão desestabilizando as contas públicas
O estilo conservador de administrar as contas públicas calou a boca dos críticos de Lula e rendeu ao presidente o respeito dos grandes financistas internacionais, mas parece estar saindo de moda. Embora Lula tenha proclamado em outubro que fez “o maior ajuste fiscal da história”, a declaração faz mais sentido em relação a seu primeiro mandato e aos dois primeiros anos do segundo. Basta olhar as contas do governo para perceber uma mudança dramática nos rumos da economia. O governo está gastando como nunca.
Entre analistas financeiros do exterior, essa percepção não predomina. “O presidente Lula é o melhor, o mais bem-sucedido gestor político de um grande país na década”, afirmou o financista Jim O’Neill, do Goldman Sachs, um dos maiores bancos americanos de investimento, inventor da sigla Bric (referindo-se a Brasil, Rússia, Índia e China), durante sua passagem por São Paulo, no mês passado.
Para os analistas locais, o deslumbramento já não é o mesmo. Muita gente teme que o tremendo esforço fiscal empreendido desde a implantação do Plano Real, em 1994, esteja em xeque. Só nos nove primeiros meses de 2009, as despesas totais do governo federal aumentaram 16%, já descontada a variação da inflação, em relação ao mesmo período do ano passado. Passaram de R$ 306,8 bilhões para R$ 356,1 bilhões. Além de multiplicar os gastos, o governo gastou mal. Em vez de investir em obras de infraestrutura ou aplicar em educação e em saúde, comprometeu boa parte do dinheiro com a contratação de funcionários públicos e outras despesas correntes, que se incorporaram em definitivo ao orçamento.
Nos sete anos da gestão de Lula, já foram contratados 88 mil servidores civis pelo governo federal, de acordo com dados do Ministério do Planejamento. Os mais de meio milhão de servidores federais da ativa tiveram também aumentos generosos de rendimentos, a ser pagos de forma escalonada até 2012. Segundo projeções da Tendências, empresa de consultoria econômica e financeira que tem o ex-ministro Mailson da Nóbrega e o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola como sócios, o sucessor de Lula assumirá com uma conta de R$ 63,8 bilhões a vencer em decorrência dos compromissos assumidos por Lula com o funcionalismo, uma das principais bases de apoio do PT em todo o país. Em 2010, o governo prevê que os gastos com os servidores civis da ativa ficarão acima de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), repetindo o que já aconteceu em 2009, pela primeira vez desde 1995. No ano que vem, os gastos com a folha de pagamentos deverão subir 9,2%, apesar de a inflação estimada para o período ser de 4,4%. No início de 2007, o governo chegou a enviar um projeto ao Congresso para limitar os aumentos dos servidores em 1,5% acima da inflação ao ano, mas ele mesmo nunca aplicou esse índice aos servidores. “É preciso parar com a mania de achar que contratar gente para o Estado brasileiro é inchaço da máquina”, diz Lula. “As pessoas passaram a ideia de que é possível fazer um choque de gestão diminuindo o número de pessoas que trabalham, quando, na verdade, o choque de gestão vai ocorrer quando contratarmos gente mais qualificada e mais bem remunerada.”
O aumento dos gastos seria problema suficiente em tempos de economia normal. Agora, é pior: o governo está sofrendo uma queda das receitas. A crise afeta a arrecadação pelos dois lados. Primeiro, pela retração na atividade econômica. Menos dinheiro na economia significa menos impostos. Em segundo lugar, o governo decretou medidas de desoneração fiscal para estimular os negócios. Na semana passada, o governo anunciou o prolongamento da redução tributária para produtos da linha branca, como fogões e geladeiras, até o final de janeiro. Em outubro, a arrecadação caiu pelo décimo mês consecutivo, para R$ 489 bilhões. A queda alcança 7,8% de janeiro a setembro em relação ao mesmo período de 2008.
A dúvida é se o hábito de gastar voltou para ficar ou se foi apenas efeito passageiro da crise mundial
Além disso, em vez de fazer a reforma da Previdência, o governo aumentou os gastos com o pagamento de benefícios. Elevou o salário mínimo, que indexa boa parte dos benefícios da Previdência, a uma taxa de quase três vezes a variação da inflação desde 2003, com impacto dramático no déficit da Previdência. Enquanto o salário mínimo subiu 132,7% desde o final de 2002, a inflação medida pelo IPCA ficou em 59,2% no período. Resultado: o déficit mensal passou de R$ 4,8 bilhões em agosto de 2008 para R$ 5,2 bilhões no mesmo mês de 2009.
O desequilíbrio atual do orçamento não chega a gerar temor de insolvência – longe disso. Mas provocou uma reação em cadeia nas finanças públicas. O superávit sprimário (a poupança feita pelo governo para pagar os juros da dívida pública) despencou, de 4,07% do PIB em 2008 para 1,56% neste ano, de acordo com a revisão aprovada pelo Congresso Nacional em setembro. O orçamento de 2009 previa superávit de 3,8% do PIB. Para 2010, a previsão é de 3,3%, mas ninguém se atreve a garantir que o governo vai cumpri-lo, principalmente num ano de eleições presidenciais. O peso da dívida pública no PIB deverá aumentar dos 36,7% de 2008 para algo entre 43,3% e 44,2%, segundo estimativas do Banco Central. “O Brasil aproveitou a crise para mudar sua política fiscal”, diz o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. “Não vai ser fácil voltar aos superávits anteriores. A arrecadação pode subir mais rapidamente, mas os gastos cresceram muito e será mais difícil retornarem aos níveis recentes.”
O governo não desistiu de cumprir a meta revisada de superávit fiscal, com medidas que em geral jogam a conta para nós, os contribuintes. O melhor exemplo foi a decisão do Ministério da Fazenda de adiar a restituição do Imposto de Renda das pessoas físicas, abortada há duas semanas por determinação do presidente Lula, que temia o impacto negativo da medida. O governo também deverá deduzir investimentos realizados pelo PAC e no programa Minha Casa, Minha Vida das despesas totais, para fazer a conta fechar. E há ainda a chance de Brasília se empenhar na criação de novos tributos, como a nova CPMF, rebatizada de Contribuição Social para a Saúde (CSS), apesar de a carga tributária já estar hoje na faixa de 36% do PIB.
Mesmo com esses problemas, o Brasil não está mal, em relação a outros países. A bem-sucedida estratégia do governo Lula para conter os efeitos da crise global – com reduções de impostos e investimentos – teve um custo baixo, se comparado ao de outras economias. O Brasil deverá fechar o ano com uma taxa de crescimento de zero ou quase zero. Em tempos normais, seria uma catástrofe. Em meio à maior crise desde a Grande Depressão nos anos 30, é uma vitória. E o país já parece ter voltado aos eixos. No segundo trimestre, cresceu 1,9%, o equivalente a quase 8% ao ano.
Mas, como sabe qualquer dona de casa, todo aumento de gastos tem consequências no bem-estar das pessoas. Em um recente relatório de inflação, o BC expressou preocupação com o impacto que a prodigalidade do governo poderá ter na inflação e, consequentemente, nos juros. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, chamou a análise de “terrorismo fiscal”. Seu chefe, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse: “Quem está falando em aumento de inflação está especulando para aumentar os juros”. O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, respondeu que o Banco Central está “confortável com a previsão”.
Fora da disputa entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central, muitos economistas trabalham com a hipótese de os juros voltarem mesmo a subir acima dos 10% ao ano até o final de 2010, para conter uma eventual aceleração da inflação. A inflação poderá dar um soluço, passando de 4,2% neste ano para pouco mais de 4,5% em 2011, segundo previsão dos analistas consultados pelo BC. Mas ninguém espera uma hecatombe, até porque ainda há uma capacidade ociosa razoável nas indústrias. “Se os juros subirem, a culpa será do ministro. O problema é a política fiscal, não o Banco Central”, diz o economista Gustavo Franco, ex-presidente do BC.
Levando em conta o passado de irresponsabilidade fiscal do país, o novo ímpeto gastador do Estado traz preocupação, principalmente pelo que significa para o futuro. No mundo inteiro já se começam a discutir o problema fiscal e um cronograma para o fim das medidas de estímulo à economia adotadas durante a crise. O G20, grupo que reúne os principais países desenvolvidos e emergentes, decidiu recomendar sua manutenção. Mas não por muito tempo. A discussão não é mais se os gastos devem ou não ser cortados, mas quando fazê-lo. “A crise fez do pecado de gastar uma virtude redentora”, diz Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda. “Ela legitimou o arquivamento da receita de (Antônio) Palocci (primeiro ministro da Fazenda de Lula) para aumentar o superávit primário e zerar o déficit público.”
No Brasil, a dúvida hoje é se o hábito de gastar voltou para ficar ou se foi só efeito passageiro da crise. Até agora Lula sempre esteve do lado da racionalidade monetária. Agora, com a crise, a proximidade das eleições, o respeito internacional que adquiriu, a oportunidade do pré-sal e a necessidade de impulsionar a candidatura de Dilma Rousseff, questiona-se se ele seguirá outro rumo. Uma eventual saída de Henrique Meirelles, presidente do BC, para concorrer a uma vaga no Senado por Goiás, pode facilitar a virada. “Vamos deixar a melhor condição possível para o próximo governo”, diz o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Há motivos, porém, para o próximo presidente se preocupar. A expansão dos gastos correntes, combinada com a queda de receita, deixará como herança um quadro difícil, com um orçamento engessado por compromissos assumidos pelo governo atual, sem espaço para ampliar investimentos em infraestrutura e com risco de desordenamento nas contas públicas e de repique da inflação e dos juros. O aumento dos gastos de custeio da máquina também afeta a capacidade de investimento do governo.
O desequilíbrio no orçamento
Como surgiu o atual problema nas contas públicas, os efeitos que ele provoca na economia do país e as tentativas do governo de cobrir o rombo no caixa
Esse almoço não sairá de graça
Autor(es): Denize Bacoccina
Isto é Dinheiro – 03/11/2009
A economia americana, enfim, voltou a crescer. Mas agora um outro desafio se impõe: o de gerir uma dívida do tamanho do PIB
Depois do banquete: Barack Obama liberou trilhões para o resgate dos bancos, mas terá de gerir uma dívida de US$ 15 trilhões
Garçom, a conta: Timothy Geithner, do Tesouro, e Ben Bernanke, do Fed, não decidiram se é hora de retirar os estímulos
A quinta-feira 29, trouxe a notícia mais desejada dos últimos meses: a recessão acabou nos Estados Unidos, onde a economia cresceu 3,5% no terceiro trimestre. A notícia é boa, sem dúvida, mas ainda é cedo para comemorar o fim da crise.
A retomada do crescimento foi estimulada pelo consumo, com alta de 22,3% na compra de bens duráveis, como veículos. Que foram vendidos dentro do programa Carro Por Sucata, com um bônus para quem trocasse o carro usado por um novo.
A má notícia é que o programa já acabou e o desempenho não deve se repetir neste trimestre. “Já avançamos muito, mas ainda temos um longo caminho para restaurar nossa economia”, disse o presidente Barack Obama. E o fato é que a conta está chegando. Após liberarem US$ 1,3 trilhão para resgatar bancos, é alta a fatura que está sendo entregue ao presidente Obama, ao presidente do Federal Reserve Ben Bernanke e ao secretário do Tesouro, Timothy Geithner.
Afinal, como dizia Milton Friedman, não existe almoço grátis. Na previsão mais conservadora, do Congresso, o déficit público passa de 3,2% no ano passado para 11,2% este ano. A proporção da dívida pública em relação ao PIB salta de 40,8% no ano passado para 61,4% no ano que vem. Mas o Fundo Monetário Internacional já fala numa dívida de até 100% do PIB.
“Na emergência, os americanos aceitaram uma deterioração muito forte nas contas públicas e terão que administrar isso durante muito tempo”, diz o economista Fernando Sampaio, da LCA. Déficits não são novidade na economia americana. Eles apareceram ainda no primeiro mandato do presidente George W. Bush e se agravaram com as guerras. A diferença é que antes eles existiam num cenário de forte crescimento econômico e absoluta confiança na moeda americana. Hoje, com o crescimento fraco esperado para os próximos meses, essa confiança já começa a ser questionada.
“Eles estão ficando parecidos com o Brasil dos anos 80”, diz o economista Paulo Guedes, fazendo referência à época em que o País deu calote. Pode ser exagero, mas há alguns anos ninguém ousaria tal comparação.
O economista- chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, acha que, apesar da situação precária das finanças públicas americanas, a dependência do dólar ajudará a sustentar a moeda americana. “O risco existe, mas o volume de dólares e títulos do Tesouro nas mãos de outros países é tão grande que ninguém vai se arriscar a mexer com isso”, diz ele.
Eric Fonseca, gestor da New Foundland Capital Management, diz que ainda não existem pressões inflacionárias, mas já percebe no mercado sinais de aumento da taxa de juros de longo prazo nos EUA. “Em algum momento, eles terão de elevar o rendimento dos papéis do Tesouro”, diz ele. Se houve um consenso sobre a necessidade de pacotes para estimular as economias, a preocupação agora é com o momento da retirada desses estímulos.
Na terça-feira, a Noruega subiu a taxa de juros, de 0,25% para 1,5%. Foi o primeiro na Europa. Nos EUA, os planos de resgate foram bilionários. O Federal Reserve tem em mãos cerca de US$ 900 bilhões em hipotecas e um dilema. Se vender os ativos com prejuízo, vai ouvir chiadeira do contribuinte.
Se vender com lucro, as reclamações partirão dos clientes e dos bancos privados. E se a economia não mantiver o ritmo, o presidente Obama terá que pedir mais dinheiro ao Congresso, dificilmente contando com a mesma boa vontade dos republicanos. É aí que a aposta no fim da recessão pode se revelar precipitada.