Política de juros altos tem atraído os investidores estrangeiros ao Brasil
O Jornal Valor Econômico traz a opinião de representante do setor financeiro sobre a dívida interna brasileira: “Não existe um país no mundo com políticas econômicas tão boas pagando rendimentos tão altos quanto o Brasil”.
A notícia mostra que a política de juros altos tem atraído os investidores estrangeiros para o país, conforme diz outro representante dos rentistas: “O Banco Central está tomando medidas para ancorar a inflação e as expectativas inflacionárias”. Devido aos recentes aumentos nas taxas de juros, os títulos da dívida interna brasileira tiveram um ganho acima da média de outros “mercados emergentes” neste ano.
Outra notícia do Valor mostra um fator que contribui para que a dívida interna seja bastante procurada pelos investidores estrangeiros: o fato de o Real estar se valorizando frente a outras moedas estrangeiras. Desta forma, os estrangeiros podem vir para o país e comprar títulos da dívida interna, ganhando as maiores taxas de juros do mundo, sabendo que ao final do processo poderão trocar seus títulos da dívida interna por uma quantidade maior da moeda estrangeira que trouxeram inicialmente.
A notícia também mostra como o Banco Central, ao comprar dólares no chamado “mercado futuro”, estimula que os especuladores façam manobras para abaixar a cotação do dólar, e assim ganhem rios de dinheiro às custas do povo.
Outra atuação do Banco Central que provoca danos ao patrimônio público é a divulgação do novo “Relatório de Inflação”, que aponta um aumento na demanda interna, levando os rentistas a aumentarem os chamados “juros futuros”, ou seja, os juros exigidos para emprestarem ao governo. Conforme mostra a notícia do Estado de São Paulo, o “mercado” aumenta mais ainda tais taxas nos dias em que há vendas de títulos pelo Tesouro Nacional.
Analisando-se a tabela do Tesouro Nacional, verificamos que ontem foram emitidos quase R$ 5 bilhões em títulos, que pagarão juros de 12,2% ao ano em média, ou seja, bem mais que a já absurda taxa Selic.
Títulos em reais têm maior retorno desde setembro
Autor(es): Gabrielle Coppola e Ye Xie, Bloomberg News
Valor Econômico – 01/07/2010
Os títulos brasileiros em moeda local garantiram nos últimos três meses a maior margem de retorno aos investidores desde setembro do ano passado. Esse comportamento dos papéis reflete o aumento na confiança de que o Banco Central vai conseguir conter a inflação com a alta dos juros.
A dívida local brasileira deu retorno de 1,6% nos últimos três meses, contra uma perda média de 1,1% entre nações emergentes, de acordo com os índices amplos GBI-EM do J.P. Morgan Chase & Co. A última vez em que os bônus do Brasil tiveram um desempenho tão superior aos de outros países foi no trimestre encerrado em setembro de 2009, quando a Moody”s Investors Service elevou a classificação de risco do país para “Baa3”, a menor nota da escala de grau de investimento.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aumentou a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual desde abril para frear a expansão mais rápida em 15 anos da maior economia da América Latina. A crescente aposta de que Meirelles vai manter a inflação sob controle colaborou para uma compra líquida de US$ 3 bilhões em títulos soberanos em dólar e em moeda local nos cinco primeiros meses do ano, comparado a US$ 2,6 bilhões durante todo o ano de 2009, segundo dados compilados pela empresa de pesquisas EPFR Global, com sede em Cambridge, no estado americano de Massachusetts.
“O Banco Central está tomando medidas para ancorar a inflação e as expectativas inflacionárias,” disse Pablo Cisilino, que ajuda a administrar US$ 13,5 bilhões em dívida de mercados emergentes, incluindo papéis denominados em real, na Stone Harbor Investment Partners em Nova York. “Continuamos a ver entrada de capital no País.”
Economistas reduziram a previsão para a taxa de inflação deste ano de 5,7% em maio para 5,6%, de acordo com a pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central junto às instituições financeiras. A inflação se desacelerou de 5,3% em abril para 5,2% em maio. O centro da meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano é de 4,5%.
A taxa básica brasileira de 10,25% se iguala a um juro real -ou seja, ajustado pela inflação – de cerca de 5%. A taxa real, ainda que abaixo dos 11% em vigor quando o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo em 2003, é a terceira maior entre 53 países acompanhados pela “Bloomberg”. A Croácia tem a maior taxa, de 6,6%, seguida pelos 5,8% da Letônia.
“Não existe um país no mundo com políticas econômicas tão boas pagando rendimentos tão altos quanto o Brasil”, disse Diego Donadio, economista do BNP Paribas em São Paulo. “Se houver estabilização no mercado internacional, os bônus brasileiros vão superar o desempenho da dívida de outros mercados emergentes.”
Os títulos denominados em real avançaram 3,1% este ano, comparado a um ganho médio de 2,9% para a dívida de países emergentes em moeda local. O rendimento nos bônus de referência do Brasil com cupom de 10% e vencimento em 2017 caiu ontem para 12,23%, o menor nível em um ano.
Mercado derrete, mas real fica firme
Por dentro do mercado
Autor(es): Eduardo Campos
Valor Econômico – 01/07/2010
A queda superior a 10% que os principais índices de ações amargaram no trimestre assusta, mas não é surpresa. Afinal, o período foi de arrepiar. Estourou e ainda existe uma crise na Europa, então nada mais natural que correr das posições em risco.
Dito isso, o que surpreende, mesmo, é o comportamento do dólar no mercado local. O preço da moeda subiu “apenas” 1,29%.
Para ilustrar o quão discrepante é tal comportamento do dólar entre abril e junho, basta voltarmos para janeiro de 2010. Em apenas um mês o dólar saltou 8,15%, enquanto o Ibovespa perdeu 4% e o Dow Jones 3,5%.
Ao compararmos o desempenho do real contra outras divisas, o resultado também é favorável à moeda nacional.
O dólar canadense, por exemplo, comparável ao real, pois o país também é exportador de commodities, caiu 4,6% ante a moeda americana. Na mesma linha, o dólar australiano cedeu 8,3%. O peso mexicano, que também concorre com a moeda brasileira nos portfólios internacionais, ficou 4,5% mais barato.
A primeira palavra que se ouve quanto se questionam especialistas sobre tal comportamento da moeda, é “fluxo”. No entanto, sabemos que há algo mais do que isso.
Afinal, não há sobra de moeda no mercado local. O Banco Central, por meio de seus leilões de compra diários, enxuga todo o dólar que entra via conta comercial e financeira e mais um pouco.
Vamos aos números. Entre abril e junho (até dia 25, último dado disponível), o fluxo cambial aponta sobra de US$ 209 milhões, assim divididos: US$ 2,24 bilhões em abril, mais US$ 2,60 bilhões em maio e uma saída de US$ 4,66 em junho até o dia 25.
Já as atuações do BC somam US$ 9,05 bilhões no mesmo período. Foram US$ 3,02 bilhões em abril, outros US$ 4,17 bilhões em maio e US$ 1,85 bilhão em junho, também até o dia 25.
Com isso, temos um saldo líquido no mercado negativo em US$ 8,84 bilhões.
Como não existe sobra física de moeda, o que melhor explica essa ancoragem de preço do dólar são as atuações no mercado futuro. Cabe lembrar que o BIS mostrou que o real passou o euro no mercado de derivativos e até o final do primeiro trimestre já era a segunda moeda mais negociada do mundo nas bolsas de derivativos.
Os agentes se utilizam dessa questão do fluxo para montar posições que ganham com a valorização do real e atuam para que isso se torne realidade.
Agora em junho tivemos os bancos como os principais vendedores de moeda. Até o dia 18, última atualização feita pelo BC, a posição vendida no mercado à vista passava de US$ 8 bilhões. Fora isso, a posição vendida das instituições no mercado futuro somava outros US$ 4,25 bilhões até o dia 29 de junho.
O trader de renda fixa e câmbio do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella, aponta que o mercado se apoia na expectativa de fluxo futuro de recursos para seguir com posições vendidas (apostas pró-real). Notadamente as principais fontes de dólares no curto prazo seriam a oferta de ações do Banco do Brasil e a capitalização da Petrobras.
No entanto, diz Portella, tal situação não deixa de representar um risco, pois a porta de saída pode ser pequena no caso de algum revés, seja ele externo, como um agravamento da crise europeia, ou interno, como um novo adiamento para oferta de ações da Petrobras. “O mercado está um pouco leniente nesta questão”, alerta o especialista.
Juros sobem após Relatório de Inflação indicar demanda forte
Autor(es): Denise Abarca
O Estado de S. Paulo – 01/07/2010
Os juros futuros subiram, ontem, em meio à deterioração das bolsas nos Estados Unidos à tarde, após a agência de risco Moody””s colocar em revisão para possível rebaixamento os títulos da dívida soberana da Espanha. Antes dessa notícia, a pesquisa sobre emprego no setor privado norte-americano, que mostrou criação de 13 mil vagas em junho, ante estimativa de alta de 60 mil postos, gerou certa cautela. Contudo, a aposta de que a demanda doméstica seguirá aquecida, com potencial de amenizar possíveis estragos vindos do cenário externo, que pode exigir um ajuste da taxa Selic além do que se esperava, foi reforçada depois do Relatório Trimestral de Inflação.
No documento, o Banco Central elevou sua projeção de crescimento do PIB em 2010 de 5,8% para 7,3% e afirmou que “”o crescimento vigoroso registrado pelo Produto Interno Bruto no 1º trimestre do ano evidencia a consolidação do atual ciclo de expansão da economia. “” O número está acima da projeção dos economistas do mercado para o PIB na pesquisa Focus, do BC, de 7,13%, mas, por outro lado, há instituições com previsão de expansão acima de 8% este ano. O leilão de títulos prefixados do Tesouro Nacional também ajudou a deixar as taxas mais pressionadas. O juro para janeiro de 2011 subiu a 11,35%; para janeiro de 2012, a 12,06%; e para janeiro de 2014, a 12,18%.
Na Bolsa, o Ibovespa caiu 1,68%, aos 60.935,90 pontos; em junho perdeu 3,35%; e no primeiro semestre do ano recuou 11,16%.
No mercado de câmbio, o dólar recuou 0,33%, a R$ 1,8040 no balcão. Em junho, a divisa cedeu 0,88% e, no primeiro semestre, apurou alta de 3,5%.
Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 29.06.2010
Diversos jornais noticiam os resultados ruins das contas públicas no mês passado, dando a entender que os gastos sociais estariam em crescimento explosivo, e que teriam de ser cortados. A Agência Estado ainda traz notícia equivocada, dizendo que o superávit primário da União, Estados e Municípios (reserva de recursos para o pagamento da dívida) em maio (R$ 1,43 bilhão) teria sido o menor da série histórica para o mês de maio desde 1991. Porém, analisando-se os dados do Banco Central, verificamos que isto é mentiroso: em maio do ano passado o superávit foi menor (R$ 1,1 bilhão).
Ou seja: na ânsia de noticiar uma suposta explosão de gastos sociais, a grande imprensa se utiliza até mesmo de dados mentirosos.
É importante ressaltar também que o critério utilizado pelo governo e pela imprensa para se considerar as contas públicas como “boas” ou “ruins” é bastante tendencioso: desconsidera completamente os gastos com a dívida pública, dentro da metodologia neoliberal do “superávit primário”, ou seja, a diferença entre receitas e despesas, desconsiderando os gastos com juros da dívida pública.
Desta forma, ocultando-se os gastos com a dívida, aponta-se a Previdência, os servidores públicos e os demais gastos sociais como vilões das contas públicas.
Geralmente, como na notícia da Agência Estado, a última seção da reportagem é que mostra os gastos com a dívida em maio: R$ 16 bilhões, ou seja, mais de 10 vezes o superávit primário.
Setor público tem superávit de R$ 1,43 bilhão em maio, o pior da série histórica para o mês
Agência Estado – terça-feira, 29 de junho de 2010 11:45
Resultado fica abaixo das previsões dos analistas; no acumulado de janeiro a maio, contas têm superávit de R$ 38 bilhões, o equivalente a 2,72% do PIB
Fábio Graner e Fernando Nakagawa, da Agência Estado
BRASÍLIA – O setor público registrou em maio superávit primário de R$ 1,430 bilhão, informou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
A Previdência, inclusive, foi a responsável pelo resultado negativo das contas públicas no mês passado, ao amargar déficit primário de R$ 2,590 bilhões.
O resultado ficou abaixo do piso das previsões colhidas pelo AE Projeções junto ao mercado, que variavam de superávit de R$ 4,900 bilhões a R$ 8,400 bilhões em maio, com mediana em R$ 7,100 bilhões.
Empresas estatais têm o melhor superávit para meses de maio
O Governo Central registrou déficit primário de R$ 1,431 bilhão, o pior para o mês desde o início da série histórica, em dezembro de 1991. Os governos regionais tiveram superávit de R$ 1,469 bilhão e o conjunto das empresas estatais teve saldo positivo de R$ 1,392 bilhão – o melhor superávit primário para os meses de maio da mesma série, como também esclareceu Altarmir.
Individualmente, as companhias federais (superávit de R$ 935 milhões), as estaduais (superávit de R$ 403 milhões) e municipais (superávit de R$ 54 milhões) também apresentaram o melhor resultado para os meses de maio da série histórica.
A diferença entre o resultado do Governo Central apurado pelo BC e o apurado pelo Tesouro – este anunciado mais cedo – deve-se às metodologias de apuração.
Em maio do ano passado, o setor público registrou superávit primário de R$ 1,119 bilhão, com o Governo Central apresentando déficit primário de R$ 291 milhões, os governos regionais, superávit de R$ 3,214 bilhões, e o conjunto das empresas estatais, déficit primário de R$ 1,804 bilhão.
Resultado acumulado
No acumulado de janeiro a maio de 2010, o setor público tem superávit de R$ 38,046 bilhões, o equivalente a 2,72% do PIB. Em igual período de 2009, o superávit era de R$ 31,879 bilhões, ou 2,60% do PIB.
Altamir Lopes disse que a expectativa é de cumprimento da meta de superávit primário de 3,3% do PIB, definida para este ano, sem o uso das possibilidades de abatimento previstas em lei. Na visão do Chefe do Departamento do BC, as receitas que já estão em expansão devem crescer mais ao longo do ano e, além disso, a partir de junho, o efeito do último contingenciamento de gastos do governo federal deve começar a ser sentido mais efetivamente.
No resultado acumulado em 2010, o Governo Central contribui com superávit de R$ 24,021 bilhões (1,72% do PIB), governos regionais com superávit de R$ 14,259 bilhões (1,02% do PIB) e as empresas estatais com déficit primário de R$ 234 milhões (0,02% do PIB).
No acumulado dos últimos 12 meses encerrados em maio, o superávit primário do setor público é de R$ 70,685 bilhões, 2,13% do PIB. Em abril, o superávit em 12 meses estava em R$ 70,375 bilhões ou 2,15% do PIB.
Ainda no acumulado de 12 meses encerrados em maio de 2010, o Governo Central tem superávit primário de R$ 44,379 bilhões (1,34% do PIB), os governos regionais têm saldo positivo de R$ 22,464 bilhões (0,68% do PIB) e as estatais, superávit de R$ 3,842 bilhões (0,12% do PIB).
Déficit nominal
Segundo o BC, o setor público registrou em maio déficit nominal de R$ 14,761 bilhões – o pior resultado da série histórica. O déficit nominal ocorre quando a economia para o pagamento de juros, que é o superávit primário, é insuficiente para as despesas de serviços da dívida pública. Dessa forma, o setor público termina o período com caixa negativo.
Em maio do ano passado, o setor público teve déficit nominal de R$ 11,474 bilhões. No mês passado, o saldo nominal negativo foi determinado pelo déficit de R$ 12,306 bilhões do Governo Central e pelo déficit de R$ 3,713 bilhões dos governos regionais, que foram ligeiramente amenizados pelo superávit nominal de R$ 1,258 bilhão do conjunto das empresas estatais, com destaque para as empresas federais, cujo resultado positivo foi de R$ 1,065 bilhão.
Dívida líquida
A dívida líquida do setor público fechou maio em R$ 1,371 trilhão, o equivalente a 41,4% do PIB. Em abril, o nível do endividamento correspondia a 41,8% do PIB ou R$ 1,370 trilhão.
Segundo a nota do BC, a desvalorização cambial e o crescimento da economia foram os principais responsáveis pela redução de 0,4 ponto porcentual da dívida líquida no mês passado ante o mês anterior.
No acumulado dos cinco primeiros meses de 2010, a dívida registra redução de 1,4 ponto porcentual, já que o indicador estava em 42,8% do PIB ao final de 2009.
Gasto com juros
O gasto com juros no setor público em maio atingiu R$ 16,191 bilhões. A despesa foi superior à observada em abril, quando foram gastos R$ 14,485 bilhões. Um ano atrás, em maio de 2009, a despesa havia sido de R$ 12,593 bilhões. Segundo o BC, a maioria dessa despesa registrada no mês passado foi de responsabilidade do Governo Central, que pagou R$ 10,874 bilhões em juros aos credores da dívida. No mesmo período, o desembolso dos governos regionais somou R$ 5,182 bilhões e as estatais pagaram R$ 134 milhões.
No acumulado de janeiro a maio, o gasto com juros nominais somou R$ 75,654 bilhões, o equivalente a 5,42% do PIB. Em igual período de 2009, o gasto havia sido menor, de R$ 65,431 bilhões, o equivalente a 5,33% do PIB.
Maio tem saldo fiscal fraco e governo espera melhora
Portal G1 – 29/06/2010 15h08 – Atualizado em 29/06/2010 15h08 – Reuters
Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) – A economia feita pelo setor público brasileiro para o pagamento de juros cresceu em maio em relação ao mesmo período do ano passado, quando o país ainda sofria os efeitos da crise global. Mas, com as despesas em alta, o saldo foi o segundo pior para o mês da série do Banco Central, iniciada em 2002.
O superávit primário foi de 1,43 bilhão de reais em maio, informou o BC nesta terça-feira. O resultado foi bem inferior aos juros apropriados no mês e, com isso, o país teve déficit nominal recorde para o período.
Em maio do ano passado, o superávit havia sido de 1,119 bilhão de reais e, em maio de 2008, de 8,525 bilhões de reais.
A autoridade monetária previu melhora do resultado até o final do ano, quando se espera uma acomodação das despesas, por conta do recente bloqueio orçamentário, e recuperação mais expressiva das receitas.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, mais cedo também havia reiterado que o governo cumprirá a meta de superávit primário de 3,3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano, sem usar a prerrogativa de abater despesas com investimentos.
Em 12 meses até maio, o superávit acumulado pelo setor público caiu para 2,13 por cento do PIB, ante 2,15 por cento do PIB em abril. “O governo decidiu no início do ano que vai cumprir a meta cheia e é isso que estamos construindo”, afirmou Augustin a jornalistas.
DESPESAS CRESCEM
Em maio, as receitas do governo central cresceram 16 por cento na comparação com o ano anterior. No mesmo período, as despesas totais tiveram alta de 19 por cento.
“Aparentemente, como a arrecadação está indo bem, isso quer dizer que o governo está ainda com gastos elevados”, afirmou o estrategista-chefe do WestLB do Brasil, Roberto Padovani.
Parte desse aumento é explicado pelos investimentos, que cresceram mais de 50 por cento no mês. No acumulado do ano, a alta foi de 80 por cento, para 16,6 bilhões de reais.
No mês passado, o governo central teve superávit primário de 1,431 bilhão de reais, segundo os dados do BC. Estados e municípios e as estatais tiveram superávit de 1,469 bilhão de reais e 1,392 bilhão de reais, respectivamente.
Apesar do déficit nominal de 14,761 bilhões de reais registrado pelo país no mês –o mais elevado da série–, a dívida líquida como proporção do PIB caiu, favorecida principalmente pelo crescimento da economia.
A dívida foi a 41,4 por cento do PIB em maio, frente a 41,8 por cento do PIB em abril. O BC previu nova retração em junho, para 41,1 por cento do PIB.
(Com reportagem de Ana Nicolaci da Costa e Fernando Exman)
Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 28.06.2010
Os jornais de hoje noticiam que o Banco Central deve seguir as expectativas de inflação feitas pelo “mercado”, segundo as quais os juros terão de subir mais para manter a inflação dentro da meta de 4,5% ao ano. A expectativa é de que a taxa de juros Selic, atualmente de 10,25% ao ano, chegue a mais de 12% no final deste ano, o que certamente aumentará os gastos com juros da dívida interna. Ou seja: como se não bastasse esta taxa já ser a mais alta do mundo, o “mercado” ainda quer mais, às custas do povo.
Conforme comentado em edições anteriores desta seção, a CPI da Dívida constatou que tais expectativas de inflação consideradas pelo BC em sua decisão sobre a taxa de juros são formuladas principalmente pelos próprios rentistas, o que caracteriza grave indício de ilegalidade da dívida interna. Este e outros graves indícios de irregularidades no endividamento compuseram o Voto em Separado (Relatório Alternativo) da CPI, e se encontram sob investigação do Ministério Público Federal.
O Jornal Valor Econômico comenta sobre a reforma financeira nos EUA, que prevê limites para os mecanismos especulativos dos bancos, mas que se tornou mais branda para poder ser aprovada pelos deputados mais conservadores. Conforme já comentado por esta seção, os banqueiros fazem forte pressão junto aos parlamentares contra a proposta de reforma, e parece que estão tendo sucesso. Como resultado, as ações de bancos como o J.P. Morgan Chase, Citigroup, Goldman Sachs e Morgan Stanley tiveram forte alta na sexta feira.
Mesmo a introdução de uma taxa de US$ 19 bilhões sobre os bancos foi visto por eles mesmos como um “preço pequeno” a ser pago, diante da ajuda trilionária que já tiveram.
Enquanto nos EUA o lobby dos banqueiros consegue evitar que o setor financeiro pague pela crise que provocou, no G-20 é o governo brasileiro que faz este papel nefasto. O jornal Estado de São Paulo mostra que o Brasil trabalhou contra a proposta do G-20 de instituir uma taxa global sobre transações financeiras, e ainda comemorou que tal taxa não constou do comunicado deste grupo de países. Como consequência, fica mais difícil para países como a Alemanha, França e Inglaterra instituírem tal taxa, e assim os custos da crise nestes países ficam cada vez mais com os trabalhadores, que sofrem com a imposição de reformas da previdência, por exemplo.
Importante ressaltar que a taxação dos fluxos financeiros internacionais (a chamada “Taxa Tobin”) é uma bandeira histórica de diversos movimentos internacionais, como a ATTAC – Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos – e consta no item 54 do próprio “Programa de Governo Lula 2002”, denominado “Concepção e Diretrizes para o Governo do PT para o Brasil”.
Agora, o governo brasileiro é contra esta taxa, alegando que os bancos no Brasil não receberam um centavo de ajuda na crise. Porém, o Tesouro Nacional paga ao sistema financeiro os maiores juros do mundo na dívida interna.
BC revê previsão de inflação e PIB
Por dentro do mercado
Autor(es): Eduardo Campos
Valor Econômico – 28/06/2010
Esta semana o mercado ganha uma visão mais apurada sobre como o Banco Central está encarando o crescimento agora em 2010 e a inflação em 2011.
Essas informações estarão no Relatório Trimestral de Inflação que será divulgado na quarta-feira, dia 30.
Para o economista-chefe da Máxima Asset, Elson Teles, o documento deve detalhar a constatação já feita na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de que a inflação de 2011 escapa do centro na meta de 4,5% no cenário de mercado. “Vamos saber o quão longe a projeção está do cento da meta.”
Na avaliação de Teles, o documento também deve sinalizar que o aperto total na Selic em 2010 pode ficar entre 350 e 400 pontos-base, o que representa Selic entre 12,25% e 12,75%. Atualmente, a mediana captada pelo Focus sugere aperto total de 325 pontos-base, ou taxa a 12%.
Cabe lembrar que essa edição do Relatório de Inflação traz a revisão da projeção do BC para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Certamente os 5,8% estimados para 2010 serão colocados para cima. Para Teles, esse prognóstico do BC deve ir para próximo de 7%.
Segundo o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o relatório também pode fazer alguma menção a essa queda da inflação corrente.
Para o economista, o BC deve passar a ideia de que não podemos ver essa queda de preços como uma tendência, já que há uma pressão de demanda em alguns setores da economia.
Além do Relatório de Inflação, a agenda da semana também reserva o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de junho e o resultado da produção industrial de maio.
Olhando agora o mercado de juros, as curvas reagem, hoje, ao aumento na alíquota dos depósitos compulsórios (parcela dos recursos depositados nos bancos que não podem ser emprestados).
A medida anunciada na sexta-feira não surpreende, pois, antes do agravamento da crise externa, já se esperava que o BC desse continuidade ao retorno gradual das alíquotas para os patamares registrados antes da crise de 2008, episódio que levou a autoridade monetária a reduzir as taxas.
O percentual, que hoje é de 42%, subirá para 43% em julho de 2010. Em julho de 2012, irá para 44% e, por fim, voltará aos 45% originais em julho de 2014.
Segundo o Velho, da Prosper Corretora, o aumento do compulsório tem como principal objetivo desacelerar o ritmo de expansão das concessões de crédito. “Por isso, avaliamos que esse aumento não impedirá a continuidade da elevação da taxa básica de juros”, explica.
Ainda de acordo com o economista, ao lançar mão dos juros e dos compulsórios, o BC reforça a tese de que quer fazer um ajuste monetário concentrado. “O BC quer ver a convergência da inflação à meta de 2011 no segundo semestre deste ano. O que seria uma vitória para o atual governo.”
Passando para o câmbio, o ponto alto da semana é a formação da Ptax (média das cotações ponderada pelo volume), que liquidará os contratos futuros de dólar com vencimento em julho.
O que se pode esperar é um aumento na pressão dos vendidos (agentes que ganham com a valorização do real).
Vale lembrar que os principais vendedores de dólar no mês são os bancos, com mais de US$ 8 bilhões no mercado à vista (até o dia 18) e outros US$ 3,55 bilhões no mercado futuro (até o dia 24).
No final da semana passada, os vendedores já mostraram força e seguraram a cotação da moeda americana abaixo da linha de R$ 1,80.
Alta de preços pressiona juros
Autor(es): Vânia Cristino
Correio Braziliense – 28/06/2010
O relatório de inflação, que será divulgado na quarta-feira deverá apresentar novas projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, o indicador oficial), tanto no cenário de referência, com que trabalha o Banco Central, quanto no de mercado. A avaliação é dos economistas do banco espanhol Santander, que consideram a austeridade como marca principal das próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) para trazer a inflação para dentro da meta. Por isso mesmo, enquanto a maioria do mercado projeta uma taxa Selic de 12% em dezembro, o Santander aposta que os juros chegarão a 12,75% ao ano, passando logo em seguida para 13% em janeiro de 2011.
“Os cenários deterioraram desde março”, disseram os economistas. Para o Santander, o cenário de referência deverá vir com uma estimativa de 5,5% para o IPCA em 2010 ( a projeção anterior era de 5,2%). A meta de inflação é de 4,5% no fim do ano. A piora, para os analistas do banco espanhol, deve-se às surpresas inflacionárias de abril e maio e à própria expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre.
Produção industrial
Os dados da produção industrial, que também serão divulgados durante a semana, não deixam dúvidas de que o fim dos incentivos fiscais não afetou o desempenho do setor em maio. A projeção do Santander é de uma alta de 2,7% no mês e mais 0,4% em junho. Esse é um ritmo que continuará a pressionar a inflação. Por isso o mercado acredita que, na reunião de julho , o Copom vai repetir pela terceira vez a dose de aumento de 0,75 ponto percentual da Selic.
Reforma nos EUA mais branda que o esperado dá vigor a ações de bancos
Autor(es): Reforma nos EUA mais branda que o esperado dá vigor a ações de bancos
Valor Econômico – 28/06/2010
As ações bancárias americanas tiveram uma reação de alívio na sexta-feira passada, em razão do fim das incertezas em relação ao novo formato do setor financeiro dos Estados Unidos.
A reforma de Wall Street é mais dura que a proposta há um ano pelo Tesouro dos EUA, beneficiada pelos ventos políticos que sopram a favor de uma postura mais dura para com os bancos.
Mas as duas cláusulas que sofreram o peso da maior parte dos esforços lobistas do setor – a “Volcker Rule” para conter os negócios com carteiras próprias e um plano para forçar os bancos a cindirem suas mesas de swaps – foram abrandadas na noite de quinta-feira para garantir os votos dos democratas moderados e dos republicanos.
Os executivos dos bancos e os investidores reagiram positivamente ao acordo sobre a regulamentação financeira, afirmando que ele foi melhor que o esperado. “Estamos todos aliviados aqui”, disse um banqueiro de Wall Street. “Poderia ter sido muito pior e, no geral, poderemos conviver com isso.”
As ações da maioria dos grandes bancos americanos estavam em alta por volta do meio-dia na sexta-feira em Nova York, com os papéis do J.P. Morgan Chase, Citigroup, Goldman Sachs e Morgan Stanley liderando os ganhos. Howard Chen, analista do Crédit Suisse, disse que as ações dos bancos estavam registrando um “rali de alívio”, com os investidores apostando que a histórica reorganização das normas não terá um impacto significativo sobre a estrutura e a lucratividade do setor.
Os bancos de Wall Street, que fizeram um lobby intenso para diluir as propostas mais radicais, ficaram surpresos ao ver a introdução de última hora de uma taxa de US$ 19 bilhões para cobrir os custos das reformas. No entanto, eles disseram que esse é um preço relativamente pequeno a ser pago por uma lei que acabou se mostrando mais leniente que o esperado.
Executivos financeiros disseram que as duas principais vitórias do setor foram as mudanças na “Volcker Rule”, para permitir os investimentos dos bancos em fundos de hedge internos e grupos de private equity, e a proposta revista sobre o desmembramento das unidades de derivativos.
Betsy Graseck, analista do Morgan Stanley, estima que as novas regras permitirão a bancos como o J.P. Morgan, Citigroup e Bank of America manter pelo menos 70% de seus negócios de derivativos. O resto – incluindo os controvertidos swaps de defaults de crédito – terá que ser desmembrado em subsidiárias capitalizadas separadamente.
“É uma coisa positiva para as ações dos bancos”, escreveu Graseck em uma nota a clientes. “O mercado estava descontando que a maioria dos derivativos seriam transferidos para subsidiárias não-bancárias, o que teria sido negativo para a geração de crédito.”
Analistas disseram que a revisão da Volcker Rule, permitindo aos bancos investirem até 3% de seu capital “tier 1” em fundos de hedge internos e grupos de private equity, não terá um efeito dramático sobre a alocação de capital para a maioria dos bancos. A única exceção possível foi o Goldman Sachs, segundo esses analistas, por causa dos grandes investimentos de carteira própria que o banco tem nesses fundos.
Para os bancos de varejo menores, que já começaram a pagar o preço da supervisão mais rígida, na forma taxas menores sobre o cartão de crédito e os saques a descoberto, a legislação vai impor um teto às taxas que os bancos emissores de cartões de débito recolhem junto aos comerciantes.
Outra cláusula exigirá que os bancos hipotecários verifiquem, pela primeira vez, a renda dos tomadores de empréstimos, situação de emprego e histórico de crédito, para terem garantias de que serão pagos, além de banir práticas de empréstimos predatórias, incluindo a eliminação de pagamentos a corretores que direcionam tomadores de empréstimos para hipotecas mais caras.
Os bancos de varejo terão agora que responder a mais uma autoridade reguladora, o Bureau de Proteção Financeira ao Consumidor, que ficará hospedado no Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
Mas os bancos menores tiveram algumas vitórias, incluindo a isenção das hipotecas de baixo risco das novas regras, que agora exigirão dos bancos a manutenção no balanço de 5% dos empréstimos que eles securitizarem. Além disso, os bancos com menos de US$ 15 bilhões em ativos não terão que cumprir com padrões mais rígidos de capital.
Taxa sobre transação financeira fica de fora
Autor(es): Patrícia Campos Mello
O Estado de S. Paulo – 28/06/2010
Nota do G-20 não inclui cobrança que era defendida pela Europa; Brasil comemora
A taxa global sobre instituições financeiras ficou fora do comunicado da cúpula do G-20, para alívio de países como Brasil, Japão e Canadá, que se opunham firmemente à proposta. A Europa defendia a adoção de uma taxa global sobre transações financeiras ou uma tarifa sobre ativos arriscados dos bancos.
No comunicado, foi citado apenas que “concordamos que o setor financeiro deve fazer uma contribuição justa e substantiva para pagar quaisquer custos de intervenções do governo para sanear o sistema.” Mais adiante, o comunicado diz que “alguns países perseguem uma taxa financeira, outros buscam abordagens diferentes”. O governo brasileiro comemorou a linguagem vaga. O Brasil entende que seus bancos já são menos expostos a riscos. “Nosso sistema já é mais seguro”, disse um funcionário brasileiro. Além disso, o governo não queria reduzir a competitividade dos bancos brasileiros com mais uma taxa. “Nós já temos muito mais regulações que outros bancos, maior exigência de capital, compulsório”, disse.
A ausência da taxa global sobre bancos no comunicado do G-20 deve limitar as iniciativas nacionais de países europeus. Alemanha, França e Grã-Bretanha anunciaram na terça-feira que vão criar uma taxa sobre os bancos, que será calculada a partir da exposição, no balanço, a ativos arriscados.
O objetivo é desestimular os bancos a assumirem riscos exagerados e, ao mesmo tempo, criar um fundo cujos recursos possam ser usados em crises futuras. Agora, essas taxas terão de ser mais modestas, do contrário há o risco de as atividades bancárias dos países migrarem para nações onde não há o imposto.
O G-20 também se comprometeu em formatar uma proposta de reforma financeira até a cúpula da Coreia do Sul, em novembro. Mas, o comunicado adia a adoção de reservas de capital mais rígidas para bancos, previstas no acordo de Basileia III. Antes, o prazo para se aumentarem as reservas de capital era 2012. Agora, a linguagem ficou mais vaga e esse período de transição pode ser estendido. O prazo vai permitir diferentes velocidades para cada país adaptar suas regras prudenciais.
Japão, Alemanha e França fizeram grande pressão para adiar Basileia III, temendo que a exigência maior de capital iria reduzir a capacidade dos bancos de fazer empréstimos e prejudicar a recuperação econômica.