Delfim Netto: A herança do endividamento público e o “milagre econômico” que poucos saborearam

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No mês de agosto, a revista Carta Capital publicou reportagem sobre Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, durante a ditadura militar, um dos signatários do AI-5 e falecido aos 96 anos. Delfim foi uma figura central na condução da economia brasileira por mais de duas décadas, e sua estratégia econômica, que muitos exaltaram como um “milagre”, deixou um legado de endividamento público que atrasa o país até os dias atuais.

A história de Delfim Netto na economia nacional é marcada por decisões que, sob a ótica de muitos, trouxeram mais prejuízos do que benefícios. Foi um dos responsáveis pela tomada de empréstimos externos a juros flutuantes, que a partir do final dos anos 70 foram fortemente elevados – de forma ilegítima – pelos bancos dos países emprestadores, gerando a crise da dívida, abrindo a porta para as imposições do FMI (Fundo Monetário Internacional), que persistem até os dias atuais. Dívidas externas “privadas” foram assumidas pelo setor público, e até hoje vemos, na forma do chamado “Arcabouço Fiscal”, as imposições de “resultado primário” sempre recomendadas pelo Fundo.

A frase emblemática de Delfim Netto, “é preciso fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”, sintetiza a falácia que foi vendida ao povo brasileiro. O bolo cresceu, mas foi repartido entre os mesmos de sempre, deixando a maior parte da população à míngua. Delfim Netto deixa um legado de endividamento e desigualdade, uma herança que o país ainda luta para superar. Dívida essa que foi sendo transformada em dívida “interna”, mas que continua beneficiando os mesmos rentistas super ricos, nacionais e estrangeiros. Dívida essa que precisa ser auditada, do início ao fim, com participação social.