Sobra de caixa dos bancos terá remuneração extra – Maria Lucia Fattorelli

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Maria Lucia Fattorelli

O Brasil é o país onde os lucros auferidos por bancos é o maior do mundo!

Estatísticas do próprio Banco Central demonstram que em 2015, apesar da desindustrialização, da queda no comércio, do desemprego recorde e da retração do PIB em quase 4% o LUCRO DOS BANCOS foi 20% superior ao de 2014, e teria sido 300% maior não fossem as exageradas provisões que atingiram R$ 183,7 bilhões, e reduzem seus lucros tributáveis.
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Fonte: http://www4.bcb.gov.br/top50/port/top50.asp

O ano de 2016 ficará marcado pela transformação da Constituição Cidadã em “constituição dos banqueiros”, pois a PEC 55 (241), impulsionada pelo banqueiro Henrique Meirelles que ocupa o Ministério da Fazenda, irá privilegiar, por 20 anos, os sigilosos gastos financeiros que já consomem quase a metade do orçamento federal todo ano, enquanto todas as despesas primárias que mantêm o Estado e os serviços públicos prestados à população ficarão disputando teto rebaixado de recursos.

No apagar das luzes de 2016, além do anúncio de drástica contrarreforma da previdência que também irá privilegiar bancos, pois impulsionará a busca por planos privados de previdência que não oferecem garantia alguma de benefício futuro, mais um pacote de medidas que privilegiam bancos foi anunciado pelo banqueiro Ilan Goldfajn que ocupa o Banco Central.

Dentre as medidas anunciadas ontem, 20/12/2016, está a criação de mecanismo de “remuneração de reserva bancária” que, em português claro, significa a remuneração de toda a sobra de caixa dos bancos, que esses poderão simplesmente depositar no Banco Central e, sem risco algum, receber a remuneração desejada.

A propaganda é de que essa “remuneração de reserva bancária” seria mais um instrumento de política monetária destinado a controlar o volume de moeda em circulação na economia para controlar a inflação. Mas isso é só propaganda. Na realidade, é mais um instrumento de transferência de recursos públicos para bancos.

Todos estamos cansados de saber que a inflação brasileira é provocada pela contínua elevação dos preços administrados (combustível, transporte, energia, telefonia, tarifas bancárias etc.), além da elevação de preços de alimentos.

Assim, os fatores que provocam inflação no Brasil não guardam relação alguma com os instrumentos utilizados pelo Banco Central para “controlar a inflação”, quais sejam, a prática de elevadíssimas taxas de juros e a retirada de moeda de circulação na economia (restrição da base monetária) por meio das chamadas “operações compromissadas”, que correspondem à troca da sobra de caixa dos bancos por títulos da dívida pública que pagam os juros mais elevados do planeta! Isso está explicado em nosso artigo “O Banco Central está suicidando o Brasil”.

O volume dessas “operações compromissadas” cresceu fortemente nos últimos anos, atingindo cerca de R$ 1 trilhão em 2015, chegando a R$ 1trilhão e 100 bilhões em 2016!

É evidente que tal operação não tem sido suficiente para controlar a inflação que decorre de outros fatores e, na prática, ao mesmo tempo em que retira mais de R$ 1 trilhão da economia e garante elevada remuneração aos bancos sobre esse valor, onerando pesadamente as contas públicas, ainda provoca graves danos à economia nacional, na medida em que:
– gera dívida pública sem contrapartida alguma;
– gera elevada despesa financeira devido ao pagamento de juros aos bancos;
– acirra a elevação das taxas de juros de mercado, pois enxuga mais de um trilhão de reais dos bancos, instituindo cenário de profunda escassez de recursos, afetando fortemente a indústria, o comércio e todas as pessoas que recorrem a crédito bancário;
– empurra o País para uma profunda crise socioeconômica, devido à exigência de pagamento de elevados juros sobre mais de R$ 1 trilhão.

A medida anunciada pelo banqueiro Ilan Goldfajn já havia sido tentada na primeira versão do PLP 257 enviada pelo governo federal ao Congresso em março/2016, mas depois foi retirada.

Agora retorna, junto com pacote de medidas anunciado para “melhorar a cidadania financeira, modernizar leis relativas aos bancos e melhorar a eficiência do setor financeiro”, o que é uma grande infâmia.

O Banco Central quer continuar remunerando a sobra de caixa dos bancos, tanto sob a forma de “operações compromissadas” como por meio de depósitos voluntários feitos por bancos junto ao Banco Central, sem a utilização de títulos da dívida.

Embora aparentemente poderá haver uma redução no montante da dívida pública em poder do Banco Central, o custo com os juros se manterá, ou até aumentará, pois serão remunerados os depósitos voluntários feitos pelos bancos em patamares sequer declarados. Todos os mesmos graves danos à economia nacional que as tais “operações compromissadas” já vêm provocando também continuarão existindo.

Essas aberrações que beneficiam bancos representam um verdadeiro assalto aos cofres públicos, comprometendo diversos serviços públicos essenciais à sociedade, como saúde, educação, segurança, assistência, previdência etc., além de provocar graves danos à economia real do país, pois afetam a indústria e o comércio, e toda a possibilidade de geração de emprego e renda.

Fica cada dia mais claro que o país está a serviço dos bancos, atividade que segue lucrando como nunca, enquanto milhões de brasileiros perdem seus empregos e a economia real padece. E ainda por cima, a sobra de caixa dos bancos terá remuneração extra. Até quando?