Refém do curto prazo

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O Correio Braziliense traz importante manchete: “Refém do curto prazo”, se referindo ao fato do país estar com uma parcela gigantesca da dívida interna que vence em menos de 3 meses. Segundo a reportagem, a dificuldade do Tesouro em vender títulos públicos faz com que o governo tenha de pagar a dívida em dinheiro, o que aumenta a base monetária, o que causaria inflação, segundo o Banco Central. Este, então, faz nova dívida para retirar esta quantidade de dinheiro de circulação.

Portanto, este processo é a prova de que não há solução para a dívida interna, dentro desta política. Isto porque, quando o Tesouro paga a dívida, o BC tem de fazer nova dívida interna, que também paga juros altíssimos, também com dinheiro do povo, também pago aos bancos. Esta dívida do BC, formada pelas chamadas “Operações de Mercado Aberto”, ou “Operações Compromissadas”, já chega a cerca de R$ 500 bilhões, e possui prazo muitas vezes diários.

A notícia também mostra que tais Operações também aumentam devido às compras de dólares pelo Banco Central. Ou seja: o governo se endivida internamente, a juros altíssimos, a prazos curtíssimos, para acumular esta montanha de reservas. A notícia mostra que o ex-Diretor de Dívida Pública do BC, Carlos Thadeu de Freitas, afirmou que a taxa de juros sobre as operações de curto prazo deveria ser menor que a Selic, mas que o BC não faz isso pois teme “perder o controle sobre esse dinheiro”.

Cabe ressaltar, ainda, que, apesar do representante do Banco Central ter dito que o Tesouro tem evitado emitir títulos da dívida para não aceitar as taxas exigidas pelo “mercado”, o Tesouro tem sim emitido títulos da dívida, aceitando sim as taxas exigidas pelo mercado. Conforme tabela disponível na página do Tesouro Nacional, em outubro foram emitidos nada menos que R$ 18 bilhões em títulos, dos quais 84% foram a taxas de juros pré-fixadas, a uma taxa média de nada menos que 11,5% ao ano, ou seja, muito mais que os já altíssimos 8,75% da Selic.

O Jornal Folha de São Paulo mostra que o Ministro da Fazenda criticou os dirigentes de bancos privados, defendendo que as instituições financeiras destinem seus recursos para investimentos de longo prazo. Porém, cabe ressaltar que, conforme a notícia anterior, os bancos preferem investir em títulos da dívida de curtíssimo prazo, por meio das “Operações de Mercado Aberto”.

Importante ressaltar também que tal aumento explosivo desta dívida decorre da grande quantidade de títulos do Tesouro em poder do Banco Central, obtidos em grande parte por meio da Medida Provisória 435/2008. Esta Medida, editada por iniciativa do próprio Ministério da Fazenda, permitiu a emissão, pelo Tesouro Nacional, sem limite algum, de títulos da dívida interna, a serem repassados para o Banco Central fazer tais “Operações de Mercado Aberto”.

Refém do curto prazo
Autor(es): Vicente Nunes
Correio Braziliense – 27/11/2009

Tesouro evita pagar juros mais altos ao mercado e dívida a vencer em três meses vai a R$ 494 bi

Elza Fiuza/ABr – 30/4/09

Altamir Lopes, do BC: Tesouro ganha ao não sancionar taxas elevadas

A dificuldade do Tesouro Nacional em vender títulos públicos para refinanciar a dívida pública, já que não quer sancionar a alta dos juros pedida pelo mercado, fez a quantidade de dinheiro aplicada em operações de curtíssimo prazo dar um salto violento (R$ 65 bilhões) em outubro. Dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostram que quase meio trilhão de reais, mais precisamente R$ 494,8 bilhões, estão girando em papéis do governo com vencimento em, no máximo, três meses. Esse montante corresponde a 26,5% do total dos títulos federais que circulam pelo mercado, patamar sem precedentes desde 2000.

Os investidores estão pedindo juros mais altos para o Tesouro por temerem que, ao longo de 2010, o BC seja obrigado a elevar a taxa básica (Selic) para conter possíveis pressões inflacionárias oriundas do crescimento mais forte da economia. Ou seja, querem um prêmio para compensar esse risco. Como o Tesouro não quer avalizar esse movimento, está resgatando a maior parte dos papéis que têm vencido nas últimas semanas. E, para não deixar o dinheiro devolvido ao mercado ficar circulando livremente, o que pode ser inflacionário, o BC está sendo obrigado a “enxugar” todas as sobras, pagando a Selic.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, além dos resgates de títulos feitos pelo Tesouro, o volume de recursos das operações compromissadas (nome técnico) está sendo impulsionado pelas compras de dólares pelo BC, intensificadas em outubro por causa da entrada de recursos visando à compra de ações do Banco Santander. “Não há nada de anormal nesse movimento”, disse ao Correio. “Ao não aceitar pagar juros mais altos, o Tesouro está tendo um ganho”, assegurou. Ele lembrou que o grosso das transações tem vencimento acima de um mês (R$ 371,9 bilhões). Os negócios de até duas semanas totalizam R$ 116,4 bilhões.

Receio do BC
Para Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor da Dívida Pública do BC, enquanto a Selic continuar elevada, não há risco de a montanha de dinheiro aplicada no curto prazo migrar para o consumo ou para a compra de ativos. “O excesso de recursos nas operações compromissadas seria problemático se a Selic fosse menor. Os bancos certamente destinariam parte deles para o crédito, ampliando a demanda acima do desejado pelo BC”, destacou. Ele reconheceu, porém, que o ideal seria o BC pagar uma taxa punitiva, abaixo dos 8,75% ao ano da Selic, para estimular aplicações em papéis de mais longo prazo. “Mas o BC não fará isso, porque tem receio de perder o controle sobre esse dinheiro”, frisou.

Gomes lembrou ainda que as sobras também incluem parte dos depósitos compulsórios liberados pelo BC no auge da crise mundial para resolver os problemas de falta de liquidez, movimento que atingiu, principalmente, os bancos de pequeno e médio portes. “Por enquanto, não vejo perspectiva de mudança nesse quadro. As apostas de que os juros vão subir ao longo de 2010 permanecem fortes. Então, o mercado continuará pedindo um prêmio adicional para o Tesouro Nacional”, complementou a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif.

O número

R$ 65 bilhões
Quantidade de dinheiro aplicada em operações de curtíssimo prazo somente em outubro

PIB maior amplia despesa com juros
A comemoração do governo com a revisão da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2007, de 5,7% para 6,1%, vai se transformar em dor de cabeça. Se realmente estiver disposto a cumprir a meta de superávit do setor público deste ano, de 1,56% do PIB, terá que fazer uma economia em reais para o pagamento de juros da dívida maior do que o imaginado, admitiu ontem o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Com isso, ficará ainda mais difícil para o governo atingir a meta, que, nos 12 meses terminados em outubro, está em 1% do PIB — o menor nível desde 2001, início da série revisada pelo BC.
Altamir não precisou quanto mais o governo terá de poupar a mais por causa da mudança no PIB. “Mas acreditamos que a meta de 1,56% será plenamente atingida”, afirmou. Para isso, acrescentou ele, o governo está apostando na forte recuperação das receitas em novembro e dezembro, devido à retomada da atividade econômica. “Não podemos esquecer que outubro, novembro e dezembro de 2008 foram os momentos mais agudos da crise, com a arrecadação caindo. No mês passado, já vimos um crescimento nominal (sem descontar a inflação) das receitas de 7,5%. E tudo indica que esse crescimento vai se manter nos próximos meses”, assinalou.

A grande maioria dos analistas não vê como o governo fará o superávit de 1,56% do PIB, fato que, se confirmado, mostrará o primeiro fiasco no cumprimento da meta desde que esse regime entrou em vigor, em 1999. “A situação está difícil, pois a deterioração das contas públicas se deu de forma muito rápida”, disse a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif. A seu ver, nem mesmo o fato de o BC ter anunciado superávit primário de R$ 13,8 bilhões no mês passado — o segundo melhor para meses de outubro — foi motivo de alívio.

“A preocupação é com o longo prazo. Ninguém vê sinais de redução dos gastos públicos”, destacou. Ela chamou ainda a atenção para a explosão do deficit nominal, que leva em conta os gastos com juros. O indicador passou, no acumulado de 12 meses, de 1,98%, em dezembro de 2008, para 4,61% do PIB. Isso, mesmo com a Selic caindo para o nível mais baixo da história: 8,75%. Nem tudo, porém são notícias ruins. Com o crescimento maior, a relação entre a dívida pública e o PIB, que está em 44,8%, deverá cair para 44% no fim do ano. (VN)

Mantega “alfineta” Meirelles durante evento de bancos
Folha de S. Paulo – 27/11/2009

Ministro diz que presidente do BC está falando cada vez mais de questões sociais, devido aos “novos hábitos de banqueiro ou político”

No jantar de confraternização da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o ministro Guido Mantega (Fazenda) aproveitou para cutucar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao afirmar que nunca o tinha visto falando tanto da questão social.

Pouco antes, Meirelles havia falado que, durante a crise, o Brasil havia se tornado referência em supervisão bancária, regulação de mercados e políticas de estímulo à economia, que tiveram importante papel social.

“Meirelles se adiantou e falou praticamente tudo o que eu queria falar. Está falando cada vez mais do social. Não sei se são os novos hábitos de banqueiro ou de político.”
Mantega também cutucou os principais dirigentes de bancos privados presentes no jantar, ao afirmar que, assim como os bancos públicos, eles também deveriam fomentar o crédito de longo prazo. Ele disse também que o sistema financeiro brasileiro ainda tem de se sofisticar, para viabilizar investimentos em infraestrutura e habitação.

“Nosso desafio é ampliar e desenvolver o nosso sistema financeiro. O setor privado também precisa ter condições mais favoráveis para captar recursos em longo prazo e não deixar só os bancos públicos [nessa tarefa]”, afirmou.

O ministro pediu aos banqueiros que ajudem a financiar a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, e elencou uma série de projetos necessários, como construção de estádios, metrôs, trem de alta de velocidade. Para Mantega, o Brasil, após um ano difícil, atingiu a “maioridade”.
O presidente da Febraban, Fabio Barbosa, afirmou que o sistema financeiro precisa desenvolver prazos mais longos para a captação de recursos e, gradativamente, desvencilhar-se dos juros pós-fixados do CDI. (TONI SCIARRETTA)

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 26.11.2009

O Jornal Correio Braziliense traz manchete equivocada: “Tesouro no azul”, dando a entender que as contas públicas estariam sob controle, a partir da informação de que o superávit primário do governo federal foi de R$ 11,3 bilhões em outubro. Porém, tal superávit não leva em conta as despesas com a dívida, que foram maiores que tais R$ 11,3 bilhões. Portanto, na realidade, o que existe é um grande desequilíbrio das contas públicas causado pelos gastos com a dívida, mas que não aparecem na metodlogia do “superávit primário”.

O Jornal Valor Econômico noticia que os juros dos empréstimos bancários subiram em outubro, devido ao aumento dos chamados “juros futuros”, ou seja, os juros exigidos pelo mercado financeiro para emprestar ao governo. Tais “juros futuros” funcionam como um instrumento de chantagem dos emprestadores sobre o governo, para exigir mais cortes de gastos sociais, manutenção da política econômica neoliberal, com altas taxas de juros e priorização total ao pagamento da dívida.

Caso haja simples rumores – mesmo falsos – de que o governo possa implementar políticas desfavoráveis aos credores da dívida pública, eles logo aumentam tais “juros futuros”, para desencorajar tais medidas. Isto afeta o povo tanto pela menutenção da política de cortes de gastos sociais (educação, saúde, etc), como também pelo aumento das taxas de juros pagas pelas pessoas e empresas aos bancos.

Tesouro no azul
Autor(es): # Deco Bancillon
Correio Braziliense – 26/11/2009

Arrecadação maior garante superávit de R$ 11,3 bilhões no governo central em outubro

As contas públicas tiveram em outubro resultado positivo de R$ 11,3 bilhões, encerrando um período de deficit no governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco central). O superávit se deve ao bom resultado das contas do Tesouro, que apresentaram alta de 38,6%, passando de

R$ 40,3 bilhões, em setembro, para R$ 55,8 bilhões, em outubro. Esse desempenho decorre do aumento de R$ 6,3 bilhões na arrecadação do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e de R$ 1,7 bilhão da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL). Essas altas são consequência do pagamento da primeira cota, ou cota única, referente à apuração trimestral desses tributos, que se encerra em setembro, gerando efeito em outubro.

Também pesou positivamente a entrada de R$ 5 bilhões em outubro referente a depósitos judiciais em função de problemas entre contribuintes e governo. Dessa forma, ocorreu o superávit apenas pelos resultados positivos do Tesouro. As contas da Previdência Social e do Banco Central registraram deficits de R$ 2,8 bilhões e de R$ 69,4 milhões, respectivamente. No ano, até outubro, a economia feita pelo governo para o pagamento de juros da dívida (superávit primário) está em 1,10% do Produto Interno Bruto (PIB). Em igual período de 2008, o superávit foi de 3,99% do PIB.

Custo de captação puxa taxa bancária
Autor(es): Alex Ribeiro
Valor Econômico – 26/11/2009

Os juros médios cobrados pelas instituições financeiras nos empréstimos subiram de 35,3% para 35,6% ao ano entre setembro e outubro. O Banco Central, que divulgou ontem as estatísticas, acredita que a alta foi apenas temporária e que os bancos voltarão a reduzir o custo do crédito nos próximos meses. “A inadimplência deve cair e, com ela, os juros bancários”, afirma o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.

Segundo ele, os principais indicadores do mercado de crédito, como volumes, taxas e prazos, mostram sinais de terem voltado à normalidade, depois de serem afetados pela crise financeira internacional de 2008. A única exceção é a taxa de inadimplência, que, segundo ele, tende cair daqui por diante. Esse ganho, afirma, deverá ser repassado para os clientes, por meio do corte nos “spreads” bancários.

A inadimplência média nos chamados empréstimos livres, com taxas livremente pactuadas pelo mercado, manteve-se estável em 5,8% entre setembro e outubro, no conceito operações vencidas há mais de 90 dias. Até agosto, a inadimplência vinha mantendo tendência de alta. Ainda há um longo caminho para retornar aos patamares pré-crise: em setembro de 2008, a inadimplência era de 4%.

“O aumento da renda e do emprego vai favorecer a queda da inadimplência”, afirma Maciel. Além disso, a normalização da oferta de crédito, sobretudo para pequenas e micro empresas, também devem criar um ambiente mais favorável para a queda da inadimplência. Parte das empresas ficou inadimplente porque, sem acesso a novas linhas de crédito, não tiveram como rolar dívidas antigas.

A alta dos juros ocorrida de setembro a outubro, de 35,3% para 35,6% ao ano, deveu-se exclusivamente ao aumento dos custos de captação dos bancos – que, em termos médios, subiram de 9,3% para 9,6% ao ano no período. Esse movimento está vinculado à alta dos juros nos mercados futuros, que subiram em virtude dos riscos de descontrole nas contas fiscais e diante da possibilidade de reaperto na política monetária.

O spread bancário, que é a diferença entre os custos de captação dos bancos e as taxas cobradas nos empréstimos, manteve-se estável em 26 pontos percentuais (pp) entre setembro e outubro. É um patamar bem inferior aos 30,7 pp observados em dezembro de 2008, após a economia ser atingida pela crise financeira internacional. Mas ainda está maior do que os 22,3 pp verificados em dezembro de 2007.

O crédito bancário cresceu 1,4% entre setembro e outubro, atingindo um volume total de R$ 1,367 trilhão, que corresponde a 45,9% do Produto Interno Bruto (PIB). O avanço do mercado de crédito, que nos piores momentos da crise se apoiava principalmente no crédito direcionado e nos empréstimos a pessoas físicas, tornou-se mais disseminado e equilibrado, avalia o Banco Central.

Os empréstimos livres a pessoas físicas cresceram 1,4% entre setembro e outubro, e o crédito livre a pessoas jurídicas com recursos domésticos, 1,4%. Houve queda de 3,9% nos empréstimos a empresas com recursos externos, mas devido apenas à valorização cambial no período. Já o crédito direcionado avançou 2,2% no período, com destaque para habitação (3,1%) e financiamentos rurais (3%).

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 25.11.2009

Os jornais de hoje noticiam a declaração do Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, de que no começo deste ano o Citibank quis vender um terço de seu capital ao governo brasileiro. De acordo com o ministro, esta compra poderia ter dado prestígio ao Brasil, visto que o Citibank foi o maior credor da dívida externa brasileira até 1987, e comandou as negociações da dívida nos anos 90. Ou seja: seria mais uma jogada de marketing do governo para tentar mostrar que a dívida não seria mais problema, visto que o país seria detentor de um importante banco internacional.

A notícia também mostra que o Citibank, em plena crise – quando teve de receber ajuda do governo dos EUA – obtinha lucros bilionários no Brasil, que é ”um dos mais lucrativos do mundo”.

O Jornal O Globo mostra o déficit nas contas externas em outubro, principalmente devido à grande remessa de lucros das empresas transnacionais, que atingiu US$ 1,895 bilhão. Cabe ressaltar que o estoque de investimento estrangeiro no país representa também uma forma de endividamento, visto que este capital retorna a seu país de origem na forma de remessa de lucros e dividendos.

A notícia ainda traz a opinião do economista-chefe de uma agência de classificação de risco, dizendo que “o Brasil hoje pode se dar ao luxo de ter um saldo negativo em transações correntes”, pois possui grande quantidade de reservas internacionais. Porém, cabe ressaltar que tais reservas são obtidas às custas de emissão de títulos da dívida interna, que paga juros altíssimos.

Citi tentou vender fatia ao Brasil, diz Lobão
Autor(es): JANAINA LAGE
Folha de S. Paulo – 25/11/2009

Segundo o ministro, governo recusou oferta porque, em plena crise, tinha outras prioridades; banco não comenta

Banco americano procurou vários países emergentes para se capitalizar após colapso do sistema financeiro

No auge da crise, o Citigroup procurou o governo brasileiro para negociar a venda de até um terço do grupo para o Brasil, disse ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante palestra a representantes de bancos, investidores e empresários em Nova York, organizada pela Câmara de Comércio Brasil-EUA.

Lobão disse que ouviu a história do próprio presidente Lula. Em meio a um discurso sobre os planos de investimento do setor elétrico e da Petrobras, Lobão começou a falar sobre os sinais do novo papel do Brasil na economia mundial.

Sem maiores explicações, anunciou: “E eu aqui faço uma revelação dita a mim recentemente pelo próprio presidente da República. No epicentro da crise econômica aqui nos EUA, o Brasil quase comprou um terço do Citibank”, disse.

Depois, em entrevista, explicou que o Brasil foi procurado no começo deste ano por representantes do banco. “O Brasil teve essa possibilidade, mas achou que teria de sair da crise primeiro… Foi uma boa oportunidade perdida, mas qualquer governo prudente teria tido cautela mesmo”, disse.

De acordo com Lobão, o negócio poderia ter trazido lucro e prestígio ao país. O Citi foi o maior credor individual do Brasil até 1987. Nos anos 1990, William Rhodes, então presidente do Citi, comandou a renegociação da dívida dos países latino-americanos, inclusive do Brasil.

De acordo com o relato de Lobão, caso a negociação tivesse prosperado, uma fatia do banco teria sido comprada pelo Tesouro. As discussões que resultaram na desistência do negócio foram feitas entre Banco Central, Fazenda e Presidência da República, segundo ele.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que tenha sido procurado pelo Citigroup para negociar a venda de qualquer participação no grupo. O Citibank brasileiro preferiu não comentar o assunto.
Lobão não soube dizer quais os valores envolvidos, mas disse que não seria superior a US$ 40 bilhões. Em fevereiro, os EUA aumentaram sua participação no Citigroup para um terço do capital, convertendo ações preferenciais em ações ordinárias. Antes disso, o banco já havia recebido US$ 45 bilhões em ajuda do governo americano.

Fundo soberano

Para capitalizar o Citi, investidores e acionistas importantes do grupo bateram em várias portas para levantar recursos. À época, o pouco dinheiro disponível era de governos de países emergentes, em particular de fundos soberanos.

O Brasil teria sido um desses países consultados para participar da injeção de capital, junto com outras nações de Ásia e Oriente Médio, segundo fontes do mercado. O Brasil já tinha na época US$ 200 bilhões nas reservas internacionais, uma das maiores do planeta.

O governo brasileiro, porém, não tinha um fundo soberano institucionalizado capaz de viabilizar um investimento desse porte. No ano passado, o governo separou US$ 14 bilhões para constituir seu fundo soberano, cuja regulamentação está parada no Congresso.

No capital do Citigroup, entraram os fundos soberanos de Abu Dhabi, de Kuait e de Cingapura. O banco teve ainda aporte do príncipe Alwaleed bin Talal, da Arábia Saudita.

Rumores no Brasil

No Brasil, o Citigroup foi alvo de sucessivos rumores sobre a venda de suas operações no país, onde está desde 1915, principalmente após as fusões entre Itaú e Unibanco e Santander e Real, no ano passado.

O banco atua no varejo de alta renda e tem uma das maiores carteiras de atendimento a multinacionais. Lucrou R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre deste ano, mais do que a Caixa Econômica Federal. Tem 127 agências e emprega 5.910 pessoas no Brasil.

Em plena crise, o presidente mundial do grupo, o indiano Vikran Pandit, veio ao Brasil duas vezes: em novembro do ano passado e em junho deste ano. Nas duas, juntou o mercado para negar que pretendia deixar o país, um dos mais lucrativos no mundo.

O banco, no entanto, vendeu uma a uma todas as participações em empresas consideradas não estratégicas. Neste ano, vendeu por R$ 2,8 bilhões os 17% restantes que tinha na Redecard, segunda maior processadora de cartões de crédito no Brasil depois da VisaNet. Segundo os executivos do banco, a ideia era manter foco no crédito e na atividade bancária.

Em maio de 2008, vendeu sua participação para a Oi na Solpart, holding que controlava a Brasil Telecom, por R$ 2,3 bilhões. Em dezembro do ano passado, levantou mais R$ 1 bilhão com a saída do metrô do Rio de Janeiro.

Para Lula, caso passa imagem positiva do país
Autor(es): KENNEDY ALENCAR
Folha de S. Paulo – 25/11/2009

Em 2008, um emissário da área econômica do governo brasileiro que conversou com a direção do Citibank em Nova York levou ao presidente Lula a mensagem de que o banco desejava vender ao governo brasileiro uma parte de seu capital. Segundo a Folha apurou, Lula não deu muito atenção à oferta, apesar das boas relações do Citi com o PT e a administração lulista.

A ideia seria encontrar uma forma de o Banco do Brasil, interessado em ampliar presença internacional, ou de o BNDES comprar uma parcela do banco. Até fundos de pensão de estatais que tiveram negócio com o Citi, como a Previ (do Banco do Brasil), foram aventados pelo banco americano como possíveis compradores.

Mas avaliação econômica preliminar de Lula e auxiliares foi julgar a oferta mau negócio. Na época, a situação dos bancos americanos assustava.

Para descartar a operação sem mais estudos no governo, pesou também o clima político. Um auxiliar de Lula disse que o governo não teria como explicar o negócio à opinião pública. Bancos pequenos e médios estavam em dificuldade. Empresas brasileiras necessitavam de crédito. E havia ações prioritárias para combater o súbito aumento desemprego.

A revelação do ministro Edison Lobão reflete comentários de Lula em reuniões reservadas nos quais ele se gaba de que o Brasil sofreu menos do que outros países e saiu antes da crise. Para Lula, revelar isso agora transmite imagem positiva, pois o Brasil recusou parte de um banco americano muito simbólico -que deteve durante muito tempo parte da dívida externa brasileira.

Transações correntes têm rombo de US$2,9 bi
Autor(es): Geralda Doca
O Globo – 25/11/2009

Déficit de outubro é o pior do ano. BC projeta resultado negativo de US$18 bi em 2009, e analistas, de US$20 bi

BRASÍLIA. As transações correntes – operações de bens, serviços e rendas do Brasil com o resto do mundo – registraram em outubro o pior déficit de 2009, de US$2,911 bilhões. Para novembro, o Banco Central (BC) projeta um rombo ainda maior: US$3,4 bilhões. Os principais fatores são, na avaliação do BC, a piora no desempenho da balança comercial observada a partir do mês passado; o aumento das despesas de brasileiros com viagens internacionais; e o maior volume de remessas de lucros e dividendos das empresas para suas matrizes no exterior.

As transações correntes formam, com a conta de capital (investimentos para o setor produtivo e o mercado financeiro), o balanço de pagamentos. Elas não representam um problema até que o balanço fique desequilibrado, ou seja, uma conta não cubra o déficit de outra. No momento, isso não ocorre.

– Estamos tendo um viés de alta no déficit – admitiu o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, acrescentando que isso está associado à retomada do crescimento da economia brasileira e ao aumento de renda, o que eleva as importações de empresas e de consumidores.

O resultado de outubro foi influenciado pela conta de serviços: viagens internacionais teve déficit de US$785 milhões, e aluguel de equipamentos, de US$898 milhões. Também pesou o US$1,895 bilhão negativo das remessas de lucros e dividendos. Em parte, isso foi compensado pelo superávit da balança comercial, de US$1,328 bilhão.

Entre janeiro e outubro, o déficit acumulado é de US$14,788 bilhões. O BC projeta encerrar 2009 com rombo de US$18 bilhões. Mas, em relatório divulgado ontem, o Bradesco prevê déficit anual de US$20,7 bilhões. A projeção para o mês era de US$2,6 bilhões.

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, no entanto, ressaltou que o país tem condições de financiar esse déficit. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, lembrou que a situação hoje é diferente da dos anos 1990, quando as reservas internacionais eram baixas e a dívida pública, alta e de curto prazo:

– O Brasil hoje pode se dar ao luxo de ter um saldo negativo em transações correntes.

Investimentos estrangeiros despencam este mês com IOF

Depois do recorde histórico em outubro, os investimentos estrangeiros no mercado financeiro despencaram este mês, segundo dados parciais (até o dia 18) divulgados ontem pelo BC. Uma das causas, disse Maciel, é a cobrança, a partir de 20 de outubro, do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Os valores negociados na Bolsa saíram de US$ 9,705 bilhões em outubro para US$ 1,521 bilhão (entre os dias 1º e 18) este mês, segundo o BC. Em títulos de renda fixa, as aplicações de estrangeiros caíram de US$ 2,760 bilhões para US$351 milhões. Já Agostini apontou fatores externos, como dados negativos de bancos americanos e rumores sobre o fim dos programas de estímulo em vários países:

– Há algum efeito do IOF, mas não a ponto de causar essa queda. Acredito numa retomada em dezembro.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 24.11.2009

O Diário do Comércio de São Paulo traz importante reportagem de Abnor Gondim divulgando a CPI da Dívida e questionando os dados divulgados ontem pelo governo, segundo os quais a dívida teria caído em outubro. Mais uma vez, o governo divulga somente dados parciais e omite as chamadas “Operações de Mercado Aberto”, ou seja, dívida interna do Banco Central com o mercado, que paga também taxas de juros altíssimas. Considerando tais operações, a dívida interna subiu nada menos que R$ 21,5 bilhões em outubro, o equivalente a 9 vezes o gasto com Reforma Agrária durante todo o ano de 2008. Conforme diz a reportagem, nos últimos 12 meses a dívida interna aumentou nada menos que R$ 313 bilhões.

A reportagem também repercute a audiência ocorrida na última quarta feira na CPI, citando a fala do Presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, Paulo Passarinho, de que a dívida interna saltou de R$ 84 bilhões em 1995 para 1,8 trilhão em 2009.

A reportagem ainda denuncia que o governo não respondeu adequadamente a Requerimento de informações da CPI da Dívida, que solicitou no início de setembro (com prazo de 15 dias) informações sobre os saldos anuais da Dívida Interna de janeiro de 1994 a dezembro de 2008.

“O requerimento solicita, em cada ano, os valores contratados/recebidos, as amortizações pagas; os juros devidos e os juros pagos, bem como a demonstração do saldo final anual. E ainda quer o detalhamento de todos os fatores que implicaram crescimento da dívida interna (assunção de outras dívidas, variação cambial, juros acumulados etc), quantificando o impacto de cada um desses fatores nesse período”, diz a reportagem.

Por sua vez, o Jornal O Estado de São Paulo reproduz, sem questionamento, o dado do governo, segundo o qual a dívida estaria em queda. Por outro lado, mostra que as taxas de juros pagas pelo Tesouro na dívida interna estão bem acima da Selic, e que a participação dos estrangeiros nesta dívida está aumentando tendo atingido 7,68%. Porém, o Tesouro Nacional não divulga como chega a este número, e ainda não respondeu à CPI da Dívida qual o valor detido por estrangeiros nos Fundos de Investimento que investem em títulos públicos.

Por fim, a Folha de São Paulo mostra que os bancos têm lucrado cada vez mais, e ocupam uma parcela maior dos lucros das empresas. Ou seja: mesmo em tempos de crise, os bancos lucram, em boa parte devido aos ganhos com a dívida pública.

CPI quer apurar alta da dívida do governo
Diário do Comércio – 24/11/09 – 00:00 > POLÍTICA
Abnor Gondim

BRASÍLIA – A euforia criada em torno da recuperação do Brasil diante da crise econômica internacional ofusca, mas não aniquila, um rombo que está se agigantando nas contas do governo federal. É o crescimento da dívida pública interna. Nos últimos 12 meses, esse débito cresceu R$ 313 bilhões e passou a corresponder à metade do Produto Interno Bruto (PIB) de 2008.

Esses dados desmerecem destaque sempre que a equipe econômica divulga dados estatísticos. Ontem, por exemplo, a Receita Federal comemorou que a arrecadação subiu pela primeira vez em 11 meses. Em outubro, o resultado aumentou 33,24% com relação a setembro, o que demonstra uma retomada da economia, desde o início da crise.

A avaliação do aumento da dívida pública foi feita, ontem, a pedido do jornal DCI, pela assessoria do deputado federal Ivan Valente (PSol-SP), autor do requerimento de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida Pública. A assessoria do Ministério da Fazenda ficou de dar informações sobre o assunto hoje. O Banco Central não comentou a avaliação do deputado.

“Nós precisamos renegociá-la [dívida pública], nós precisamos alongar o perfil, nós precisamos derrotar as taxas de juros e nós temos de fazer uma auditoria para provar que há ilegitimidade, ilegalidade e imoralidade nessa dívida”, afirmou Valente, à TV Câmara.

De acordo com a assessoria de Valente, a avaliação é baseada em dados divulgados também ontem pelo governo. Segundo informações da equipe do parlamentar, é possível identificar que a dívida da União passou de R$ 1,524 trilhão, em outubro de 2008, para R$ 1,837 trilhão em outubro de 2009.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, Paulo Passarinho, um dos debatedores da CPI, a política econômica do Governo Lula e do Governo Fernando Henrique Cardoso inibiram o crescimento e endividaram o Brasil.

Segundo ele, mesmo equilibrando as contas desde 1995, a dívida pública da União saltou de R$ 84 bilhões para 1,8 trilhão. É o que deve ao mercado. “Em 2008, de cada R$ 100 que a União arrecadou, mais de R$ 30 foram para pagar a dívida pública”, assinalou o economista.

Uma das principais queixas de Valente contra o governo é ele não haver respondido, de forma satisfatória, o requerimento apresentado no início de setembro, dando um prazo de 15 dias para que o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prestassem informações sobre os saldos anuais da Dívida Interna de janeiro de 1994 a dezembro de 2008. O requerimento solicita, em cada ano, os valores contratados/recebidos, as amortizações pagas; os juros devidos e os juros pagos, bem como a demonstração do saldo final anual. E ainda quer o detalhamento de todos os fatores que implicaram crescimento da dívida interna (assunção de outras dívidas, variação cambial, juros acumulados etc), quantificando o impacto de cada um desses fatores nesse período.
Ao divulgar os dados do aumento da arrecadação, a Receita informou de que, no mês de outubro, o valor fechou em R$ 68,839 bilhões, 33,24% maior do que em setembro (R$ 51.520 milhões). É o mais alto da série de meses de outubro. O acumulado de janeiro a outubro de 2009 fechou em R$ 552,475 bilhões.

Estoque da dívida interna cai 1,1% em outubro
Autor(es): Fabio Graner e Renata Veríssimo
O Estado de S. Paulo – 24/11/2009

A participação de investidores estrangeiros na dívida pública interna em títulos subiu em outubro – mês em que o governo instituiu a cobrança de 2% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de capital externo para renda fixa e variável – e atingiu novo recorde: 7,68%. O estoque da dívida interna ficou em R$ 1,37 trilhão, com queda de 1,1% ante saldo do mês anterior.

Em setembro, a participação de não residentes no estoque de papéis do governo existente no mercado foi de 7,16%. Em valores nominais, a participação dos estrangeiros passou de R$ 95,9 bilhões em setembro para R$ 101,7 bilhões em outubro.

O IOF sobre capital estrangeiro foi instituído em 19 de outubro pelo governo, com o objetivo de diminuir a entrada de recursos estrangeiros especulativos, com perfil de curto prazo.

O coordenador-geral de operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, disse que ainda é cedo para avaliar o impacto da taxação no apetite do investidor externo, já que o tributo foi criado somente no fim do mês passado. Ele afirmou, no entanto, que o impacto não deve ser significativo sobre o investidor estrangeiro de longo prazo, já que o custo do imposto tende a se diluir com o tempo.

“Vamos continuar vendo investidores estrangeiro aplicando no Brasil”, afirmou, lembrando que já há alguns meses está crescendo a participação de estrangeiros no total da dívida interna.

A redução no estoque da dívida em títulos em outubro ocorreu porque houve uma concentração muito grande de vencimentos, o que tradicionalmente ocorre nos meses em que se iniciam os trimestres. Em outubro, as vendas de títulos somaram R$ 21,6 bilhões, mas os vencimentos totalizaram R$ 47,6 bilhões. O resgate líquido também superou o pagamento de juros de R$ 10,9 bilhões. A dívida também caiu porque o Tesouro nos últimos meses colocou o pé no freio das emissões de títulos, já que o mercado tem cobrado preços elevados para adquirir papéis do governo.

Apesar desse custo alto, Fernando Garrido disse que o Tesouro tem conseguido emitir títulos prefixados a preços menores. Segundo ele, no leilão realizado na semana passada, as LTNs com vencimento em 2011 foram emitidas com juros de 11,20% ao ano, ante 11,30% no leilão de 22 de outubro. As NTN-F 2017 foram emitidas com juros de 13,19% ao ano, ante 13,22% em outubro. É importante destacar que as taxas pagas pelo Tesouro estão significativamente acima dos 8,75% ao ano da taxa básica de juros (Selic).

Cresce parcela dos bancos no total dos lucros no país
Autor(es): TONI SCIARRETTA
Folha de S. Paulo – 24/11/2009

Crise reduz participação de produtores de matéria-prima no ganho das empresas
Para analistas, bancos, seguradoras e empresas de cartão se beneficiaram da recuperação do mercado consumidor doméstico

Empresas do setor financeiro, como bancos, seguradoras, administradoras de cartões e a própria BM&FBovespa, passaram a ocupar parte do espaço perdido pelas companhias produtoras de commodities entre as empresas mais importantes da Bolsa, segundo estudo da consultoria Economática.

No terceiro trimestre de 2008, ainda antes da crise, as empresas produtoras de commodities respondiam por 55,1% do total de lucros reportados pelas companhias abertas, num total de R$ 22,54 bilhões das empresas de petróleo, gás, mineração, siderurgia, agropecuária e papel e celulose.

Passado um ano da crise que derrubou o preço das principais matérias-primas, essas mesmas empresas tiveram ganhos de R$ 13,48 bilhões -36,08% dos lucros de 314 empresas. Por seu volume de negócios, os produtores de commodities somam 46% do Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa.

Enquanto isso, as companhias do setor financeiro passaram a responder por 23,4% dos lucros no terceiro trimestre deste ano, o equivalente a R$ 8,747 bilhões. No ano passado, o setor contribuía com 20,4% (R$ 8,35 bilhões).

Para Reginaldo Alexandre, presidente da Apimec-SP (associação de analistas), a ascensão das empresas do setor financeiro se deve à recuperação do mercado doméstico. “Isso é consequência da bancarização e do papel do setor financeiro de motor do mercado interno.”

A pesquisa mostra que, mesmo com a desaceleração nas operações de crédito e do lucro estagnado, o setor bancário foi o que mais ganhou no terceiro trimestre. As 23 instituições financeiras lucraram R$ 7,578 bilhões -20,3% dos ganhos das empresas no período.

Só Itaú, Banco do Brasil e Bradesco respondem por ganhos de R$ 2,27 bilhões (6,1% do total), R$ 1,98 bilhão (5,3%) e R$ 1,8 bilhão (4,8%).

Os ganhos dos bancos superam até os das cinco empresas do setor de petróleo e gás, que, juntas, lucraram R$ 7,475 bilhões no terceiro trimestre -desse total, R$ 7,3 bilhões foram da Petrobras, que liderou o ranking individual de lucros no terceiro trimestre de 2009.

Para Kelly Trentin, analista da corretora SLW, a recuperação global deve melhorar as perspectivas dos exportadores. “Siderurgia e mineração são os [setores] que mais fortemente sentiram os efeitos da crise. O resultado é fraco, mas as perspectivas agora são melhores.”

“Com o petróleo se recuperando, a tendência é melhorar o resultado do setor”, diz Luiz Brodi, analista da Ágora.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 23.11.2009

O Valor Econômico de hoje mostra uma clara evidência de que a dívida interna representa uma nova face da dívida externa: o crescente interesse dos investidores estrangeiros em aplicações de renda fixa no Brasil, e a entrada de bancos estrangeiros no Brasil para administrar tais aplicações. Enquanto isso, os bancos nacionais também disputam para ganhar fatias deste crescente mercado, ou seja, gerir o dinheiro de investidores situados fora do país. A notícia mostra também que a obtenção pelo Brasil do chamado “Grau de Investimento” – ou seja, o título de bom pagador de dívida – favoreceu este processo.

O Correio Braziliense de sábado mostra a pressão do Ministério da Fazenda e do Banco Central pela manutenção em 3,3% do PIB da meta de superávit primário, ou seja, da reserva de recursos para pagar a dívida, sob a justificativa de que isto seria necessário para se controlar a inflação. A notícia mostra ainda que o “mercado” está exigindo taxas de juros mais altas para comprar títulos públicos, pois, conforme diz uma fonte do próprio Ministério, haveria uma desconfiança em relação a um excesso de gastos públicos em ano eleitoral. Conforme mostrado em edições anteriores desta seção, e conforme mostra a própria notícia, o Tesouro está vendendo títulos a taxas superiores a 13% ao ano.

Em suma: na opinião destes analistas do próprio governo, para que os juros possam cair, o superávit primário deve se manter em níveis altíssimos. Resta saber quantas décadas mais o país terá de manter esta política de superávit (vigente há 10 anos), seja qual for o seu tamanho, para que os rentistas se convençam de que finalmente o país pode reduzir os juros.

Banco disputa investidor externo
Autor(es): Cristiane Perini Lucchesi
Valor Econômico – 23/11/2009

O interesse cada vez maior dos investidores externos em ações e títulos de renda fixa no Brasil está atraindo os grandes participantes do mercado global para um negócio antes restrito a poucas instituições financeiras no Brasil: a custódia de ativos. Além da guarda do papel para o investidor, hoje feita de forma totalmente eletrônica, a custódia inclui a liquidação das posições, entrega de extratos com as movimentações e serviços administrativos como pagamento de dividendos, juros e bonificações.

O Bank of New York Mellon, um dos líderes do mercado no mundo, acaba de entrar com pedido no Banco Central para abrir um banco no país para atuar no segmento. O BNP Paribas também vai desenvolver área própria com foco no investidor institucional externo. O Itaú, líder em custódia para o investidor local, está investindo para oferecer um serviço mais adequado ao estrangeiro e ganhar fatias desse mercado, no qual é o terceiro colocado, com 10,74%. O Citi, líder no segmento para o investidor internacional, com 57% do mercado, também está investindo e crescendo a equipe para defender sua posição de liderança.

Os números justificam o movimento. Hoje há um estoque de R$ 408,4 bilhões de investidores estrangeiros aplicados em ações e títulos de renda fixa sob custódia no mercado interno brasileiro, volume que já ultrapassou em 10% os totais de antes da crise financeira. Eram R$ 370,4 bilhões em junho do ano passado, de acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Esse é o estoque total de recursos que entrou no país por meio da resolução 2689.

As perspectivas são de um aumento no total desse investimento, agora que o país é grau de investimento pelas três principais agências de classificação de risco de crédito (Moody”s, Standard & Poor”s e Fitch Ratings) e os fundos mais conservadores não têm mais restrições para investir no mercado interno brasileiro.

“O Brasil passou a ter um fluxo de recursos externo diferente, mais estável, que não tem a lógica apenas do curto prazo”, diz Zeca Oliveira, presidente do Bank of New York Mellon no Brasil. “Isso justifica investir em custódia para esse investidor”, diz. Não é necessário ser banco para guardar títulos, mas só uma instituição financeira pode prestar o serviço de liquidação de posições para os investidores, explica Oliveira. Por isso o BNY Mellon foi atrás de uma licença no Banco Central.

Há um atrativo extra no negócio de custódia de ativos para esse investidor estrangeiro: a margem de lucro é cinco vezes superior à da custódia no mercado interno, diz Oliveira. “Há uma competição maior no mercado interno e os grandes investidores conseguem importante redução de custos”, afirma. Já os investidores internacionais, principalmente os fundos de investimento globais, ficam mais atentos à necessidade de ter um custodiante com atuação também global, que lhes abra as portas de diversos mercados ao mesmo tempo, diz Don Linford, superintendente de operações internacionais de custódia do Itaú Unibanco.

Esse custodiante global, cujos principais são o J.P. Morgan, o BNP Paribas, o State Street, o Bank of New York Mellon, o Citigroup e o Northern Trust, muitas vezes subcontratam um custodiante local nos mercados onde não têm presença muito forte. O objetivo é facilitar a vida do investidor, de forma a evitar que ele tenha de lidar com um custodiante em cada país. O custodiante global consolida as aplicações do investidor nos diversos mercados, dando-lhe uma visão abrangente de seus ativos.

O J.P. Morgan, por exemplo, embora seja um dos principais bancos a atuar com o investidor externo que vem comprar no país títulos de dívida e ações por meio da resolução 2689, com 20% do mercado, usa hoje os serviços de custódia do HSBC no país. Dos R$ 76,5 bilhões custodiados pelo HSBC em agosto para o investidor estrangeiro, cerca de R$ 60 bilhões eram de clientes do J.P. Morgan.

O BNP Paribas já é custodiante de fundos próprios e alguns clientes estrangeiros, mas também terceiriza os serviços para o Citigroup. Agora pretende passar a prestar o serviço para 100% dos estrangeiros que conseguir atrair para o país, diz o presidente do banco no Brasil, Louis Bazire. O BNP Paribas acha que o investimento vale a pena, pois pode ganhar mais se não dividir as comissões pelo serviço.

BC e Tesouro pedem 3,3% de superávit
Tesouro e BC unidos
Autor(es): # Vicente Nunes
Correio Braziliense – 21/11/2009

Técnicos esperam que o governo se comprometa com o índice para evitar pressões sobre a política monetária. Na avaliação das duas instituições, qualquer resultado abaixo do previsto pode provocar aumento da inflação em 2010.

conjuntura

Objetivo é arrancar do Planalto e da Fazenda compromisso com meta de economia fiscal de 3,3% do PIB em 2010

Marcello Casal Jr/ABr – 31/3/09

Augustin, do Tesouro, foi fritado por defender economia maior

Carlos Moura/CB/D.A Press – 27/3/08

Mesquita, do BC, atribui piora das projeções de inflação à gastança

O Banco Central e o Tesouro Nacional estão se movimentando nos bastidores para conseguir do Ministério da Fazenda e do Palácio do Planalto o compromisso formal e público de que a meta de superávit primário (receitas menos despesas, sem levar em conta os gastos com juros) de 2010 será de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Dessa forma será possível combater a inflação (menos gastos do governo) e, talvez, evitar um aumento dos juros. Obter esse aval não é tarefa fácil. O superavit deste ano ficará em 1,2% do PIB, abaixo do alvo de 1,56%, o que enfraquece o conceito de economia fiscal.

“A ideia é amarrar o compromisso para que se tire um peso enorme da política monetária”, diz um técnico do BC. Segundo ele, a meta de superávit de 3,3% é fundamental, pois qualquer resultado abaixo disso levará a revisões, para cima, das projeções de inflação do ano que vem e de 2011 — um passo para o aumento da taxa básica de juros (Selic).

O mesmo técnico lembra que, nas últimas revisões feitas pelo BC, mesmo se considerando o cumprimento da meta de 3,3%, as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas de inflação, saltaram de 3,9% para 4,4% em 2010, e chegaram a 4,6% no primeiro semestre do ano seguinte. Esses números, por sinal, levaram a um estresse enorme entre o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, que atribuiu a alta das projeções à gastança do governo, e o secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, que taxou de “terroristas” os que pregam o maior controle nos gastos.

“Não há como fugir disso. O BC aperfeiçoou seus modelos de projeção de inflação, justamente para incorporar o impacto dos gastos públicos nos índices de preços. Então, se o superávit do ano que vem for menor do que 3,3% do PIB, a diferença terá que aparecer nos nossos números”, avisa outro servidor do BC. “E não adianta espernear, criticar os números. Nosso trabalho exige transparência. É isso que tem garantido a enorme credibilidade da política monetária e do sistema de metas de inflação. Em vez de bater no BC, que cada um faça a sua parte”, complementa.

Desconfiança

No Tesouro, a sintonia de pensamento com o BC é explícita. E há razões para isso. “Hoje, a maior parte do excesso de prêmio cobrado pelo mercado para comprar títulos públicos decorre da desconfiança em relação à capacidade do governo de reduzir gastos em um ano eleitoral”, diz um técnico do órgão subordinado à Fazenda. “Há meses, somos obrigados a pagar juros mais altos para rolar a dívida pública, custo que poderia ser evitado”.

Para mostrar que não há exageros em suas palavras, o técnico dá dois exemplos. As Notas do Tesouro Nacional — série F (NTNs-F) com vencimento em 2017 pagavam, no início de setembro, juros de 12,96% ao ano. No leilão da última quarta, os mesmos papéis foram negociados a uma taxa anual de 13,19%. Já as Letras do Tesouro Nacional (LTNs), vendidas a juros de 10,70% ao ano no início de setembro, pagam, agora, 11,20%. “Isso reflete a desconfiança dos investidores. Seria importante reverter rapidamente esse quadro”, ressalta.

Apesar dos estragos provocados pelo aumento dos gastos — a maior parte, devido aos reajustes do funcionalismo —, tanto no BC quanto no Tesouro há um certo sentimento de ceticismo em relação ao compromisso do governo de fazer o superávit de 3,3% do PIB no ano que vem, devido aos focos de resistências em favor de desembolsos maiores para turbinar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão do presidente Lula “Mas não podemos desistir”, enfatiza um servidor do Tesouro. Ele conta, inclusive, que, por sua defesa enfática para um superávit maior, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vem sendo bombardeado por colegas de ministério, entre eles, Nelson Barbosa.

“Houve um processo de fritura grande do secretário do Tesouro. Mas, felizmente, ele foi mantido no cargo pelo ministro Mantega”, afirma um dos assessores mais próximos de Augustin. Segundo ele, Mantega tem a preocupação de passar para o mercado a imagem de bom gestor na área fiscal. “Por isso, não endossou o bombardeio conta o secretário. Agora, vamos torcer para que o ministro reforce ao máximo o empenho para entregar um superávit de 3,3% do PIB e, claro, que os investidores acreditem nas palavras dele”, frisa.

Para o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, diante da estrutura de gastos que o governo criou, a meta de superávit primário de 3,3% do PIB só será alcançada em 2010 se as receitas crescerem pelo menos 5% acima das despesas e se o Ministério da Fazenda recorrer aos recursos que estão hoje no Fundo Soberano do Brasil (FSB), cerca de R$ 16 bilhões. Ele faz outra ressalva: o que incomoda a todos é o enfraquecimento da economia fiscal. “O governo está destruindo o conceito de superávit primário ao recorrer a todo tipo de receita, como depósitos judiciais, para atingir o objetivo. Isso é um perigo”, avisa.

O número
4,6%
Projeção de inflação para 2011, acima, portanto, da meta de 4,5%

Superávit aguardado

A expectativa é grande no mercado em torno dos resultados das contas públicas de outubro que serão divulgados na próxima semana, sobretudo diante do alarde feito pelo Ministério da Fazenda de que a arrecadação bombou no mês passado, reflexo da forte retomada da economia. Pelos cálculos do economista-chefe da Corretora Convenção, o governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) registrou superávit de R$ 12 bilhões, contra um rombo superior a R$ 7 bilhões em setembro.

Apesar dessa virada, ele não vê, porém, grandes motivos para comemoração. Primeiro, porque quase a metade desse resultado, R$ 5 bilhões, decorre de depósitos judiciais. Segundo, porque o saldo ficará abaixo do registrado em outubro de 2008, de R$ 14,9 bilhões. “Não dá para ficar tranquilo vendo o superávit sendo composto por receitas que o governo nem sabe se ficará com ele”, afirma Montero.

Ele também faz projeções para o superávit consolidado do setor público — União, estados, municípios e estatais. Nas suas contas, a economia para o pagamento de juros da dívida pública fechou outubro em R$ 14,5 bilhões, também ficando abaixo do saldo computado no mesmo mês do ano passado (R$ 18,7 bilhões). Assim, em 12 meses, o superávit cairá de 1,17% para 1,03% do Produto Interno Bruto (PIB), tornando ainda mais complicado o cumprimento da meta de 1,56%. “Em novembro, esperamos que o superávit acumulado em doze meses caia para 0,90% do PIB, voltando a subir para 1,2% em dezembro, devido a efeitos estatísticos”, ressalta o economista. (VN).