A riqueza do povo na mão dos banqueiros: ‘Autonomia técnica’ do Banco Central institucionaliza o que hoje é "acordo verbal"

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O espetáculo de horror está prestes a atingir o seu glorioso anticlímax.

Governo Federal, Ministério da Fazenda e a grande imprensa contracenam de forma brilhante.

Uma catastrófica crise financeira é tudo o que o mercado financeiro precisava para justificar a independência do Banco Central, em um arroubo de salvamento da pátria.

Esqueça-se os 45% do orçamento federal que destinamos para pagar juros e amortizações da dívida pública, valor que atualmente supera o R$ 1 trilhão anuais.

Que ninguém comente sobre termos os maiores juros do mundo, e ainda assim, possuirmos uma das mais elevadas inflações do planeta.

Já temos o argumento perfeito, comprado por toda a imprensa e vendido a preço de banana: “É preciso elevar os juros para controlar a inflação!”.

Não importa que todas as outras principais potências do globo consigam manter juros baixos e inflação baixa,.

Para fazer do jeito certo, precisamos da independência do Banco Central.

Sim, aquela mesma que vem no primeiro item do Manual do FMI como medida para ser implementada nos países “sob seu domínio”.

Como a independência do Banco Central ainda é um pouco polêmica, vamos falar, por enquanto, em “autonomia técnica”.

Segundo o novo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, isso significa formalizar “o que hoje é um acordo verbal”.

— Isso é muito importante porque mantém aquilo que prevaleceu do ponto de vista da prática, ou seja, autonomia de decisão para que o BC não tenha suas decisões tomadas questionadas na medida em que tem uma autonomia técnica da decisão — explica Meirelles.

Não vamos falar em independência, mas quem toma todas as decisões (que não podem ser questionadas pelo próprio Governo Federal) é o Banco Central.

Banco Central que vai ser dirigido por um sócio do Itaú Unibanco.

Que tal falarmos em oficializar que quem comanda a política financeira do nosso país são bancos privados?

Não, isso pode soar muito duro.

Apenas queremos fazer a “política de controle da inflação sem a interferência do governo”.

Qual é essa política? Ora… todos sabem! Elevação de juros!

Que os bancos privados são aqueles que mais lucram com os juros elevados, pois aumentam em níveis estratosféricos a dívida pública… melhor não comentar. Poderia parecer conflito de interesses.

E convenhamos, não há conflito algum.

Os interesses estão muito claros e bem resolvidos.

Meirelles não deixa lugar a dúvida: “Independência é algo que é e continuará sendo objeto de análise. Nossa proposta é de autonomia técnica da decisão. Isso já é um avanço enorme em relação ao acordo verbal, que já funcionou muito bem”.

Piatã Müller é jornalista, educador social, presidente do Instituto Sócrates e um dos coordenadores do núcleo curitibano da Auditoria Cidadã da Dívida