Como o Brasil saiu da lista das economias que mais crescem no mundo

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Tradução Livre.

 

 

Um professor paranaense foi atingido no olho pela PM no dia 29 de abril enquanto participava de um protesto. “De repente, eu senti a pancada”, disse ele posteriormente. “Eu me agachei, coloquei a mão sobre meu olho e o sangue escorreu”.

Márcio Henrique – o professor ferido pelos PMs – e seus colegas protestavam contra um Projeto de Lei que feria os direitos de aposentadoria dos servidores paranaenses. Eles entraram em greve pela segunda vez nesse ano porque o Governador do Paraná, Beto Richa, não havia cumprido o acordo feito após o fim da primeira greve.

Em resposta a reivindicação dos professores, o governador colocou a PM para reprimir os manifestantes grevistas, lançando mão do uso de balas de borracha, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, spray de pimenta, cassetetes e cães.

Mais de 200 professores ficaram feridos naquele dia, sendo oito em estado grave. De acordo com o Governador, a mudança nos direitos de aposentadoria dos professores foi uma tentativa de reduzir os gastos públicos.

Curiosamente, nesse mesmo ano, os deputados estaduais do Paraná aprovaram um aumento de 26% em seus próprios salários, que agora atingem R$ 25.322,25 mensais (cerca de U$ 6.450,00), sem contar os benefícios adicionais, enquanto os professores recebem, em média R$ 2.473,22 ao mês (cerca de U$ 630).

Em 18 de setembro de 2012, Isadora Faber, 13 anos, uma estudante do ensino público da cidade de Florianópolis, foi acusada de calúnia e difamação. Ela criou uma fanpage no facebook chamada “Diário de Classe”, onde postava uma série de fotografias revelando a falta de manutenção em sua escola: vidros quebrados, portas quebradas nas salas de aula e nos banheiros, fiações elétricas expostas, quadras em máscondições, ventiladores e bebedouros quebrados, e muito mais.

Com estas fotos, Isadora levou a administração da escola a implementar melhorias no colégio, ao mesmo tempo em que fora criticada pela sua atitude. O Sistema de ensino público brasileiro é conhecido por ter um enorme déficit de infraestrutura, com professores mal remunerados e sem incentivo para progredir na carreira, e estudantes desmotivados. Em um dos vídeos da página “Diário de Classe”, Isadora disse: “Eu não faço isso para ter vantagens, eu faço pelo bem de todos, então eu não entendo por que as pessoas se incomodam”.

As experiências de Márcio e Isadora são exemplos dos efeitos dos enormes gastos do governo brasileiro com a dívida pública. Um total de R$ 977,897 bilhões (cerca de U$ 250 bilhões) no quinto maior país do mundo em termos territoriais e população, não é apenas um grande número; representa um enorme impacto negativo ao Estado e ao povo brasileiro.

A figura a seguir indica o gasto com o serviço da dívida do governo federal em 2014, que tem crescido exponencialmente nas últimas décadas.

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Fonte: http://www8d.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=92718

 

Mesmo com o pagamento de aproximadamente R$ 1 trilhão, a dívida pública cresceu 8,15% em 2014, indo de R$ 2,12 trilhões para R$ 2,29 trilhões*. Este gasto foi doze vezes maior que os investimentos em educação, o que explica parcialmente porque não há dinheiro para educação. Em agosto, a dívida pública chegou a R$ 3,7 trilhões, representando cerca de 65% do PIB, atingindo a maior razão Dívida Pública/PIB da história brasileira.

Em 2000, instituições civis criaram o movimento social “Auditoria Cidadã da Dívida” (ACD), e desde então eles tem exigido a realização da Auditoria da Dívida Publica. A Auditoria está prevista na Constituição Federal de 1988, mas o governo não demonstra interesse em realizar a auditoria, mesmo ciente de que a ACD tem denunciado diversas irregularidades nessa dívida. O Governo Federal tem forçado os governos estaduais a elevar tributos e cortar gastos para pagar dívidas enormes e repletas de irregularidades.

Nos últimos anos, o Brasil tem sido uma das economias que mais cresceram no mundo, devido ao seu grande potencial exportador. Entretanto, com a enorme dívida pública que não para de crescer, os governos estaduais estão ficando sem recursos, então não há dinheiro suficiente para investimento em saúde, educação e segurança pública. Além disso, o brasil está em recessão nesse ano, com crescimento da taxa de desemprego e aumento da inflação (acima de 9%).

A dívida pública está criando um caos no Brasil, e os grandes meios de comunicação não dão a devida importância para o assunto. Os noticiários brasileiros discutem os efeitos da crise (recessão, inflação desemprego e violência), no entanto nunca mencionam a causa principal.

Espero que algum dia eu seja capaz de mudar a frase “O Brasil é o país do futuro – e sempre será” para “O Brasil é o país do futuro – e é onde eu quero estar”.

* O autor do texto comete um equívoco ao comparar quantias desiguais. O valor da dívida interna líquida de R$ 2,12 trilhões, que se elevou para R$ 2,29 trilhões, não pode ser comparado com o valor da dívida interna bruta apresentado posteriormente (R$ 3,7 trilhões), posto que estes totais foram calculados com base em metodologias diferentes. A metodologia do útlimo valor, adotado pela Auditoria Cidadã da Dívida e que consta em nosso dividômetro, pode ser consultada no link a seguir: http://www.auditoriacidada.org.br/entenda-os-numeros-do-dividometro-e-do-estoque-da-divida/

 

 

Fonte: http://www.globalyoungvoices.com/article/2015/10/13/how-brazil-got-off-list-of-worlds-fastest-growing-economies