Europeus mantiveram estratégias antigas de dominação ao colonizarem as Américas
Europeus mantiveram estratégias antigas de dominação ao colonizarem as Américas
Além de impor a cultura espanhola, destruíram bibliotecas e queimaram livros incas. Para entender as revoluções na América Latina, é importante entender o contexto histórico.
Por: Ana Carolina Madeira
Em continuidade ao Ciclo Nacional pela Revolução Brasileira em parceria com a Auditoria Cidadã da Dívida, aconteceu a palestra “As Revoluções na América Latina”, com o professor de História da UFSC, Waldir Rampinelli, no dia 31 de agosto, no Auditório do Sinergia. O curso teve como objetivo auxiliar na compreensão do conceito de Revolução a partir do Manifesto Comunista e de autores marxistas e discorrer sobre as Revoluções Mexicana, Cubana e Nicaraguense na perspectiva de longa duração.
“Os antigos Incas tinham bibliotecas e faculdades. Tem alguns relatos no livro A História da Destruição Cultural da América Latina, de Fernando Báez, sobre um espanhol que ficou orgulhoso por queimar livros incas e destruir bibliotecas inteiras”, conta Rampinelli sobre a colonização espanhola. Os descendentes das civilizações Incas, Maias, Astecas e demais indígenas sempre quiseram voltar aos modos de produção deles.
Junto aos negros, indígenas colocaram as sementes de projetos de independência em toda a região de idiomas originários do Latim. Segundo o professor de História da UFSC, o Haiti teve a primeira revolução entre os latino-americanos, com uma guerra de classes, onde o povo se voltou contra os dominantes (que por acaso eram brancos). “A liberdade dos negros foi o voo do Condor na América Latina”, comenta o historiador. Os haitianos ajudaram os Estados Unidos a serem independentes da Inglaterra. Justo o Haiti também foi destruído pela França e pelos EUA, assim como o Paraguai foi arrasado pelo Brasil, pela Argentina e pelo Uruguai.
“Cada povo tem sua própria história e processo”, resume Wladir Rampinelli. Para o palestrante, a Revolução Mexicana marca o início da Idade Contemporânea. Teve como principal motivo as terras indígenas e muitos assassinatos de camponeses. Então, unidos, camponeses atacaram os donos de terras e colonos, para pegar armas. Ele indica o livro Raiz e Razón de Zapata de Jesús Sotelo Inclán. Lembra que a Constituição do México foi promulgada em 1917, muito inovadora, na época.
O evento chamado de Grito de Iara, também conhecido por Guerra dos 10 anos, ocorrido em 1868 sempre foi citado por Fidel Castro como movimento precursor da Revolução Cubana. De acordo com estimativas da agência estadunidense de inteligência, CIA, 638 tentativas de assassinar o comandante e presidente cubano. A constituição cubana entrou em vigor em 1940. O professor conta que até hoje continua o bloqueio à Cuba. Não é mais um embargo oficial, mas quando um navio encosta num porto cubano, fica 40 dias sem poder atracar nos Estados Unidos.
Guatemala é explicada como a primeira tentativa de revolução liberal burguesa que usou os conceitos racionalistas da América Latina. O Brasil, tentou ser o segundo país a ter esse tipo de revolução, com o então presidente João Goulart, mas não obteve sucesso por não ter um programa definido e debatido com a população. Por outro lado, a Revolução Sandinista, da Nicarágua, foi vitoriosa por contar com apoio de países vizinhos. “Onde começa a onda do mar? Quilômetros mar adentro. Não na espuma depois que a onda quebra”, conclui o professor.