As reuniões secretas trimestrais do Banco Central com banqueiros

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O Jornal Valor Econômico noticia a reunião secreta trimestral de diretores do Banco Central com “economistas do mercado financeiro”, que serve para preparar o Relatório de Inflação, usado pelo COPOM nas reuniões que decidem sobre a taxa de juros. Não há informações públicas sobre estas reuniões, sendo que os nomes de seus participantes só foram revelados graças a um requerimento de informações da CPI da Dívida na Câmara dos Deputados, ocorrida em 2009/2010.

Conforme mostrado nas págs 127 a 132 da Análise Preliminar nº 6 da CPI (capítulo sobre a Dívida Interna, disponível aqui), a maioria esmagadora dos participantes dessas reuniões é formada por economistas-chefe de bancos ou de Fundos de Investimento, ou seja, representam interesses de rentistas, interessados em altas taxas de juros.

A notícia do Valor Econômico de hoje mostra que há um consenso entre estes participantes de que o nível da atual Taxa Selic (13,75% ao ano) é adequado para o país, para combater a inflação, ignorando que a alta de preços decorre de preços administrados pelo próprio governo (combustíveis, energia, etc) e preços de alimentos, que não se reduzem com a alta de juros. Um dos participantes alertou ainda que a “perda de força da âncora fiscal” pode gerar inflação, ou seja, dizendo que o governo estaria gastando demais com as áreas sociais e por isso teria manter os juros altos.

Enfim, são ideias como estas que são repetidas nestas reuniões secretas com representantes de banqueiros, influenciando o Banco Central em suas decisões sobre taxa de juros. O que só reforça a ilegitimidade de grande parte da “dívida interna”, cujo principal fator de crescimento tem sido as altíssimas taxas de juros, estabelecidas sob critérios absolutamente questionáveis.