Dólar que entra para "comprar" Brasil gera alta de remessas para US$ 25 bilhões

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O Jornal O Globo noticia a divulgação da Ata da reunião do COPOM, que sinaliza um aumento na taxa de juros, sob a justificativa de conter a inflação. A notícia ainda mostra a opinião de uma economista chefe de um banco privado, segundo a qual “O BC notou a piora nas expectativas inflacionárias no curto prazo”, o que justificaria então a alta nos juros.

Cabe, aqui, comentar quem estabelece tais expectativas de inflação: os próprios bancos privados, que se beneficiam diretamente de altas taxas de juros, comprando títulos da dívida pública. Isto vem sendo denunciado pela CPI da Dívida na Câmara dos Deputados.

O Valor Econômico destaca os temores dos investidores com a crise da dívida na Grécia, Espanha e Portugal. Os investidores também temem o fim dos programas estatais de ajuda a bancos. Em suma: são os estados a serviço do capital.

Por fim, o Estado de São Paulo traz artigo sobre a chamada “Carta aos Brasileiros”, escrita pelo então candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. O artigo destacou o seguinte trecho da Carta:

”Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do País.”

Ali era jogado fora o pleito de auditoria da dívida pública, constante no Programa “Lula 2002”, elaborado pelo Partido dos Trabalhadores. Como se viu durante o atual governo, o “respeito aos contratos e obrigações do país” não incluiu o Artigo 26 das Disposições Transitórias da Constituição, que prevê a auditoria da dívida.

BC indica que juros subirão para conter aquecimento e preços
Risco de inflação faz Banco Central indicar que pode elevar taxa de juros
Autor(es): Agencia O Globo/Patrícia Duarte
O Globo – 05/02/2010

O Banco Central (BC) elevou, na ata da última reunião de sua diretoria colegiada, o tom sobre a probabilidade de aumentar os juros básicos da economia. Além do forte ritmo de crescimento da atividade econômica, com a demanda se sobrepondo à oferta, estão pesando também os preços dos alimentos, com a recente alta das commodities.

Se esse cenário piorar até o próximo mês, avaliam os especialistas, o BC não hesitará em elevar a Taxa Selic — hoje em 8,75% ao ano — já em março, quando ocorrerá a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A expectativa média, porém, permanece sendo de que a alta virá em abril.

— O BC notou a piora nas expectativas inflacionárias no curto prazo. Mas ainda não dá para saber se (o aumento na Selic) será em março. Só se vier uma surpresa (nos dados) — afirmou a economista chefe do ING, Zeina Latif, para quem o Copom puxará a Selic a partir de abril, fechando o ano a 10,75%; até então, ela projetava 10,25%.

Mercado prevê IPCA acima da meta
Na pesquisa Focus do BC, o mercado prevê que o IPCA em 2010 ficará em 4,62%, acima dos 4,5% do centro da meta do governo. E essa conta tem crescido nas últimas semanas, indicando que as expectativas sobre a inflação estão se deteriorando.

Na ata divulgada ontem, o Copom deixa claro que as commodities estão no campo de preocupação, mas ainda não foi incisivo com relação ao recente salto dado pelo dólar, que ultrapassou a barreira de R$ 1,80. No texto, o BC diz que agirá prontamente para estancar a alta da inflação e mostrou que há riscos para a variação dos preços.

O comitê diz que, “diante dos sinais de retomada da demanda doméstica — ocasionando redução da margem de ociosidade dos fatores de produção, evidenciada por indicadores de utilização da capacidade na indústria e do mercado de trabalho, e do comportamento recente das expectativas de inflação — podem aumentar os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual a inflação seguiria consistente com a trajetória das metas.

Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos.” Para o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, a atividade econômica é a principal preocupação do BC a médio e longo prazos. A autoridade monetária calcula que o PIB vai ter uma expansão de 5,8% neste ano, acima dos 5,2% da Fazenda e dos 5,35% da média de mercado.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, chegou a afirmar esta semana que a massa salarial e o crédito estão crescendo acima da tendência de longo prazo, o que significaria sinal de superaquecimento.

— Eu não mudei a minha expectativa de que a Selic vai subir em abril, mas não estou fechado para que isso ocorra em março — afirmou Teles

Temor sobre a dívida europeia deflagra fuga para a segurança
Autor(es): David Oakley, Tony Barber e Ralph Atkins, Financial Times, de Londres, Bruxelas e Frankfurt
Valor Econômico – 05/02/2010

Crescentes temores sobre a saúde das economias mais frágeis na Europa abalaram ontem os mercados em todo o mundo, provocando quedas bruscas em partes do continente e uma fuga mundial para a segurança no dólar e em títulos do Tesouro americano.

Os mercados português, espanhol e grego foram os mais atingidos, depois que os temores dos investidores sobre suas crescentes dívidas públicas minaram a confiança em suas economias e na capacidade de os governos financiarem seus crescentes déficits orçamentários.

O dólar subiu para seu nível mais alto frente ao euro em mais de sete meses, enquanto os preços dos títulos do Tesouro dos EUA subiram. O índice Vix, que acompanha a volatilidade do S&P 500 e é conhecido como “termômetro do medo” em Wall Street, saltou de 17%, para 25,22.

As tentativas de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), de fortalecer a confiança nas finanças públicas da zona euro, salientando serem positivas em comparação com outros países, não conseguiram tranquilizar os investidores.

Num intervalo de semanas, os temores de investidores, que inicialmente tinham se limitado à Grécia, já se espalharam para Portugal e Espanha e alastraram-se para os mercados de capital dos EUA e Reino Unido.

As bolsas portuguesas caíram 4,98%, na maior queda num só dia desde novembro de 2008. Na Espanha, as ações caíram 5,94%, para o mais baixo nível desde julho, enquanto as ações gregas perderam 3,89%.

O S&P 500, também pressionado para baixo por um relatório semanal desfavorável sobre o mercado de trabalho americano, abriu em baixa. Ao meio-dia, o índice caia 2,7%. O FTSE 100 fechou em baixa de 2,2% e o FTSE Eurofirst 300 ficou 2,8% menor.

No Brasil, o Índice Bovespa passou o dia em queda acentuada, chegando a recuar 5%. Fechou em baixa de 4,73%, aos 63.934 pontos. Essa é a maior queda percentual desde o dia 28 de outubro do ano passado, quando o indicador caiu 4,75%. Já a pontuação é a menor desde 4 de novembro, quando fechou aos 63.912 pontos

Os mercados de dívida das chamadas economias periféricas europeias também sofreram pressão pois o diferencial de rendimento entre seus títulos e os títulos alemães, referencial do mercado, cresceu substancialmente. Gary Jenkins, da Evolution Securities, em Londres, disse que os lucros das empresas poderão ser saudáveis (nos EUA), mas os investidores estão mais preocupados com possível calote de um país europeu.

Os investidores também passaram a se preocupar com as implicações do fim dos programas emergenciais de apoio de bancos centrais que ajudaram a sustentar os mercados ao longo do ano passado.

‘Carta aos Brasileiros’ em 2002 mostrou face moderada
Autor(es): Daniel Bramatti
O Estado de S. Paulo – 05/02/2010

Se em 2010 o PT exibe sem receio seus pendores estatistas, a situação era bem diferente em 2002, quando o então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva procurava ressaltar sua face moderada na tentativa de acalmar os mercados e ampliar sua base eleitoral.

Na época, a divulgação de pesquisas que apontavam o favoritismo de Lula era acompanhada de turbulências nos mercados de câmbio e de ações. O panorama começou a mudar quando o petista lançou a Carta ao Povo Brasileiro – documento que norteou a campanha e antecipava a guinada econômica para o centro que os petistas, no poder, concretizariam.

“O PT e seus parceiros têm plena consciência de que a superação do atual modelo, reclamada enfaticamente pela sociedade, não se fará num passe de mágica, de um dia para o outro”, dizia a carta de Lula, divulgada em julho de 2002. “Não há milagres na vida de um povo e de um país. Será necessária uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica. O que se desfez ou se deixou de fazer em oito anos não será compensado em oito dias. O novo modelo não poderá ser produto de decisões unilaterais do governo, tal como ocorre hoje, nem será implementado por decreto, de modo voluntarista.”

A seguir, viria o trecho destacado como mais importante por aqueles que viam na eventual vitória de Lula o risco de um possível calote no pagamento das dívidas do governo. “Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do País.”

Depois de passar anos criticando o Plano Real, o candidato petista passou a destacar a importância da estabilidade econômica. “Ninguém precisa me ensinar a importância do controle da inflação”, disse Lula. “Iniciei minha vida sindical indignado com o processo de corrosão do poder de comprar dos salários dos trabalhadores. Quero agora reafirmar esse compromisso histórico com o combate à inflação, mas acompanhado do crescimento, da geração de empregos e da distribuição de renda.” Após tomar posse, em 2003, Lula ignorou resistências de alas do PT e elevou os juros para conter a inflação.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 04.02.2010

O Jornal Monitor Mercantil repercute a posição da Auditoria Cidadã da Dívida sobre a explosão das remessas de lucro ao exterior, que subiram nada menos que 500% nos últimos anos. Tais remessas também representam um passivo externo (assim como a dívida externa), e decorrem das políticas de privatização e desnacionalização produtiva.

É importante ressaltar que, todos os anos, diversos analistas apontam a entrada de capital estrangeiro como algo positivo, pois garante o financiamento dos grandes déficits das transações correntes, causados pelos elevados pagamentos de juros da dívida externa, e pelas próprias remessas de lucro para o exterior. Porém, o capital estrangeiro entra no país para depois sair, na forma de remessa de lucros, que por isso crescem absurdamente.

O Portal G1 noticia que a ONU está propondo a anulação da dívida externa do Haiti com organismos financeiros como o Banco Mundial. A ONU ainda critica o recente empréstimo do FMI, que começará a ser pago daqui a 5 anos, e que contribuirá para promover mais uma onda de endividamento do país.

Diante desta notícia, cabe ressaltar também que o Haiti é um país que foi historicamente saqueado pelos países do Norte. Ainda no início do século XIX, o Haiti foi obrigado, depois de um bloqueio econômico de dez anos imposto pela França, a assumir e pagar uma dívida externa de 150 milhões de francos-ouro (equivalentes a cerca de US$ 22 bilhões em valores atuais) em compensação à França pela “perda de escravos” que se rebelaram e libertaram da escravidão em 1804.

A partir do século XIX, o Haiti passou a sofrer invasões dos EUA, que chegou a saquear reservas do Banco Central Haitiano, a pretexto de “cobrar a dívida externa”. Ditaduras militares haitianas – como as dos Duvalier – foram financiadas com empréstimos externos, a exemplo de vários outros países latino-americanos, sem a devida transparência da respectiva contrapartida, tornando-se a nova forma de colonialismo.

Em 1994, o retorno do presidente eleito Jean Bertrand Aristide, que havia sido deposto em 1991 em um golpe de estado, foi vinculado a uma articulação na qual Aristide deveria se submeter fielmente às políticas recomendadas pelo FMI – Fundo Monetário Internacional – listadas no denominado “Consenso de Washington”. O Haiti abriu suas fronteiras para produtos subsidiados pelos países do Norte, se convertendo em importador de alimentos, em um processo de destruição da economia local, a fim de gerar grande contingente de desempregados, e assim, mão de obra barata e sem direitos trabalhistas, beneficiando as multinacionais.

Em suma: é preciso auditar e anular a dívida haitiana, e reparar todos os danos causados a este país pelas políticas equivocadas impostas pelas instituições financeiras multilaterais.

Rombo gerado pelo IED cresce 500% em 6 anos
Monitor Mercantil – 03/02/2010 – 20:02

Dólar que entra para “comprar” Brasil gera alta de remessas para US$ 25 bilhões

Citando dados do Banco Central (BC), o economista Rodrigo Ávila, da Auditoria Cidadã da Dívida, ligada à Rede Jubileu Sul, afirmou ao MM que as remessas de lucros e dividendos de investimento estrangeiro direto (IED) – o dito capital produtivo – saltaram de US$ 4 bilhões, em 2002, para US$ 25 bilhões, em 2008.

“É uma alta superior a 500%. Políticas de abertura ao capital financeiro e de privatizações dão nisso”, disse, ao comentar notícia veiculada pelo MM, terça-feira, dando conta de que a média anual de remessas ao exterior de lucros amealhados por estrangeiros em aplicações financeiras no governo de Luiz Inácio Lula da Silva superou em 277% os já generosos ganhos da administração Fernando Henrique, saltando de US$ 1,29 bilhão/ano para US$ 4,87 bilhões.

Incluindo as remessas de lucros e dividendos dos investimentos em carteira (bolsa de valores e títulos públicos), Ávila diz que eles estavam perto de US$ 5 bilhões, em 2002, e chegaram a US$ 33 bilhões, em 2008.

“Dizem que o rombo em transações correntes hoje é fechado com entrada de investimentos, em vez de endividamento externo, e que isso é uma grande evolução. Mas esses investimentos entram agora, um vez só, para saírem continuamente depois”, disse, acrescentando que a necessidade de atrair capital estrangeiro explica melhor a alta de juros do que o controle da inflação.

“Projetando taxas de inflação acima da meta para 2010, os bancos privados fazem com que o Banco Central aumente os juros, sob a justificativa de combate à inflação. Esse fato tem sido denunciado na CPI da Dívida: a questionável atuação do BC na definição dos juros, tomando como base números produzidos por investidores que ganham diretamente com a alta das taxas aplicando em títulos da dívida interna.”

ONU propõe anulação da dívida do Haiti
Portal G1 – 04/02/10 – 09h24 – Atualizado em 04/02/10 – 09h53

Um total de 214 milhões de dólares pode ser perdoado.
Maiores credores do país são o BID e o Banco Mundial.

Da France Presse
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Um alto funcionário da ONU propôs nesta quinta-feira (4) a anulação imediata da dívida do Haiti com organismos financeiros internacionais, como o Banco Mundial, para permitir que o país se recupere do terremoto devastador ocorrido no dia 12 de janeiro.

Cephas Lumina, analista independente da ONU sobre a dívida estrangeira relacionada aos direitos humanos, celebrou em um comunicado a decisão do Clube de Paris – grupo informal de 19 países credores – de anular os 214 milhões de dólares da dívida que o Haiti tem com o Clube.
No entanto, afirmou que é “insuficiente, já que o mais importante da dívida externa corresponde a credores multilaterais”.

A dívida externa total do Haiti chega atualmente a 890 milhões de dólares, 41% do total com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e 27% com o Banco Mundial. Lumina também pediu a concessão ao Haiti de “subsídios de ajuda sem condições e não novos empréstimos”.
Ele criticou a recente aprovação pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de um empréstimo sem juros de 114 milhões de dólares, que deve começar a ser pago após um período de cinco anos e meio.
“É preciso evitar a reconstituição de uma dívida insuportável para o país”, insistiu o analista.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 03.02.2010

A Folha de São Paulo de hoje noticia que o governo procurará “blindar” o país em um ano eleitoral, ou seja, garantir ao mercado a continuidade da atual política econômica, baseada em “responsabilidade fiscal e monetária”. Segundo o jornal, o governo pediu que “os empresários devem exigir dos candidatos a presidente o compromisso com a “manutenção das políticas bem-sucedidas”. Ou seja: desta forma, busca-se retirar completamente da discussão eleitoral qualquer proposta alternativa à política atual.

Em primeiro lugar, cabe esclarecer o que significa “responsabilidade fiscal e monetária”. Na visão do governo, signfica superávits primários e altas taxas de juros, que em bom português, significa continuar destinando centenas de bilhões de reais do orçamento público para os pagamentos da dívida, enquanto as áreas sociais sofrem sem recursos. Isto é responsabilidade?

Cabe ressaltar também que, se os candidatos à eleição tiverem de defender a atual política econômica, a eleição simplesmente não tem sentido algum.

O Jornal O Estado de São Paulo traz a discussão sobre a possível alta dos juros em abril, projetada pelos bancos e consultorias, sob a justificativa de que a economia estaria crescendo demais e que isto poderia gerar inflação exagerada. O Banco Central já “comprou” esta idéia do mercado, conforme mostra a notícia.

A única divergência é se os juros devem subir ou não, e quando. Sequer se comenta que o juro brasileiro é um dos maiores do mundo, e beneficia principalmente os bancos e investidores, os mesmos que fazem as projeções utilizadas pelo BC em sua decisão sobre os juros.

Mantega propõe “blindar” país para eleição
Autor(es): TONI SCIARRETTA
Folha de S. Paulo – 03/02/2010

Ministro reforça compromisso com “responsabilidade” fiscal e pede a empresários que não aceitem “provocações” em ano eleitoral

Ao lado de Meirelles, Mantega afirma que Banco Central não hesitará em subir juro se houver pressão inflacionária

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, propôs ontem a líderes empresariais um pacto para “blindar” a economia durante a eleição presidencial, que, segundo ele, costumava trazer instabilidade quando a economia era mais frágil.
Do lado do governo, Mantega reafirmou aos empresários o compromisso com a manutenção do que chamou de “responsabilidade” nas áreas fiscal e monetária, mesmo com a disputa eleitoral.
Aos empresários pediu que sigam trabalhando normalmente, não aceitem “provocações” e não caiam no “canto da sereia” daqueles que veem riscos que não existem.
Ao lado do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a quem chamou de “guardião da moeda”, Mantega afirmou que, se houver pressão inflacionária, o BC não vai hesitar em subir os juros.
“O governo não vai mudar a sua conduta e não vai mudar o seu comportamento porque é um ano eleitoral. Vamos cumprir as metas e fazer o que temos feito: responsabilidade fiscal e monetária. Isso significa, como fizemos em 2006, que, se tiver problema de inflação, o BC vai subir a taxa de juros; tomara que não faça, não é Meirelles? Sabemos que o guardião da moeda estará atento.”
E acrescentou: “Para este ano, está prevista inflação em torno de 4,5%. Não acredito que fique mais alta do que isso, mesmo com a economia crescendo de 5% a 5,5%… Acho que não há essa necessidade [de elevar juros]. A economia brasileira cresce solidamente e não está produzindo inflação”.
Citado para ser o “vice” da ministra Dilma Rousseff pelo PMDB, partido em que entrou no ano passado, Meirelles repetiu aos empresários sua explanação sobre os fatores e medidas tomadas para que o país atravessasse a crise mundial.
Questionado sobre a eventual candidatura, Meirelles desconversou e disse que só decide em março. “Até lá, 100% de foco no Banco Central”, disse.
Para Mantega, os empresários devem exigir dos candidatos a presidente o compromisso com a “manutenção das políticas bem-sucedidas”. “Cada governo sempre pode melhorar as coisas do governo anterior. O Brasil está bem, mas continua com muitos problemas e não faltarão desafios. O novo governo deve focar naquilo que vai fazer de melhor em relação ao que já foi feito e não ficar ameaçando ou conturbando aquilo que está dando certo”, disse.
Já empresários presentes ao evento, que incluíam Abilio Diniz (Grupo Pão de Açúcar) e Ivan Zurita (Nestlé), pediram redução da carga tributária.

CRESCE DIVERGÊNCIA ENTRE FAZENDA E BC SOBRE JUROS
CRESCE DISPUTA NO GOVERNO POR JUROS
Autor(es): Lucinda Pinto e Ricardo Leopoldo,
O Estado de S. Paulo – 03/02/2010

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, divergiram ontem, em público, sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira, seus efeitos sobre a inflação, e a necessidade de subir os juros. Os comentários foram feitos em São Paulo ao discursarem no 20.º Seminário do Grupo de Líderes Empresariais (Lide).

Enquanto Mantega descartou um aquecimento excessivo do consumo e a necessidade de aumento de juro, Meirelles indicou que massa salarial, comércio e crédito estão crescendo acima do sustentável. Para os investidores, o comentário do presidente do BC representou um sinal de que em algum momento os juros terão de ser elevados, o que fez subir as cotações dos juros futuros.

“O que eu quero destacar aqui não é só que há um crescimento, mas que há um crescimento acima da tendência de longo prazo, o que mostra que o País sai forte da crise”, disse Meirelles, no seminário. “A recuperação se dá a um ritmo muito forte”, acrescentou.

Também presente ao evento, Mantega afirmou que os sinais de recuperação da economia permitiram a retirada dos estímulos fiscais a vários setores de atividade, como os fabricantes de eletrodomésticos da chamada linha branca e a indústria automobilística.

“O impulso foi dado e a economia caminha com seus próprios pés”, disse o ministro da Fazenda. “Foi bom porque acalmou o ânimo daqueles que já achavam que deveria subir o juro. Vamos devagar, porque o santo é de barro”, acrescentou.

As projeções de bancos e consultorias indicam que o BC vai começar a subir os juros a partir de abril, para evitar inflação provocada pelo consumo doméstico forte. Mantega afirmou que a economia está crescendo de forma sustentável, porque tem “forte componente de investimento e porque não cria desequilíbrios macroeconômicos”.

Ele garantiu que o Brasil vai cumprir a meta de inflação em 2010, mas frisou que não está preocupado. “Para este ano, está prevista inflação em torno de 4,5%. Não acredito que fique mais alta que isso, mesmo com a economia crescendo de 5% a 5,5%”, disse. “Se houver problema de inflação, o Banco Central vai aumentar os juros, mas espero que não precise”, disse o ministro, ao lado de Meirelles.

Questionado por um empresário sobre como reduzir o juro considerado ainda alto no País, o presidente do Banco Central disse que é preciso manter a responsabilidade macroeconômica.

“Uma das características importantes do sucesso do Brasil é tomar atitudes que sejam realistas, possíveis”, disse. “O fato de que a inflação está na meta, de termos reservas (cambiais), dívida pública cadente como proporção do PIB, gera como consequência a queda da taxa de juros real.”

Mantega propôs aos empresários um pacto para blindar a economia em ano eleitoral. “Não devemos permitir que haja perturbação desse momento muito bom”, disse. Ele prometeu que governo não vai mudar a conduta por causa das eleições. “Vamos cumprir as metas de responsabilidade fiscal e responsabilidade monetária”, disse. “E os senhores não se deixem levar pelo canto da sereia”, completou, dirigindo-se aos empresários.

Mantega vai a Lula para tentar barrar aumento dos juros
Autor(es): Adriana Fernandes
O Estado de S. Paulo – 03/02/2010

O debate em torno do tema econômico preferido do governo Lula – crescimento versus juros – voltou mais forte no início do ano e tem alimentado uma nova queda de braço nos bastidores da equipe econômica.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aumentou a pressão junto ao Banco Central (BC) na tentativa de evitar que seja iniciado um novo ciclo de alta da taxa Selic já em março.

A avaliação na equipe de Mantega, segundo fontes, é de que antes de mexer na Selic o BC deve primeiro apertar os depósitos compulsórios. A lógica da Fazenda é a seguinte: durante a crise financeira, o BC mexeu primeiro nos compulsórios (liberando R$ 100 bilhões) para só depois reduzir a Selic e, agora, deveria seguir o mesmo caminho. O BC afirma que já vem reduzindo o direcionamento do compulsório, mas não confirma a possibilidade de um aumento das alíquotas.

A questão foi levado por Mantega ao presidente Lula. Com o argumento que os números indicam que o ritmo da economia não está tão acelerado como apontam os analistas do mercado, o ministro procurou mostrar ao presidente de que não há necessidade de aumento da Selic, porque a inflação está sob controle e o crescimento previsto é sustentável.

O BC, porém, vê com mais cautela o movimento de retomada da economia e avalia que pressões inflacionárias devem ser combatidas no nascedouro para evitar que o crescimento seja prejudicado. Para o BC, não há incompatibilidade entre a política monetária e a expansão da economia, já que preservar a estabilidade é uma condição necessária ao crescimento.

Mantega e sua equipe cobram do presidente do BC, Henrique Meirelles, uma ação ainda mais coordenada do que a feita no auge da crise para, agora, garantir um crescimento superior a 5%. Internamente, a Fazenda imputa ao BC a conta de um PIB menor em 2009 por causa de um suposto atraso do Copom em reduzir a Selic na crise. Enquanto a crise estourou em 15 de setembro, com o quebra do Lehman Brothers, o BC só começou a reduzir os juros no fim de janeiro.

O secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, disse em um artigo recente que a desvalorização do real logo após a crise fez o BC relutar em cortar a Selic, “mesmo diante de uma abrupta queda do nível de atividade”. A demora, afirma o secretário, teve de ser compensada por medidas de política fiscal, como desonerações tributárias e a redução do superávit primário.

A posição do BC, expressa em público várias vezes nos últimos meses, é de que era necessário avaliar melhor a situação econômica antes de cortar a Selic. E havia outra preocupação. A desvalorização do real, que ocorria naquele momento, poderia provocar forte pressão inflacionária. O impacto da crise, na visão do BC, só foi melhor percebido no fim do ano.

Segundo fontes, a Fazenda, em estratégia semelhante à empregada na crise, estaria se preparando para lançar medidas complementares visando ajudar o controle da inflação, como redução de tarifas de imposto de importação, o cumprimento da meta “cheia” de 3,3% do superávit primário e o fim das desonerações.

O embate ganhou mais fervura, na semana passada, com as declarações do secretário do Tesouro, Arno Augustin. Ele defendeu sintonia do BC com uma política de crescimento. Em entrevista em Davos, na Suíça, Mantega afirmou não compartilhar da visão do mercado de que os juros devem subir. Meirelles respondeu à provocação dizendo que a discussão é sobre a necessidade de desacelerar a economia, para evitar inflação, e não de brecá-la.

A QUEDA DE BRAÇO DOS JUROS

O que pensa o mercado

Avalia que o nível de crescimento acima de 5% é forte demais, vai gerar inflação e levar o BC a agir preventivamente para evitar pressão nos preços. Ou aumentando os depósitos compulsórios que os bancos são obrigados a deixar no BC ou a taxa Selic. A aposta que ganha força é de que o BC vai começar agir já em março.

O que pensa a Fazenda

Em ano de eleições, a equipe do ministro Mantega quer evitar o aumento da Selic porque pode comprometer o crescimento e os investimentos. Nos bastidores, trabalha para administrar as expectativas e evitar o aumento dos juros. Sinalizou compromisso com superávit primário maior e o fim das desonerações. Outras medidas para evitar o aumento da inflação estão no cardápio.

O que pensa o BC

Está cada vez mais cauteloso e vê menos sinais benignos no quadro inflacionário. Aponta a atividade econômica acelerada como um risco para a inflação. O crescimento mais forte poderá levar ao descompasso entre oferta e demanda. Projeta uma alta do PIB maior do que a do Ministério da Fazenda. Defende um rigor fiscal mais forte como fator adicional de controle da inflação. A valorização recente do dólar ante o real e a perspectivas das contas externas negativas ajudam a pressionar os preços.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 02.02.2010

O Correio Braziliense mostra claramente como os bancos e fundos de investimento privados influem na decisão do Banco Central sobre as taxas de juros. Projetando taxas de inflação acima da meta para 2010, os bancos privados fazem com que o Banco Central aumente as taxas de juros, sob a justificativa de combate à inflação.

Este fato tem sido denunciado na CPI da Dívida: a questionável atuação do Banco Central na definição das taxas de juros, tomando como base números produzidos por investidores que ganham diretamente com a alta das taxas, visto que aplicam em títulos da dívida interna.

A notícia também mostra que os preços administrados pelo governo são um importante componente da inflação. Ora, se o cumprimento da meta de inflação (de 4,5% ao ano) é tão importante assim, a ponto de implicar em custos altíssimos desta política – destinação de centenas de bilhões de reais para juros e amortizações da dívida – porque o próprio governo promove aumentos de preços?

A Folha de São Paulo traz notícia sobre o grande lucro do Banco do Brasil em 2009, que deve atingir mais de R$ 8 bilhões. Cabe ressaltar, sobre este tema, que tais lucros, distribuídos ao seu principal acionista – o governo federal – possuem destino certo, de acordo com a Lei 9.530/1997.

O artigo 1º desta Lei prevê que será destinada à amortização da dívida pública federal “a receita do Tesouro Nacional decorrente do pagamento de participações e dividendos pelas entidades integrantes da Administração Pública Federal indireta, inclusive os relativos a lucros acumulados em exercícios anteriores”.

Inflação volta a preocupar
Autor(es): Vicente Nunes e Victor Martins
Correio Braziliense – 02/02/2010

IPCA anualizado aponta índice entre 6,5% e 9%: são números muito altos para não provocarem dor de cabeça em um governo sério

Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press -9/10/09

O reajuste das tarifas de transporte público em grandes centros urbanos pesa no cálculo do IPCA

O mercado financeiro acendeu o sinal de alerta em relação à inflação. Ainda que a grande maioria dos analistas não veja o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se distanciando muito do centro da meta de 4,5% perseguidos pelo Banco Central, está se formando o consenso de que a taxa final deste ano ficará mais próxima de 5%. Há pouco mais de um mês, o quadro era o oposto: o grosso dos especialistas via o índice oscilando entre 4,2% e 4,3%, ou seja, abaixo do objetivo fixado pelo governo.

A mudança nas projeções ocorreu depois de os economistas recalcularem as estimativas para o IPCA de janeiro, que será divulgado na próxima sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa esperada praticamente dobrou, atingindo até 0,71%, índice que, quando anualizado, aponta para inflação de quase 9% — o dobro da meta oficial. E mais: com o resultado de janeiro, o IPCA acumulado em 12 meses ficará acima de 4,5%, fato que não se via desde junho de 2009, quando cravou 4,80%.

“Não podemos esquecer que, no mês passado, o IPCA foi afetado por fatores pontuais, como o aumento de 17,4% das passagens dos ônibus urbanos em São Paulo. Sozinho, esse item impactou a inflação em 0,14 ponto percentual (outro 0,03 ponto será captado em fevereiro, que também refletirá a alta das mensalidades escolares)”, disse o economista-chefe da Concórdia Corretora, Élson Teles. “Há, também, o efeito da alta do álcool, que repercutiu na gasolina, e dos produtos de safra curta, como as frutas e hortaliças, afetados pelo excesso de chuvas”, acrescentou.

O problema, assinalou o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto, é que os reajustes pontuais estão vindo acompanhados de aumentos em grupos de preços mais dependentes do aumento da renda e do aquecimento da economia. Por isso, o mercado acompanhará com lupa os núcleos da inflação, medidas que descontam altas atípicas de preços e de algumas tarifas públicas. “Essa é a inflação mais limpa, que dá um quadro mais claro do que realmente está acontecendo. Veremos se os reajustes pontuais tenderão a se esgotar até o início de março ou vão persistir”, frisou.

Alta dos juros
Os núcleos da inflação estão em alta desde dezembro passado. Na média, saltaram de 0,38% para 0,45% e devem ter atingido, no mês passado, 0,53%, o que, nos cálculos do economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos, dará uma taxa anualizada de 6,5%, o teto da meta oficial (que pode variar dois pontos para cima ou para baixo). É por isso que as expectativas de inflação vêm subindo há duas semanas seguidas, atingindo 4,62%, segundo a pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central.

“Também é por isso que o BC está se mostrando cada vez mais propenso a antecipar o processo de aumento da taxa básica de juros (Selic)”, destacou Campos Neto. “O importantíssimo para o BC é que as expectativas não saiam do controle. Se isso acontecer, começará um processo indesejado de remarcação de preços”, complementou Élson Teles. Os dois economistas, inclusive, admitem a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) começar a subir a Selic em março em vez de abril, para onde aponta o consenso do mercado.

A aposta dentro do governo, principalmente do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é de que o mercado desligue o sinal amarelo com a promessa de se cumprir a meta de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e com o fim dos estímulos fiscais (redução de impostos) dados no auge da crise mundial. No entender de Mantega, tais medidas tendem a tirar um pouco da pressão sobre o crescimento econômico, que estaria jogando a inflação para cima. No BC, porém, o clima é de preocupação. Já admite-se, por sinal, que o IPCA do primeiro trimestre ficará acima do 1,5% previsto no último relatório de inflação. Essa taxa já considerava todos os reajustes pontuais – inclusive o reajuste das mensalidades escolares. Com isso, a previsão oficial de inflação para o ano, de 4,6%, pode estar ultrapassada.

O importantíssimo para o BC é que as expectativas não saiam do controle. Se isso acontecer, começará um processo indesejado de remarcação de preços”

Élson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora
Começo perigoso

A inflação, que deu uma leve trégua em 2009, assustou o consumidor em janeiro. O Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), apresentou variação de 1,29% — maior resultado desde fevereiro de 2003, quando atingiu 1,55%. Reajustes em tarifas de ônibus em São Paulo e aumentos em cursos escolares figuram como os algozes do mês e são responsáveis por mais da metade da inflação.

A chuva também colaborou para deixar o custo de vida mais alto. Os alimentos in natura aparecem em terceiro lugar no ranking de vilões, pois as hortaliças ficaram 0,12% mais caras e as frutas, 0,11%. “Se juntarmos todos esses itens anteriores ao grupo combustíveis, no qual entra o álcool, também prejudicado pela chuva (subiu 0,10%), explicamos quase que toda a inflação”, disse o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor, o economista Paulo Picchetti.

Ainda de acordo com Picchetti, a alta de mensalidades de cursos formais se tornou tradicional em todo começo de ano. Somente a chuva e o aumento no custo do transporte não eram esperados. “Por isso que eu acredito que essa alta é sazonal. É preciso ter cuidado com as projeções de inflação. A tendência é sem dúvida de em fevereiro haver uma desaceleração”, emendou.

Ajuste deve dar R$ 1,6 bi a mais de lucro ao BB
Autor(es): TONI SCIARRETTA
Folha de S. Paulo – 02/02/2010

Revisão na contribuição à Previ equivale a uma capitalização de R$ 960 bi, que servirá para aumento no crédito

O Banco do Brasil, instituição financeira que estuda elevar seu capital em R$ 10 bilhões, poderá contar com quase R$ 1 bilhão adicional em seu patrimônio no final de 2009. Os recursos serão contabilizados como capital próprio e servirão para ampliar a folga do banco para fazer empréstimos -em tese, equivale a uma capitalização de R$ 1 bilhão.
A “capitalização” decorre de um ajuste contábil -que não envolve dinheiro nem passa pelo caixa- de R$ 1,6 bilhão livre de impostos, referente a uma revisão atuarial na contribuição à Previ (fundo de pensão dos funcionários), que vai direto para o lucro do quarto trimestre. Como o BB distribui 40% do lucro para os acionistas, poderá somar ao patrimônio R$ 960 milhões da parcela retida do lucro.
Com esse R$ 1,6 bilhão adicional, o lucro do BB deve passar com facilidade o do Bradesco no ano passado, de R$ 8,012 bilhões. Até setembro, o banco já havia lucrado R$ 6 bilhões.
O ajuste decorre de reconhecimento de espécie de crédito referente à contribuição que o BB faria ao plano de aposentadoria mais antigo da Previ, que tinha benefício definido e não está mais aberto para adesão dos funcionários.
Como o número de beneficiários deve cair, a tendência é que esse plano se torne cada vez mais superavitário e gere “créditos” ao banco.
As ações do Banco do Brasil subiram 6,76% ontem.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 01.02.2010

O Correio Braziliense traz importante reportagem sobre o crescimento da dívida externa, com o título “O Fantasma Volta”, questionando abertamente a idéia propagandeada pelo governo de que o país seria “credor externo”.

Em primeiro lugar, cabe comentarmos a importância desta notícia, que recoloca o tema da dívida externa na grande imprensa. Em segundo lugar, cabe ressaltar que os dados divulgados pelo governo – e reproduzidos pelo jornal – ainda omitem os chamados “empréstimos intercompanhias”, ou seja, empréstimos tomados pelas filiais de multinacionais junto às suas matrizes no exterior. Esta parcela da dívida cresce absurdamente, tendo subido nada menos que US$ 15 bilhões no ano passado, atingindo US$ 80 bilhões. Quando incluímos esta parte da dívida externa, vemos que o total dos débitos do país com o exterior fechou 2009 em US$ 282 bilhões, e não em US$ 202 bilhões, conforme divulga o governo e a grande imprensa.

A reportagem mostra que grande parte do aumento da dívida externa se deve às emissões de títulos feitas pelo Tesouro Nacional em 2009, no montante de US$ 4,1 bilhões. Cabe ressaltarmos, neste aspecto, a grande contradição entre o governo divulgar o empréstimo ao FMI e, ao mesmo tempo, tomar mais dívida externa.

Cabe também comentar a opinião equivocada de uma economista chefe de um banco privado, reproduzida pelo jornal, que culpa o excesso de gastos sociais como causa deste endividamento. Porém, tais emissões de títulos não são destinadas para os gastos sociais, mas ao pagamento da própria dívida externa, cuja origem é questionável e deveria sofrer auditoria, antes de qualquer pagamento.

Por outro lado, a reportagem traz à luz uma importante discussão, sobre o elevado custo de se manter um alto nível de reservas cambiais, que não rendem quase nada e ainda são obtidas por meio de endividamento interno, com altas taxas de juros.

Enquanto a dívida interna sobe sem limite, o governo adia os investimentos, para cumprir a meta de superávit primário. É o que mostra a notícia do Estado de São Paulo, segundo a qual o governo possui R$ 50 bilhões em despesas adiadas, ou seja, despesas que deveriam ter sido feitas em anos anteriores (os chamados “restos a pagar”). Outro entrave apontado é a falta de capacidade do governo gastar os recursos, o que termina também por contribuir para a política de priorização ao pagamento da dívida.

O fantasma volta
Autor(es): Vicente Nunes
Correio Braziliense – 01/02/2010

Débitos do país lá fora voltam a crescer com forte contribuição do setor público. Emissões de títulos do governo e da Petrobras fazem nível superar o de 2005
Paulo de Araújo/CB/D.A Press

É preciso que o aumento do endividamento externo se dê de forma equilibrada, consciente, para que não surjam problemas mais à frente”
Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor da Área Externa do BC

Longe dos debates nos últimos anos, a dívida externa do Brasil voltou ao radar de analistas e investidores. E retornou pelas mãos do governo, que tanto propagandeou o fato de o país ter se tornado credor internacional, ao acumular mais reservas em dólar do que o total dos débitos lá fora. Pelas contas do Banco Central, enquanto o endividamento externo global do país avançou, no ano passado, de US$ 4,1 bilhões para US$ 202,5 bilhões, o saldo devedor pertencente ao setor público disparou mais do que o dobro, exatos US$ 9,8 bilhões, passando de US$ 67,3 bilhões para US$ 77,1 bilhões — o patamar mais elevado desde 2005.

À primeira vista, o aumento da dívida externa pública não assusta. “Para um país que não tem poupança interna suficiente para crescer, como é o caso do Brasil, é normal buscar financiamentos no exterior”, diz o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor da Área Externa do BC. “Mas é preciso que o aumento do endividamento externo se dê de forma equilibrada, consciente, para que não surjam problemas mais à frente”, ressalva. Foi justamente o excesso de dívida externa nos anos 1970 e 1980 que levou o Brasil a consecutivas crises cambiais e a decretar calotes que custaram caro à sua imagem.

Captações

Do crescimento de US$ 9,8 bilhões nos débitos do setor público, quase a metade foi obra do Tesouro Nacional, que, ao longo de 2009, fez cinco emissões de títulos nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, captando US$ 4,1 bilhões. O restante das dívidas foi feito por empresas estatais, sobretudo a Petrobras, para tocar seu bilionário projeto de investimentos. “São operações de longo prazo e a um custo bem menor do que o cobrado no país”, explica o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Para ele, o mais importante, quando se olha o endividamento externo, é a parcela de curto prazo, mais vulnerável aos humores do mercado. E essa caiu no ano passado, de US$ 36,4 bilhões para US$ 30,5 bilhões. Ou seja, a dívida do governo aumentou, mas melhorou muito o seu perfil, combinando vencimentos mais longos e custos menores. Outro dado importante: as empresas privadas, por causa da crise mundial, que reduziu a oferta de recursos, botaram o pé no freio no endividamento. Ampliaram o saldo devedor em apenas US$ 249 milhões contra uma elevação de US$ 10,5 bilhões entre 2007 e 2008.

Na avaliação da economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, não há nada a comemorar em relação ao aumento da dívida externa do setor público. “Isso tem a ver com um Estado inchado, que gasta mal e não tem poupança suficiente para tocar obras importantes, como as de infraestrutura”, afirma. Ela ressalta que, nos últimos anos, quando o país ainda estava solidificando o terreno para galgar taxas de crescimento econômico maiores do que as verificadas nas últimas três décadas, não foi preciso o governo recorrer ao mercado externo para bancar a expansão do país. “Agora, porém, estamos vendo altas do PIB (Produto Interno Bruto) entre 4% e 5% ao ano. Mas, para que esse desempenho se mantenha, será necessário ampliar os investimentos. E, como o país não dispõe de recursos suficientes, terá que buscar lá fora, mesmo que por meio de dívidas”, complementa.

Cautela

O que mantém o ar de tranquilidade entre os analistas e os investidores que vasculham o endividamento externo é o fato de o Brasil ser credor internacional em dólar em US$ 61 bilhões. “Felizmente, aproveitou-se a onda de crescimento do mundo e de capitais fartos antes do estouro da crise mundial (em setembro de 2008) para se constituir reservas internacionais que hoje passam dos US$ 240 bilhões” diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. Tal tranquilidade, no entanto, não impede os economistas de olharem com certa cautela os denominados indicadores de solvência externa no país, que, até o ano passado, vinham mostrando desempenhos excelentes e foram fundamentais para que o Brasil recebesse o grau de investimento das três principais agências de classificação de risco do mundo — Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s.

Em 2008, por exemplo, os gastos com a dívida (amortizações e juros) representavam 16,5% das exportações. Em dezembro passado, essa relação passou para 24,2%. Quer dizer, precisou-se de uma parcela maior das exportações para honrar os “serviços” da dívida externa. E mais: a dívida total do setor público, que em 2008 representava 42,4% da dívida externa total, passou a equivaler a 47,6%, isto é, quase à metade do endividamento. “Realmente, houve uma piora desses indicadores. Mas com a forte retomada da economia neste ano, veremos uma melhora boa nesses números nos próximos meses”, garante Altamir Lopes, do BC.

Dúvida no custo das reservas

Que as reservas internacionais do país foram fundamentais para que o Brasil atravessasse o pior da crise mundial de pé, ninguém tem dúvidas. Mas há uma certa decepção com a rentabilidade que a montanha de dinheiro acumulada pelo Banco Central — mais de US$ 240 bilhões — vem registrando. Em 2009, os ganhos totalizaram US$ 4,7 bilhões, resultado 34% inferior ao contabilizado em 2008 (US$ 7,2 bilhões) e o correspondente à metade do que o país pagou de juros, no mesmo período, pela sua dívida externa (US$ 9,1 bilhões). “A queda na remuneração das reservas decorreu dos juros menores pagos no mundo, como forma de estimular a economia global”, explica o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

O grosso das reservas está aplicado em títulos públicos dos Estados Unidos, com taxa próxima de zero. Mas como não há perspectivas de mudança rápida nos juros americanos ao longo deste ano, a tendência é aumentar os questionamentos sobre a necessidade de o Brasil continuar ampliando as reservas internacionais. A discussão deverá ganhar corpo, devido às perspectivas de elevação da taxa básica (Selic) no Brasil, aumentando o diferencial entre os ganhos do país com o “colchão anticrise” e o que o BC paga de juros para retirar do mercado os reais usados para a compra de dólares.

Estudo

Em dezembro do ano passado, o economista Darwin Dib, do Banco Itaú Unibanco, fez um estudo para calcular o custo de se manter as reservas internacionais e chegou a um número espantoso: R$ 25 bilhões nos 12 meses terminados em outubro. “Esse custo tem que ser contrabalançado com o benefício de proteger o país a choques externos, diante do que aconteceu há um ano”, afirma. Mas ele pergunta: “Qual é o limite para a acumulação de reservas, dado o seu custo de carregamento?”. Dentro do BC, oficialmente, optou-se pelo silêncio. Mas, em debates internos, a cúpula da instituição não esconde a irritação. Para o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor da Área Externa do BC, não há o que discutir sobre a importância das reservas. Porém, a seu ver, deve-se evitar os exageros, devido ao custo fiscal para o país. “Portanto, daqui por diante, o governo terá que medir até onde pode ir com as reservas, sobretudo porque não terá mais vida fácil para fazer o ajuste fiscal”, avisa. (VN)

GOVERNO TEM R$ 50 BI EM DESPESAS ADIADAS
GOVERNO CRIA ‘ORÇAMENTO PARALELO’
Autor(es): Renée Pereira
O Estado de S. Paulo – 01/02/2010

A dificuldade do governo federal para gastar o dinheiro público criou um caos orçamentário no Brasil. Além dos recursos autorizados e não gastos, há uma montanha de despesas cujo pagamento está sendo adiado ano após ano a ponto de virar um orçamento paralelo. São os chamados restos a pagar, despesas empenhadas (compromisso de que há crédito para a obra) que não receberam desembolso do Tesouro e foram transferidas para o ano seguinte.

Entre 2006 e janeiro de 2010, essa conta quase quadruplicou (290%). Saltou de R$ 12,8 bilhões para cerca de R$ 50 bilhões, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). É como se a União tivesse, em todo início de ano, um orçamento a mais para gastar.

O problema é que o pagamento dos restos de exercícios anteriores concorre diretamente com a execução do orçamento anual. Isso porque, além da falta de capacidade para gastar, o governo precisa cumprir metas de superávit fiscal. Quitar as duas coisas poderia afetar as contas públicas, conclui o Tribunal de Contas da União (TCU), que já recomendou mudanças à Secretaria do Tesouro Nacional.

“O orçamento anual virou peça de ficção”, diz o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas. Ele lembra que tudo começou no fim da década de 90 como estratégia para cumprir as metas de superávit fiscal. Para preservar os limites estabelecidos, o governo passou a empenhar e pagar os valores apenas no ano seguinte. Mas, como o dinheiro para investimento era escasso, o governo não tinha problemas.

Com o avanço da economia e aumento da arrecadação, o orçamento cresceu. Foi aí que os gargalos da gestão pública vieram à tona. Com a maior disponibilidade de recursos, a estrutura do governo ficou defasada e insuficiente para gastar tudo no próprio exercício, observa o especialista em contas públicas Raul Velloso. “Agora o problema não é mais a escassez de dinheiro, mas a incapacidade de gastar os recursos.” Em 2008, o Ministério dos Transportes inscreveu em restos a pagar 75,8% do montante autorizado para investimento no ano.

Em estudo feito a pedido do Estado, Velloso mostra que os valores de conta a pagar nos últimos anos têm superado com folga os investimentos efetivamente executados dentro do ano. Segundo ele, em 2009 foram feitos investimentos da ordem de R$ 34 bilhões enquanto os restos a pagar do ano somaram R$ 35,3 bilhões. Em outra comparação, o estudo mostra que o valor pago em 2009 representou 88% dos restos de 2008. Isso quer dizer que o governo gastou apenas R$ 4 bilhões do exercício de 2009.