Reunião da ACD encerra celebrações dos 25 anos com fortes críticas ao sistema da dívida e chamado à mobilização popular
A reunião conjunta do Conselho Político da Auditoria Cidadã da Dívida (ACD) e da Frente Parlamentar sobre o Limite de Juros e Auditoria Integral da Dívida Pública com Participação Popular foi realizada na manhã desta quinta-feira (9), no Auditório Freitas Nobre, na Câmara dos Deputados, em Brasília. O encontro, transmitido ao vivo e com participação híbrida, marcou oficialmente o encerramento das celebrações pelos 25 anos da ACD, reunindo núcleos regionais, voluntários, entidades parceiras e parlamentares comprometidos com a pauta.
A anfitriã do evento, *Maria Lucia Fattorelli*, coordenadora nacional da ACD, teve papel central ao apresentar um balanço do ciclo de oito lives e duas mobilizações realizadas ao longo das comemorações. Ela destacou os principais diagnósticos sobre o chamado “Sistema da Dívida” e reforçou a importância das propostas que emergiram desses debates para orientar os próximos passos da luta coletiva.
Maria Lucia ressaltou que *a conscientização social é o fator decisivo para reverter o quadro atual*, marcado por um modelo econômico que prioriza o pagamento de juros e amortizações da dívida pública em detrimento de áreas essenciais como saúde e educação. “Foi Getúlio Vargas o único presidente que fez uma auditoria da dívida no Brasil”, lembrou, ao denunciar a *enorme concentração de renda e riqueza* e o peso da carga tributária regressiva sobre a população.
Entre as participações de destaque, a deputada *Fernanda Melchionna (PSOL)*, coordenadora da Frente Parlamentar, criticou duramente o estrangulamento dos recursos públicos e os retrocessos promovidos pela reforma administrativa, que impõe teto de gastos, ameaça a estabilidade dos servidores e submete o Estado aos interesses do mercado financeiro. “O Brasil tem recursos, e a ACD mostra isso com dados”, afirmou.
O *professor Ramiro Chimuris*, presidente da Rede Internacional de Cátedras, abriu sua fala com uma saudação ancestral dos povos australianos, pedindo permissão à natureza para o encontro. Ele defendeu que a *Auditoria Cidadã da Dívida deve se tornar um mandato constitucional*, já que “quem manda é o povo”.
O jornalista **Beto Almeida** trouxe uma análise histórica e estrutural, recordando a visão de Marx sobre o capitalismo em sua fase senil, que desloca seu eixo de desenvolvimento para a destruição e a guerra, concentrando poder nas mãos dos fundos financeiros internacionais. “A auditoria da dívida mexe com o coração do poder”, observou.
*João Vicente Goulart*, filho do presidente João Goulart e presidente do Movimento em Defesa da Soberania Popular, ressaltou os desafios crescentes para a reindustrialização do Brasil e criticou a assimetria do orçamento público: “O Congresso pode retirar recursos da saúde e da educação, mas nunca tira do sistema da dívida”.
Ele também chamou atenção para o *atual sistema político*, marcado por reformas que mantêm o poder concentrado em bancadas conservadoras — conhecidas como bancada da Bíblia, do boi e da bala —, perpetuando grupos de interesse nas esferas federal, estaduais e municipais. Para o filho de Jango, *somente a mobilização popular poderá promover transformações estruturais*: “Para conquistar o processo revolucionário, precisamos ter o povo nas ruas”.
Ao longo da reunião, foram feitos encaminhamentos para fortalecer a articulação entre a ACD, os núcleos regionais, entidades parceiras e a Frente Parlamentar, visando ampliar a pressão social e política pela realização da auditoria da dívida pública, conforme previsto na Constituição. Parlamentares aliados também foram homenageados por sua trajetória em defesa dessa pauta histórica.
O encontro consolidou os 25 anos da ACD como um marco de resistência e de produção de conhecimento crítico sobre as finanças públicas brasileiras, reafirmando a urgência de transparência, participação popular e justiça fiscal.