Banco Central vai continuar subindo a taxa de juros (Selic) sob a falsa justificativa de “combater a inflação”, agora provocada pela Guerra?

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Banco Central vai continuar subindo a taxa de juros (Selic) sob a falsa justificativa de “combater a inflação”, agora provocada pela Guerra?

Rodrigo Ávila – Economista da Auditoria Cidadã da Dívida

3/3/2022

Nestes últimos dias, jornais da grande imprensa – influenciados por bancos – têm pautado a suposta necessidade de o Banco Central do Brasil intensificar ainda mais a alta das taxas de juros, sob a justificativa de que a Guerra vai elevar o preço de produtos básicos no mercado internacional, como petróleo, fertilizantes, trigo, dentre outros1. Porém, existe uma contradição básica nesta afirmação: se a causa desta inflação é o aumento do preço destes produtos no mercado internacional, por quê, ao mesmo tempo, se elege como causa desta inflação um suposto consumo exagerado da população por tais produtos, a ser reduzido por meio da alta de juros?

A teoria econômica por trás deste mecanismo diz que, aumentando-se os juros, as pessoas não pegam financiamentos, e aí não consomem, reduzindo assim a demanda, e obrigando a redução dos preços. Porém, conforme as próprias notícias afirmam, o problema não é um suposto consumo exagerado por tais produtos (que são itens de sobrevivência básica), mas, sim, o preço deles no mercado internacional, ou seja, ainda na hipótese de que as pessoas reduzissem o consumo de tais produtos no Brasil, isso não afetaria o preço deles no mercado internacional.

O resultado desta política pautada pela imprensa e bancos tem sido, conforme já temos visto há algum tempo, um aumento na taxa de juros – provocando enriquecimento ainda maior dos grandes banqueiros e investidores da dívida pública – e, simultaneamente, a alta dos preços de alimentos e combustíveis, empobrecendo ainda mais a população mais pobre, que gasta grande parte de sua renda com a sobrevivência básica. Portanto, grande parte da ilegitimidade da dívida pública brasileira está nas altíssimas taxas de juros, estabelecidas sem justificativa plausível, dado que elas não combatem esse tipo de inflação característico do Brasil.

Daí surge a pergunta: mas qual seria então a solução alternativa para o combate à inflação sem o aumento de juros? A resposta é simples: combater as verdadeiras causas da inflação. Na realidade, há um bom tempo já tem sido uma vergonha para um país como o Brasil sofrer inflação de alimentos e combustíveis, pois temos amplas áreas agricultáveis, amplas reservas de petróleo de boa qualidade e refinarias sub-utilizadas, vendidas ou cuja construção tem sido paralisada, conforme mostrado em recente Live da Auditoria Cidadã da Dívida com Fernando Siqueira, engenheiro diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET)2. Na questão dos fertilizantes, a Petrobras também tem simplesmente vendido importantes fábricas, fazendo com que o país perca a sua soberania e fique cada vez mais dependente da importação3.

Em todo este contexto, cabe ressaltar a opção brasileira pelo agronegócio de exportação, altamente dependente de fertilizantes industrializados, e não pela agricultura familiar produtora de alimentos para o mercado interno e que pode ter uma maior participação da adubação orgânica. Esta é uma questão política, de direcionar as melhores terras, assistência técnica, pesquisa científica, crédito, sistemas de transporte e comercialização para a agricultura familiar, de modo a priorizar a Segurança Alimentar da população, e não o enriquecimento de grandes empresários do setor primário exportador.