Explode a remuneração da sobra de caixa dos bancos com a alta da taxa Selic pelo Banco Central

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O jornal Valor Econômico de hoje confirma as denúncias da Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), de que a forte alta de juros pelo Banco Central (BC) fez explodir a remuneração da sobra de caixa dos bancos por meio das chamadas “Operações Compromissadas”, cujos gastos com juros subiram nada menos que 161% em 2022, em comparação a 2021, tendo atingido R$ 133,2 bilhões ano passado. (Fonte: BCB , folha 45)

Porém, a notícia não mostra o aumento percentual ainda muito maior de outro instrumento de remuneração da sobra de caixa dos bancos, os chamados “Depósitos Voluntários Remunerados”, cujos gastos com juros sequer aparecem no Balanço do BC divulgado ontem, o que é uma grave falta de transparência. Principalmente porque tal instrumento não possui limite de remuneração, pois durante a votação, no Senado Federal, do Projeto de Lei que criou esse “Depósito”, foi rejeitada uma emenda que procurava limitar tal remuneração à Taxa Selic.

A ACD estimou, com base no estoque diário de tais depósitos, e aplicando-se a Taxa Selic (ou seja, tal estimativa pode estar subestimada), que os gastos com juros destes “depósitos voluntários” aumentaram 5.154% ano passado (em comparação a 2021), embora o valor em reais destes juros ainda estejam bem menores (cerca de R$ 5 bilhões em 2022), porém, em crescimento exponencial.

A notícia do Valor também confirma outra suspeita da ACD, divulgada desde 2020, de que os “Depósitos Voluntários Remunerados” são uma alternativa para o BC remunerar a sobra de caixa dos bancos de forma totalmente independente do governo eleito pelo povo, ou seja, sem necessitar da utilização de títulos do Tesouro Nacional. Desta forma, ainda que contra a vontade do povo, o BC pode remunerar ainda mais a sobra de caixa dos bancos, e assim só aceitam emprestar para pessoas e empresas a juros muito mais altos, já que ganham uma fortuna de juros do BC sem correr nenhum risco.

Em 2020, a ACD denunciou a aprovação deste instrumento nefasto, infelizmente originado de um projeto de um parlamentar do Partido dos Trabalhadores e apoiado por economistas ligados ao atual governo, que chegaram inclusive a publicar artigo atacando a Auditoria Cidadã da Dívida, e defendendo aquele projeto. Na época, a ACD mostrou todos os equívocos daquele ataque neste artigo. Agora, com o Governo Lula lutando contra a política de juros altos do BC “independente” e todos os seus malefícios, o tempo mostra quem tinha razão.