“Movimento sindical está em profunda crise, mas as lutas dos trabalhadores na base farão ressurgir um sindicalismo de novo caráter”, declara o economista
Por: Ana Carolina Madeira (jornalista e voluntária da ACD)
O economista Maurício Mulinari, do DIEESE palestrou no curso de formação do Núcleo Catarinense de Auditoria Cidadã da Dívida (ACD/SC) do dia 6 de abril. Mulinari analisou a história sindical e a conjuntura política nacional, onde definiu que, “a situação atual é altamente explosiva, Bolsonaro está gestando o caos social”. Por outro lado, o economista assegurou que o Brasil viveu recentemente o maior ciclo de greves (de 2013 a 2018) e que não há como evitar novas paralisações, mesmo sendo um momento de crise drástica do sindicalismo.
Ele comentou que, “pautas como a do Lula Livre não tem capacidade de mobilizar a massa dos trabalhadores e, o pior, estão dificultando a mobilização para a Reforma da Previdência. Esta campanha, inclusive, não é eficaz nem ao menos para libertar o ex-presidente e, ao afastar as massas dos sindicatos e partidos de esquerda, só ajuda a mantê-lo preso”. Sobre o futuro do da representação de classe, foi enfático. “Movimento sindical está em profunda crise, mas as lutas dos trabalhadores na base farão ressurgir um sindicalismo de novo caráter. Podemos perder muitas batalhas ainda, mesmo assim precisamos construir uma vanguarda política para quando o sindicalismo reascender”, declarou o palestrante.
De acordo com o economista do Dieese, de 1997 a 2011, tivemos o menor ciclo grevista da nossa história, onde os governos brasileiros apostaram na conciliação de classes como forma de desmobilizar e neutralizar o movimento sindical. Explicou que as pautas sobre família e religião retornaram ao cenário político brasileiro porque, “as pessoas estão buscando estabilidade que o capital não é capaz de oferecer. É uma geração inteira perdendo propriedade privada, que teve crédito barato, mas neutralizou o movimento de trabalhadores. O preço das commodities estava alto, todos estavam ganhando e sobrava para programas sociais. Isso camuflou a guerra de classes. Foi só baixar o preço das commodities que a camada dominante foi para cima da base trabalhadora. Começa a emergir a austeridade fiscal já mirando na sustentação do Sistema da Dívida e nas desonerações fiscais”.
Só no governo Dilma, foram R$ 1 Trilhão em exonerações. Já em março de 2019, as desobrigações fiscais para empresários superaram em R$ 100 milhões o famoso déficit da Previdência. Sobre os motivos para a classe trabalhadora “virar as costas” para as direções sindicais, ao ponto de iniciarem greves sem os dirigentes, Mulinari citou vários motivos. “Entretanto, no momento de desespero, como no fechamento da fábrica da Ford caminhões em São Bernardo do Campo, os trabalhadores retornam ao sindicato como seu último recurso, o que recoloca a centralidade do sindicalismo na vida dos trabalhadores”, salientou.