Brumadinho: três anos de um crime

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“Se o passado não tem nada para dizer ao presente, a história pode permanecer adormecida, sem incomodar, no guarda-roupa onde o sistema guarda seus velhos disfarces. O sistema esvazia nossa memória, ou enche a nossa memória de lixo, e assim nos ensina a repetir a história em vez de fazê-la. As tragédias se repetem como farsas, anunciava a célebre profecia. Mas entre nós, é pior: as tragédias se repetem como tragédias.’’    Eduardo Galeano

Hoje, 25/01/2022, completa-se três anos de mais uma tragédia que se repetiu como tragédia: o rompimento da barragem de Brumadinho. O desastre ocorrido em Mariana há seis anos, pouco serviu para evitar assassinos “mares de lama’’. A reincidência de crimes ecológicos envolvendo o rompimento de barragens de rejeitos ligados à privatizada Vale S.A. e outras corporações é alarmante. O limbo no qual o processo de luta por justiça social se encontra revela a impunidade, a desvalorização de vidas humanas, do ecossistema devastado, e o desmonte: apenas 14 servidores fiscalizam as mais de 350 barragens em Minas Gerais.

Os atores responsáveis pela exploração predatória das riquezas naturais e a geração de danos ambientais e sociais irreparáveis, embolsam lucros exorbitantes e são devedores de dívida ecológica e social.

No caso de Brumadinho, enquanto os problemas econômicos, sociais e ambientais decorrentes do crime ocorrido há 3 anos se ampliam, as reparações se arrastam. Não faltam denúncias de fake news, assédio moral dos membros das resistências locais, articulações com os poderes constituídos. Recentemente, o caso da Vallourec mostrou o imenso poder das mineradoras sobre os órgãos públicos, colocando toda a população e o meio ambiente em risco.

De acordo com o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), do montante de R$ 54 bilhões pedido nas ações de reparação dos danos, a Vale deve pagar apenas R$ 37 bilhões, mas parte do valor será transferido para o governo de Minas Gerais “investir em obras que nada têm a ver com a reparação do crime de Brumadinho. É o caso do Rodoanel, que levou R$ 4,4 bilhões do acordo e irá criar novos atingidos ou atingir novamente famílias no trecho em que a obra será executada.

O descaso com as vidas humanas é flagrante: das 270 vítimas fatais do rompimento da barragem, seis ainda não foram encontradas, e os impactos à saúde são impressionantes: contaminação por metais pesados; transtornos psicológicos; aumento do consumo de remédios controlados (cresceu 31,4% em relação a 2018), e tentativas de suicídio (aumentou em 540%).

É urgente cobrar a Dívida Ecológica!