Contra a bandidagem econômica e midiática, economistas renomados apoiam trabalho da ACD
Durante a live “A atuação nociva do Banco Central e sua relação com o Sistema da Dívida”, uma das edições especiais que marcaram os 25 anos da Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), três dos mais respeitados economistas e intelectuais do país — Miguel Bruno, Ladislau Dowbor e Paulo Rubem Santiago — destacaram a importância e a consistência técnica do trabalho desenvolvido pela entidade ao longo de sua trajetória. Suas análises convergiram para um mesmo ponto: o trabalho da ACD é sólido, necessário e cumpre um papel decisivo na compreensão dos mecanismos financeiros que mantêm o Brasil preso ao rentismo, drenando recursos públicos e comprometendo a soberania nacional.
O economista Miguel Bruno, doutor em Ciências Econômicas e referência em macroeconomia, foi enfático ao afirmar que “as críticas à Auditoria Cidadã não me convenceram sob nenhum aspecto” e que muitos economistas “repetem discursos sem base sólida”. Segundo ele, a entidade tem prestado um serviço público de grande valor ao trazer luz a um tema complexo, frequentemente tratado de forma restrita e distante da população. “O trabalho da ACD é fundamental, inclusive para explicar e conscientizar a população sobre o que o Banco Central está fazendo”, afirmou. Bruno destacou que o Brasil vive um processo de financeirização extrema, no qual o Estado foi capturado pelos interesses do setor bancário e das elites rentistas. Essa subordinação estrutural, disse ele, transformou o Banco Central em uma instituição antidemocrática, voltada a garantir a rentabilidade do capital financeiro, e não o desenvolvimento econômico. Ao defender uma profunda reforma do sistema financeiro, o economista reconheceu que a atuação da ACD é essencial para desvelar a lógica que sustenta essa estrutura, mostrando como o endividamento público e a política de juros altos penalizam a produção e o emprego, ao mesmo tempo em que enriquecem uma minoria privilegiada.
Já Ladislau Dowbor, economista e professor emérito da PUC-SP, classificou o trabalho da Auditoria Cidadã da Dívida como “vital” para o país. Em sua fala, Dowbor explicou com clareza como o sistema financeiro captura parte significativa da riqueza nacional, desviando-a de investimentos públicos e sociais. Segundo ele, cerca de 30% de toda a riqueza produzida no Brasil é sugada por engrenagens como juros abusivos, isenções fiscais, sonegação e um sistema tributário regressivo — mecanismos que favorecem os rentistas e aprofundam a desigualdade. Ao tratar da dívida pública, o professor foi incisivo: mais de 80% do valor da dívida não serve para construir escolas, estradas ou hospitais, mas para pagar juros sobre juros. “Trata-se de um mecanismo que enriquece poucos e empobrece a maioria”, afirmou, reforçando que esse é exatamente o sistema denunciado pela ACD há décadas, com base em estudos e dados consistentes. Para Dowbor, a força da entidade está em traduzir esse funcionamento opaco em informações compreensíveis, revelando o que chamou de “bandidagem financeira” escondida por trás de operações virtuais e complexas. Ele sublinhou que a ACD cumpre um papel educativo e de mobilização essencial, pois ajuda a população a entender que a desigualdade não é fruto do acaso, mas de uma estrutura deliberadamente montada para concentrar riqueza e poder.
O professor Paulo Rubem Santiago, doutor em Educação, ex-deputado federal e uma das maiores referências críticas sobre políticas públicas no país, também fez um forte reconhecimento à trajetória da ACD. Ele recordou sua atuação parlamentar durante a Comissão Parlamentar de Inquérito da Dívida Pública e o enfrentamento direto com autoridades econômicas, como Henrique Meirelles e Guido Mantega, destacando que as denúncias da entidade não apenas permanecem atuais, como vêm sendo confirmadas historicamente. “A política econômica é a mãe de todas as políticas”, afirmou, “e sem enfrentar seus dogmas, não há democracia substantiva, apenas uma fachada de democracia eleitoral.”
Para ele, o trabalho da ACD é fundamental para desmascarar os mecanismos que aprisionam o Estado brasileiro ao rentismo, traduzindo à sociedade como o sistema financeiro se apropria dos recursos públicos. Santiago ressaltou ainda o papel formador da entidade, que inspira sindicatos, universidades e movimentos sociais ao mostrar que as decisões do Banco Central e do Tesouro Nacional não são neutras nem meramente técnicas, mas profundamente políticas e excludentes.
As manifestações de Miguel Bruno, Ladislau Dowbor e Paulo Rubem Santiago evidenciam o respeito e a credibilidade que a Auditoria Cidadã da Dívida conquistou ao longo de 25 anos de atuação independente e comprometida com o interesse público. Suas análises reafirmam que a entidade cumpre um papel único: o de revelar como o sistema da dívida pública sustenta uma estrutura de concentração de renda e poder, ao mesmo tempo em que fragiliza o financiamento das políticas sociais e ambientais. Ao denunciar o funcionamento desse sistema e propor uma auditoria completa e transparente da dívida, a ACD fortalece a democracia, a soberania e o debate público sobre o destino dos recursos do país.
Essas vozes — unindo economistas de diferentes áreas e trajetórias — demonstram que o trabalho da Auditoria Cidadã da Dívida transcende fronteiras acadêmicas e partidárias. Ele representa um esforço coletivo para romper o silêncio em torno das finanças públicas e recolocar o Estado a serviço da população. Em tempos em que a desigualdade e o rentismo seguem determinando o rumo da política econômica, o reconhecimento de especialistas como Miguel Bruno, Ladislau Dowbor e Paulo Rubem Santiago é, ao mesmo tempo, um atestado da seriedade do trabalho da ACD e um chamado à sociedade para ampliar esse debate, em defesa de um Brasil mais justo, soberano e democrático.
