Presidente do IBGE critica gastos com os juros da dívida pública, mas coloca o órgão no caminho da privatização
No último sábado (16), o Presidente do IBGE fez postagem no X, antigo Twitter, denunciando corretamente que o desequilíbrio das contas públicas decorre do gasto com juros da dívida pública, e não dos investimentos sociais (confira a publicação).
Ele citou o montante de juros da dívida do governo federal em 2023, calculado pelo Banco Central, de R$ 614 bilhões, montante esse menor que o estimado pela Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), em R$ 863 bilhões, conforme detalhado em artigo publicado no ExtraClasse.org (disponível aqui).
Porém, na prática, o presidente do IBGE não leva em consideração sua análise quando propõe uma fundação de apoio de direito privado, a IBGE+, objetivando viabilizar recursos extraorçamentários para fazer frente ao asfixiamento orçamentário sofrido pelo órgão diante da política econômica que privilegia o rentismo. Essa pseudo solução coloca o órgão no caminho da privatização, ao permitir que receba recursos para realizar pesquisas para o setor privado, possa contratar pessoal externo em cargos de livre nomeação e põe em risco a credibilidade do IBGE na medida em que expõe o órgão a pressão dos possíveis financiadores e seus interesses particulares. Sendo a IBGE+ composta por pessoas externas ao verdadeiro IBGE, poderá se tornar uma estrutura paralela para produzir pesquisas e levantamentos sem os padrões de qualidade e independência do IBGE, conforme mostra a “Carta à sociedade: Fundação de Direito Privado no IBGE coloca em risco políticas públicas” (disponível aqui).
Não adianta denunciar a dívida como ralo dos recursos públicos, mas ao mesmo tempo colocar em jogo a credibilidade do IBGE, na dependência de recursos não orçamentários ou privados.