Economistas renomados e respeitados elogiam trabalho da ACD e expõem engrenagens do Sistema da Dívida
Na 7ª live especial pelos 25 anos da Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), o debate sobre “A atuação nociva do Banco Central (BC) e sua relação com o Sistema da Dívida” reuniu economistas e pesquisadores renomados que foram unânimes na crítica à política monetária do BC que trava a economia do Brasil, submetida ao rentismo. Em suas exposições, todos reconheceram a importância do trabalho histórico realizado pela Auditoria Cidadã da Dívida.
O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, apontou que a desigualdade estrutural é sustentada por mecanismos institucionais que beneficiam grupos econômicos. “Por que temos pobreza, fome e tragédia? Porque essencialmente somos um país desigual”, afirmou. Ele denunciou a mentira de que os juros altos combatem a inflação: “As indústrias no Brasil estão trabalhando em 70% da sua capacidade. A gente precisa investir, dinamizar a economia, não esfriá-la desviando dinheiro para a Selic”. Para Dowbor, essa engrenagem de juros drena o investimento público, reduz o consumo e alimenta a desigualdade.
Miguel Bruno, doutor em Ciências Econômicas e referência nacional e internacional em macroeconomia, destacou outra engrenagem: a financeirização. “Hoje as finanças estão a serviço delas mesmas e das elites rentistas”, disse. Ele explicou que o Brasil se tornou “um exemplo emblemático de captura do Estado nacional pelos interesses do setor bancário e das elites rentistas”. Segundo ele, o setor financeiro avançou enquanto a indústria declinava, consolidando um padrão em que os bancos concentram poder, lucram com juros anômalos e impõem ao país um modelo de liberalização que atende apenas ao rentismo.
O educador, pesquisador e ex-deputado federal Paulo Rubem Santiago trouxe a engrenagem política que sustenta o sistema: “Essa disparidade de forças na representação democrática é usada para praticar uma extorsão continuada das finanças públicas”. Ele criticou a “safadeza da política monetária” baseada na Pesquisa Focus, que, segundo ele, alimenta expectativas fictícias produzidas pelo mercado financeiro e reproduzidas pela grande mídia. Para Santiago, o jornalismo econômico hegemônico atua como aliado do rentismo, moldando o noticiário para naturalizar a engrenagem do Sistema da Dívida.
O geógrafo Marco Antônio Mitidiero Júnior desmascarou a engrenagem do agronegócio, que contribui para a alta dos preços dos alimentos. “Ir ao supermercado virou um momento de terror para grande parte das famílias”, afirmou. Ele lembrou que a Selic “pode estar em Marte que o agronegócio está dormindo tranquilo”, protegido por pacotes de privilégios, créditos subsidiados, calotes e isenções. A inflação dos alimentos, destacou, não tem relação com a taxa de juros, mas com um modelo agroexportador que concentra riqueza e amplia a carestia.
O mediador João Pacífico, empreendedor social e fundador do Grupo Gaia, ressaltou a relevância da ACD: “Debates como esse são fundamentais para compartilhar conhecimento. O que a gente não pode ser é negacionista macroeconômico”. Para ele, há uma “dissonância clara entre a quem o Banco Central serve e a quem deveria servir”, o que reforça a importância de popularizar as denúncias da Auditoria Cidadã.
Encerrando o encontro, Maria Lucia Fattorelli, coordenadora nacional da ACD, destacou a contribuição dos participantes: “Todos, de certa forma, falaram do Sistema da Dívida, que é um conceito, uma expressão que eu tive a honra de criar exatamente para diferenciar a dívida pública legítima, necessária para investimentos, de um sistema que funciona como mecanismo de roubo”. Ela explicou que essa engrenagem conecta a política monetária suicida do Banco Central, o modelo tributário regressivo, o grande agronegócio de exportação, resultando no privilégio da chamada chamada dívida pública e seus mecanismos, em especial a “bolsa banqueiro”, onde o dinheiro da sociedade é capturado para remunerar bancos via compromissadas e depósitos voluntários, com taxas equivalentes à Selic ou até mais elevadas.
A live mostrou que as engrenagens do Sistema da Dívida — juros altos, financeirização, captura política, privilégios ao agronegócio, manipulação midiática e a bolsa banqueiro — se articulam para manter o país refém do rentismo. Para os especialistas, enfrentar o Sistema da Dívida e desmontar essas engrenagens é passo essencial para recolocar os recursos públicos a serviço da sociedade, da soberania e do desenvolvimento com justiça social, a o papel desempenhado pela ACD tem sido fundamental para isso.
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