Dívida atrelada à Selic chega a 62%

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O Jornal Valor Econômico traz importante artigo que mostra a explosão do endividamento interno, decorrente do acúmulo de reservas cambiais. Isto porque o Banco Central compra dólares (que têm se desvalorizado) pagando com títulos da dívida interna, que pagam juros altíssimos aos investidores. Segundo o artigo, isto gerou um prejuízo de R$ 32 bilhões em 2009, considerando-se apenas o custo da Taxa Selic, ou seja, sem considerar o prejuízo ocasionado ao BC devido à desvalorização do dólar.

Segundo o artigo, “O Banco Central faz sua política sem olhar para os custos das reservas, até porque não é esse o papel da autoridade monetária”. Cabe ressaltar que, dentro da atual sistemática, de fato o BC não precisa mesmo se preocupar com o custo estratosférico de sua política cambial, visto que o Tesouro a cobre sem limite algum, conforme manda a “Lei de Responsabilidade Fiscal”. Somente no primeiro semestre de 2009, o BC teve um prejuízo de R$ 93 bilhões devido à queda do dólar.

Enquanto não há limite algum para a cobertura do prejuízo do BC, as áreas sociais urgentes do país ficam para segundo plano. O Jornal Folha de São Paulo mostra que o governo não cumpriu sequer a tímida meta de 75 mil assentamentos de reforma agrária em 2009, devido ao contigenciamento dos recursos do INCRA. Em 2010, deverão ser somente 35 mil.

Outra notícia do Valor Econômico mostra que a despesa de juros da dívida em 2009 representou 13 vezes as despesas com o Bolsa Família. Cabe comentar, neste tema, que além das despesas com juros, devem ser consideradas as amortizações. No ano passado, enquanto o Programa Bolsa Família gastou R$ 12,189 bilhões, os gastos com a dívida chegaram a R$ 380 bilhões (mesmo desconsiderando-se a “rolagem”), ou seja, 31 vezes os gastos com o Bolsa Família.

Ou seja: é o “Bolsa-banqueiro” superando em 31 vezes o “Bolsa Família”.

Custo das reservas
Panorama Econômico – Regina Alvarez
Autor(es): Agencia O Globo/REGINA ALVAREZ (interina)
O Globo – 12/02/2010

A bem sucedida atuação do Brasil na crise global deixou em segundo plano uma discussão que já ocupou espaço no noticiário: o custo de manter reservas internacionais tão elevadas, hoje em US$ 240 bilhões. O escudo construído pela ação do Banco Central foi muito útil nos momentos em que a economia mundial ameaçava derreter, mas passado o período agudo da crise volta e meia surge a pergunta: qual seria o ponto ótimo das nossas reservas?

Sim, porque esse colchão que nos protege de ataques especulativos e permite ao BC agir no mercado para controlar a volatilidade do câmbio tem um custo fiscal que não é pequeno. Em 2009, chegou a R$ 32 bilhões, diferença entre o rendimento das reservas, aplicadas em títulos do Tesouro americano, e a taxa Selic.

Para neutralizar a entrada dos dólares na economia, evitando o excesso de liquidez, o BC faz as chamadas operações compromissadas, atreladas à taxa básica de juros.

Essas operações — também usadas na administração da política monetária — tiveram um aumento substancial nos últimos anos, especialmente depois que o BC decidiu reforçar o colchão de reservas. Em 2005, correspondiam a 1,72% do PIB; em 2009 já chegavam a 14,52%, com impacto equivalente na dívida interna líquida e na dívida bruta.

O Banco Central faz sua política sem olhar para os custos das reservas, até porque não é esse o papel da autoridade monetária.

No caso, seu papel é manter a inflação sob controle. Mas no momento que se discute o aumento da taxa Selic e se observa o crescimento da dívida bruta do setor público, cabe refletir sobre os custos da política monetária e questionar a opção por reservas tão elevadas.

O economista Felipe Salto, da FGV e Consultoria Tendências, lembra que o acúmulo de reservas reflete a escolha da estratégia de crescimento adotada pelo governo, sustentada na poupança externa. Como o país não tem poupança privada, nem pública, pois o governo optou pelo aumento dos gastos, a saída para o crescimento que se apresenta no momento é a poupança externa.

O Brasil continua a atrair investimentos externos e a tendência é que aumentem nos próximos anos, embalados pela imagem de estabilidade que construímos lá fora.

A questão é que a própria estabilidade e o crescimento futuro podem estar sendo minados pela estratégia atual, que combina uma política fiscal frouxa com a âncora externa.

Governo não cumpre meta de assentamentos em 2009
Autor(es): EDUARDO SCOLESE
Folha de S. Paulo – 12/02/2010

Objetivo inicial era assentar 75 mil famílias, mas só 55,5 mil foram beneficiadas

MST critica a política de concentração da reforma agrária na região amazônica, distante de suas bases e com problemas de infraestrutura

O governo do presidente Lula não cumpriu a meta de assentamentos da reforma agrária no ano passado, o que esvazia ainda mais seu discurso aos sem-terra no período eleitoral.
Em 2009, segundo dados oficiais obtidos pela Folha, 55.498 famílias foram assentadas em todo o país (a meta do governo era de 75 mil).

Em sete anos de gestão, a promessa anual de famílias beneficiadas foi cumprida uma única vez (em 2005) e o número de famílias à espera de um lote se manteve estagnado em cerca de 200 mil.
A insatisfação dos sem-terra com a atual política de reforma agrária não se dá apenas pelo número de assentados, mas também pelo modelo adotado.

Uma das críticas está na priorização de assentamentos na região amazônica, onde as terras são mais baratas, mas, por outro lado, longe das bases acampadas do MST e com problemas graves de infraestrutura básica (como água, energia elétrica, estradas).

Das 574,6 mil famílias que o governo diz ter assentado entre 2003 e 2009, 387,5 mil (67%) estão na Amazônia Legal (Estados do Norte, Mato Grosso e Maranhão). No ano passado, das 55,4 mil assentadas, 32,8 mil foram encaixadas em lotes nesses nove Estados -59%.

Outra crítica dos sem-terra ao atual modelo de reforma agrária está no instrumento utilizado na obtenção de terras. O MST defende a obtenção por meio da desapropriação, ou seja, quando uma fazenda improdutiva dá lugar a um novo projeto de assentamento.

Em 2009, a meta inicial era beneficiar 100 mil famílias, mas, para ficar mais próximo de sua capacidade financeira e operacional, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra, ao qual é vinculado, decidiram reduzi-la para 75 mil -mesmo assim, sem sucesso.

Em 2010 a redução deve ser ainda maior, já que superintendentes regionais do Incra defendem 35 mil famílias.

Segundo o instituto, o contingenciamento de recursos para a obtenção de terra e a paralisia de processos no Judiciário impediram o cumprimento da promessa em 2009.

O fracasso na política de reforma agrária ocorre no momento em que PT e Planalto tentam aproximar a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata petista, ao movimento sem-terra. Ao longo do governo, eles pouco conversaram.

Para o MST, a política de criação de assentamentos foi “abandonada”. “Não fomos atendidos pelo governo, com a recomposição do orçamento do Incra, maior investimento em desapropriação e a atualização dos índices de produtividade”, afirmou o movimento, em nota à reportagem.

Sobre os assentamentos de famílias na região amazônica, o MST diz: “A criação de assentamentos do governo tem caráter de política assistencial, sem mudar a estrutura fundiária”.

Para a presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), os últimos governos têm atuado no limite para atender à demanda dos sem-terra. “Dinheiro no Brasil falta para tudo. A questão da não reforma agrária no nível exigido por alguns não é por má vontade dos governos”, disse, em discurso na entidade.

Juro custa 13 vezes o Bolsa Família
Autor(es): Sergio Lamucci, de São Paulo
Valor Econômico – 12/02/2010

Os gastos com juros do setor público podem ficar abaixo de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, o que não ocorre desde 1997, quando totalizaram 4,61% do PIB. No entanto, ainda que em 2010 essas despesas venham a ser as menores em 13 anos nessa base de comparação, o país ainda gasta muito com juros. Dispêndios financeiros de 4,9% do PIB em 2010, por exemplo, equivalem a algo como R$ 172 bilhões, mais de cinco vezes os R$ 34,1 bilhões investidos pelo governo federal em 2009, ou 13 vezes os R$ 13,1 bilhões previstos para o orçamento do Bolsa Família neste ano.

Uma taxa Selic média um pouco mais baixa do que no ano passado e um crescimento mais forte da economia são os principais fatores a explicar a perspectiva de uma menor carga de juros como proporção do PIB em 2010. Em 2009, as despesas financeiras foram de 5,4% do PIB, ou R$ 169,1 bilhões em valores absolutos.

O economista Marcos Fantinatti, da MCM Consultores Associados, estima que o Brasil vai pagar 4,95% do PIB de juros em 2010. Para ele, a Selic média ficará em 9,73% neste ano, um pouco abaixo dos 9,93% de 2009. Ele espera o começo da alta dos juros em abril, com a taxa básica, hoje em 8,75% ao ano, atingindo 11,75% em dezembro.

A Selic não é o único indicador que corrige a dívida pública, mas é uma referência importante para o custo financeiro do setor público. Para completar, o crescimento da economia deverá ser bem mais robusto neste ano do que no ano passado, observa Fantinatti, que projeta uma expansão de 5,5% em 2010, uma aceleração expressiva em relação à variação próxima de zero prevista pelos analistas para 2009. Com isso, o valor gasto com juros fica menor em relação a um PIB maior, que também deve aumentar mais em termos nominais dada a perspectiva de uma inflação um pouco mais alta neste ano.

Por fim, Fantinatti diz que a sua aposta num dólar mais caro ao longo do ano – ele prevê uma moeda americana em R$ 2 em dezembro – também ajuda a explicar a menor carga de juros que ele espera para este ano. Como o setor público é hoje credor líquido em moeda estrangeira – os ativos em dólar superam as dívidas -, as despesas financeiras totais diminuem quando o dólar sobe.

O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, acredita que os gastos com juros podem ser ainda menores em 2010, projetando despesas de 4,4% do PIB. “A principal explicação é que a minha taxa Selic média é bem menor que a da maior parte do mercado.” Ele aposta num aumento dos juros básicos apenas em outubro, com a Selic fechando o ano em 9,25%. Na média de 2010, a taxa ficaria em 8,83%. O ponto é que Lintz vê uma atividade econômica menos aquecida que a esmagadora maioria dos analistas -para ele, a expansão do PIB em 2010 será de 4,9%, enquanto no mercado há quem projete até mesmo alta de 6,5%.

O analista sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood, tem uma projeção um pouco mais pessimista, acreditando que o Brasil gastará 5,4% do PIB de juros em 2010, o mesmo percentual registrado em 2009. Ele aposta em juros médios de 9,9% neste ano e num crescimento da economia de 5%. “A dívida pública brasileira ainda é alta”, acrescenta Wood. Em dezembro de 2009, a dívida líquida do setor público ficou em 43% do PIB, ao passo que a bruta terminou o ano passado em 63% do PIB. Países com classificação de risco semelhante à do Brasil ficaram em 2009 com um endividamento líquido na casa de 30% do PIB, segundo números da Standard & Poor’s (S&P).

Wood diz que os indicadores fiscais do Brasil vem melhorando, mas acha que o país ainda gasta muito com juros. Ao ter despesas financeiras elevadas, sobram menos recursos para investimentos e programas sociais, nota ele. Para reduzir a carga de juros, seria importante ter uma política fiscal mais apertada, com o controle das despesas correntes (como pessoal, aposentadoria e custeio da máquina), o que tiraria um pouco do peso da política monetária. Wood acredita que esse ajuste, porém, ficará para 2011, já que num ano eleitoral não deverá ocorrer um aperto fiscal mais relevante.

Se as projeções de Wood estiverem corretas, o Brasil vai gastar R$ 189 bilhões com juros neste ano, quase R$ 20 bilhões a mais do que em 2009, ou 1,5 vez o custo do Bolsa Família neste ano, ou cerca de 80% dos quase R$ 24,9 bilhões de desonerações tributárias concedidas em 2009, para combater os efeitos da crise global.

Embora os gastos financeiros ainda sejam elevados, eles têm mostrado uma tendência inequívoca de queda nos últimos anos quando se leva em conta as despesas como proporção do PIB. Em 2003, por exemplo, o setor público destinou o equivalente a 8,47% do PIB para o pagamento de juros, num ano em que a taxa Selic média ficou em 23,4% e o crescimento foi de 1,1%. Nos anos seguintes, os juros caíram e o Brasil passou a registrar taxas mais expressivas de crescimento. A dívida pública também declinou como proporção do PIB, graças a superávits primários expressivos, embora seja alta para padrões internacionais.

Para 2011, é possível que a carga de juros volte a subir como proporção do PIB, avalia o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. A questão, segundo ele, é que a Selic média no ano que vem (11,2%, de acordo com estimativas da LCA) deve ser maior do que os 9,5% projetados para este ano. Além disso, o PIB deve crescer em 2011 menos que os 6,1% previstos para este ano, diz Borges. Nesse cenário, ele acredita que o país poderá gastar 4,9% do PIB em 2011, mais que os 4,7% do PIB estimados para este ano. Mas a tendência de queda tende a ser retomada nos anos seguintes, à medida que os juros voltarem a cair, acredita.

As despesas financeiras do Brasil também seguem elevadas na comparação internacional, mas há alguns países em que a carga de juros é mais elevada. Segundo números da EIU, a Jamaica deve destinar o equivalente a 14,6% do PIB para pagar juros, enquanto a Grécia, que está no meio do olho do furacão da crise global, deve gastar 6,7% do PIB, percentual idêntico ao da Hungria. No Paquistão, as despesas financeiras devem equivaler a 5,8% do PIB.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 11.02.2010

A Folha de São Paulo noticia a Campanha da Fraternidade, organizada pela CNBB, que neste ano critica o processo de endividamento brasileiro, com dados da Auditoria Cidadã da Dívida. A CNBB afirma que “Apesar de os gastos com juros e amortizações da dívida pública consumirem mais de 30% dos recursos orçamentários do país, essas dívidas não param de crescer. A dívida interna alcançou a gigantesca cifra de R$ 1,6 trilhão em dezembro de 2008, tendo apresentado crescimento acelerado nos últimos anos. (…) a dívida inviabiliza a aplicação de recursos na área social”.

Por outro lado, o governo costuma divulgar um estoque bem menor da dívida interna, alegando que a “dívida líquida do setor público” tem permanecido sob controle. Neste tema, o Jornal O Globo traz artigo defendendo que se considere a dívida bruta, e não a líquida, visto que os prazos e os juros da dívida bruta são leoninos, enquanto as condições das dívidas que o governo tem a receber são bastante facilitadas.

Por fim, o Estado de São Paulo noticia as manifestações na Grécia, onde o governo quer executar um violento corte de gastos sociais – com congelamento de salários dos servidores e redução de gastos sociais – para permitir o pagamento da dívida.

Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência, já que o governo tenta aprovar o Projeto de Lei do Senado nº 611/2009, que congela o salário dos servidores por 10 anos.

Campanha de igrejas faz crítica à política econômica de Lula
Autor(es): FLÁVIO FERREIRA
Folha de S. Paulo – 11/02/2010

Evento da CNBB, que terá outras igrejas além da Católica, ataca desde a crescente dívida interna do país até o PAC

Objetivo é fazer com que a população reflita sobre o que está dando certo e errado na economia e cobre os políticos nas eleições, afirma Conic

A Campanha da Fraternidade de 2010 levará para cerca de 50 mil comunidades cristãs discussões sobre economia. O texto-base do evento, que começa na quarta-feira, critica a crescente dívida interna do país, as altas taxas de juros, a elevada carga tributária, o sistema financeiro internacional e até mesmo o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), vitrine de Lula.

Realizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) desde 1964, a campanha deste ano reunirá, além da Igreja Católica, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e a Igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia. Elas integram o Conic (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil), o organizador do evento em 2010.

Será a terceira vez que a campanha terá caráter ecumênico, repetindo 2000 e 2005.

Com textos e gráficos, o material do evento propõe a conscientização sobre alguns temas econômicos que são pouco conhecidos por grande parte da população. Em relação à dívida interna, por exemplo, o manual da campanha diz: “Apesar de os gastos com juros e amortizações da dívida pública consumirem mais de 30% dos recursos orçamentários do país, essas dívidas não param de crescer. A dívida interna alcançou a gigantesca cifra de R$ 1,6 trilhão em dezembro de 2008, tendo apresentado crescimento acelerado nos últimos anos”.

Segundo o texto, a dívida inviabiliza a aplicação de recursos na área social. Uma das tabelas do material mostra a elevação da dívida nos governos de FHC (1995-2002) e de Lula.

O documento cita o PAC ao atacar a má distribuição de renda: “O crescimento do PIB, expresso em médias nacionais, não é sinônimo de boa distribuição dos recursos entre os diversos grupos sociais. Os pobres continuam lesados nos seus direitos. O PAC é o exemplo mais recente no Brasil”.

O secretário-geral do Conic e reverendo da Igreja Anglicana, Luiz Alberto Barbosa, diz que a meta do evento é fazer com que as comunidades reflitam sobre o que está dando certo e errado na economia do país, e possam cobrar mudanças dos políticos nas eleições.

“Escutamos o discurso oficial de que o país caminha para ser a quinta economia do mundo. Mas é preciso perguntar: “Se o cenário é tão bom, onde estão os recursos?” Ainda temos quase 40 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza e não há trabalho e saúde para todos.”

O frade dominicano Carlos Josaphat, um dos principais intelectuais da Igreja Católica, diz que um dos objetivos do evento é fazer com que os cristãos deixem de ser omissos em relação a práticas econômicas socialmente injustas.

A campanha defende ainda a realização de um plebiscito sobre a limitação do tamanho das propriedades rurais do país.

Olhando a dívida
Panorama Econômico – Regina Alvarez
Autor(es): Agencia O Globo
O Globo – 11/02/2010

Só recentemente o mercado começou a olhar com mais atenção para o endividamento público pelo conceito de dívida bruta. O sinal de alerta veio com a divulgação do resultado consolidado de 2009, que mostrou um pulo de quase sete pontos percentuais do PIB no montante da dívida, turbinada pela operação de capitalização disfarçada do BNDES, feita pelo Tesouro com a justificativa de expandir a oferta de crédito e atacar a crise.

No Brasil, ao contrário de outros países, o mercado se acostumou a olhar para a dívida líquida como o termômetro de qualidade do endividamento público. E o governo estimula essa leitura.

Fez questão de reforçar na divulgação dos números de 2009 que a operação com o BNDES não teve impacto fiscal, já que foi feita em forma de empréstimos. O Tesouro emitiu títulos e recebeu créditos equivalentes do banco, com efeito neutro na dívida líquida. Acontece que pela natureza das operações do BNDES, que financia investimentos, o retorno desses investimentos será de longo prazo, quase vitalício. Em 2009, foram R$ 100 bilhões e em 2010 mais R$ 80 bilhões estão prometidos.

O governo encontrou essa forma disfarçada de expansão de gastos. Mas o mercado começa a ficar atento. Pelo descasamento entre os vencimentos da dívida pública e o retorno dos empréstimos, pelo risco de crédito e pelo custo fiscal embutido nas operações — equivalente à diferença entre o que o Tesouro paga pelos títulos, corrigidos pela taxa Selic, e o retorno dos financiamentos, vinculados à TJLP.

Arthur Carvalho, economista da Ativa, destaca que para avaliar a política fiscal não basta olhar para o superávit, é preciso também contabilizar essa injeção de liquidez no banco público: — O que mais preocupa é a perspectiva de o governo continuar com essas operações, alegando que não está gerando passivo fiscal.

Felipe Salto, da Tendências, observa que o discurso oficial de austeridade para 2010 não combina com essa ação expansionista disfarçada que resultou na mudança de patamar da dívida bruta: — O risco é a falta de transparência e o expansionismo fiscal que não aparece nas contas primárias.

Por enquanto, os analistas não enxergam risco de insolvência na trajetória da dívida, mas alertam que num cenário em que o mundo se mostra cada vez mais nervoso com o risco soberano, qualquer incerteza em relação ao financiamento da dívida é uma sinalização muito ruim para os mercados.

Greve afeta serviços públicos na Grécia
Autor(es): Jamil Chade
O Estado de S. Paulo – 11/02/2010

A greve liderada ontem por funcionários públicos na Grécia parou o país, mas não impressionou os mercados. Escolas foram fechadas, aeroportos praticamente não funcionaram e filas quilométricas se formaram nas fronteiras do país por causa da paralisação das aduanas. O recado dos sindicatos foi claro: os trabalhadores gregos não querem pagar pela crise financeira que surgiu nos bancos.

Diante do déficit de 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no orçamento, o governo optou por anunciar amplas medidas de cortes de gastos e congelamento de salários. Impostos também foram elevados e o governo propõe até elevar a idade mínima para a aposentadoria. Médicos, professores, policiais e controladores aéreos foram algumas das categorias de funcionários que se recusaram a trabalhar ontem.

Turistas também acabaram sofrendo. Portos que ligam o continente às ilhas não funcionaram e museus, e até mesmo o Parthenon, ficou fechado.

O governo socialista foi tratado como “traidor” pelos manifestantes, que acusaram a esquerda de estar rejeitando o que sempre defendeu. “Essas medidas são injustas e vamos continuar a protestar até que essas políticas sejam modificadas”, afirmou o secretário-geral do Sindicato de Funcionários Públicos, Ilias Iliopoulos.

Enquanto hospitais trabalharam apenas com suas alas de emergência, os mercados não se impressionaram com a greve. Ontem, a Bolsa de Atenas subiu 2,4%.

Em turnê pelas capitais europeias para obter apoio, o primeiro-ministro grego George Papandreou garantiu que seguiria com seu plano de austeridade. “Tomaremos todas as medidas necessárias para garantir que o plano atingirá seu objetivo”, afirmou, após se reunir com o presidente francês Nicolas Sarkozy em Paris. Sua meta é reduzir o déficit de 12,7% para 2,7% em três anos.

Os sindicatos gregos conseguiram levar às ruas apenas 7 mil pessoas, um número pequeno diante da tradição de amplas demonstrações do país. Os organizadores, porém, insistem que 70% dos funcionários aderiram à greve, enquanto o governo rejeita o número e afirma que muitos foram trabalhar.

Momentos antes do início da paralisação, o governo ainda anunciou uma alta no preço da gasolina e em impostos que atingem até mesmo a poderosa Igreja Ortodoxa. Hoje, será a vez de os taxistas de Atenas declararem greve e, na semana que vem, a paralisação será do setor privado. Para os sindicatos, a greve de ontem foi apenas a primeira de uma série.

Entre a população, quase 65% acreditam que não há outra solução que não seja o corte de gastos, segundo uma sondagem publicada nesta semana por um jornal local. Para os sindicatos, esse corte não pode significar a perda de direitos.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 10.02.2010

Os jornais de hoje destacam o alto lucro dos bancos em 2009, que em um momento de crise continuaram ganhando com as chamadas “operações de tesouraria”, que incluem títulos da dívida pública. Ou seja: ao invés de financiar a produção a juros baixos, preferem o ganho fácil da dívida pública, garantido pelo governo.

Estes ganhos compensaram as “perdas” dos bancos com as chamadas “provisões para inadimplência”, ou seja, reservas feitas para serem utilizadas caso os devedores destes bancos não paguem seus empréstimos. Porém, tais reservas continuam sendo dos bancos.

O lucro do Itaú-Unibanco subiu 72% no quarto trimestre de 2009, em comparação ao mesmo período de 2008, devido ao aumento das “operações atreladas a juros” e “operações de tesouraria”. Enquanto isso, o desemprego na indústria bateu recorde no ano passado.

LUCRO DE BANCOS E DESEMPREGO NA INDÚSTRIA BATEM RECORDES
GANHOS RECORDES, APESAR DA CRISE
Autor(es): Agencia O Globo/Aguinaldo Novo e Patrícia Duarte
O Globo – 10/02/2010

O lucro líquido de oito bancos privados que já publicaram seus balanços aumentou 24,1% em 2009, na comparação com 2008, a despeito da crise que fez crescer os índices de inadimplência e abateu o nível de atividade geral da economia. O resultado foi turbinado pelo Itaú Unibanco, que ontem divulgou o maior ganho da década do setor bancário no país: R$ 10,067 bilhões, 29% a mais do que o lucro contábil informado em 2008 (de R$ 7,803 bilhões).

Em valores nominais, o segundo melhor valor é o do Banco do Brasil em 2008 (de R$ 8,8 bilhões).

De acordo com compilação feita pela Austin Rating, a soma do lucro dos oito bancos chegou a R$ 23,174 bilhões em 2009, contra R$ 18,675 bilhões um ano antes. Além do Itaú, fazem parte da amostra Bradesco, Santander, BMG, ABC Brasil, Industrial, Modal e BRP. Os bancos foram buscar na tesouraria os recursos para compensar a estagnação da receita com empréstimos. O ganho com títulos e valores mobiliários e derivativos passou de R$ 31,4 bilhões para R$ 41,3 bilhões — alta de 31,5%. Para efeito de comparação, o avanço da receita com crédito da amostra foi de 8,3% no período; com serviços e tarifas, de 12,1%.

Também foi maior a contribuição de áreas como seguro e previdência para o faturamento total dos bancos — no caso do Bradesco, chega a 30%. Pela pesquisa da Austin, a contribuição de seguros para a amostra de oito bancos avançou 22%.

— A tesouraria compensou o que os bancos gastaram a mais com provisão para inadimplência — disse o presidente da consultoria, Erivelto Rodrigues.

Com a perspectiva de crescimento acelerado da economia, Rodrigues estima para 2010 uma variação entre 22% e 24% da carteira de crédito. Em linha, os lucros dos bancos devem registrar aumento superior a 20%.

Maior instituição privada do país, o Itaú Unibanco diz que os sinais de melhora da economia começaram a aparecer no quarto trimestre de 2009, com a queda da inadimplência e aumento da demanda por empréstimos.

Só neste período, o lucro líquido foi de R$ 3,21 bilhões, um salto de 71,7% sobre 2008. Já a carteira total de crédito, no valor de R$ 278,38 bilhões, avançou 3,6% sobre setembro e 2,4% em 12 meses. Outro indicador importante, a inadimplência média recuou de 5,9% em setembro para 5,6% em dezembro, considerando as operações vencidas há mais de 90 dias. O índice estava em 3,9% em 2008.

— Essa tendência vai se manter agora em 2010 — afirmou o diretorexecutivo de Controladoria da instituição, Silvio de Carvalho.

Itaú Unibanco eleva lucro em 72% com tesouraria e cartões
Autor(es): Fernando Travaglini e Eduardo Laguna, de São Paulo
Valor Econômico – 10/02/2010

Se o mercado de crédito estava difícil no ano passado, o Itaú Unibanco buscou caminhos para manter seu lucro em franca expansão, fechando o quarto trimestre em R$ 3,213 bilhões, 71,7% acima do ganho do ano anterior (R$ 1,871 bilhão). Entre as saídas encontradas estão os fortes ganhos com a tesouraria, as receitas de cartões de crédito e o início da promissora parceria com a Porto Seguro.

No quarto trimestre, com a volta mais forte da oferta de empréstimos e a melhora da qualidade da carteira, o cenário benigno se completou e o banco retomou o nível de 25,8% de rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio, acima dos concorrentes diretos e, na margem, maior que o consolidado do ano (21,4%), indicando tendência de recuperação para este ano.

O resultado é decorrente de uma melhora da margem financeira, ou seja, do faturamento do banco com as operação atreladas a juros, que somou R$ 10,813 bilhões no trimestre, avanço de 9% em 12 meses. A variação mais expressiva, no entanto, se deu nos ganhos com tesouraria, a chamada margem financeira com o mercado, que foi de R$ 1,488 bilhão, três vezes superior aos R$ 499 milhões dos últimos três meses do ano passado. No acumulado do ano, a margem com mercado foi de R$ 5,621 bilhões, 160% de crescimento em relação a 2008.

Outro ponto importante de receita para o banco no quarto trimestre foram os ganhos relacionados aos cartões de crédito, que avançaram 8,3% no trimestre, para R$ 1,583 bilhão, e responderam por mais de um terço do total das receitas com prestação de serviços.

O início da consolidação de 30% da Porto Seguro também já garantiu um efeito de R$ 35 milhões no resultado da instituição. “Ainda é pequeno, mas confiamos que venha trazer resultados importantes para o futuro, com as operações da Porto nas agências do banco. Isso ainda não é possível ver no quarto trimestre, mas a partir do segundo semestre de 2010 terá efeitos importantes”, disse Silvio de Carvalho, diretor-executivo do Itaú Unibanco. Ao divulgar os resultados de 2009, incluídas as operações da Itaú Seguros Auto e Residência, a Porto informou que o lucro alcançou R$ 118,8 milhões no trimestre, com alta de 51,1%. Sem as operações do Itaú, o ganho avançou 22,5%, para R$ 96,3 milhões.

Esses três pontos compensaram em parte a menor expansão dos ganhos com crédito ao longo do ano, impactados pelo menor avanço da carteira (2,4% em 12 meses, para R$ 278,382 bilhões) e também pelas despesas com provisão para calote, que no ano subiram 45,3%, para R$ 16,4 bilhões.

Mas se o crédito cresceu pouco ao longo de 2009, nos últimos três meses a sinalização é de forte expansão. Entre as pessoas físicas, os empréstimos cresceram 4,5% . O estoque de linhas para empresas de pequeno e médio portes teve expansão de 7,6%. “Vemos o quarto trimestre como tendência do que vai acontecer em 2010”, diz.

A expectativa é que o crédito para pequenas e médias empresas tenha expansão de aproximadamente 20% – tendo atingido saldo de R$ 60,99 bilhões em dezembro de 2009. Já a carteira de crédito voltada a consumidores deve crescer entre 16% e 17% neste ano, após avançar 10,4% em 2009 e chegar a R$ 102,84 bilhões. Entre os destaques das projeções para 2010, Carvalho detalhou que o crédito imobiliário do banco deverá avançar 40%, após subir 36,3% em 2009.

No total, o Itaú Unibanco prevê crescimento próximo de 20% no saldo dos empréstimos, mas o banco tira dessa previsão a carteira destinada a grandes empresas, segmento que teve baixa de 13,6% no ano passado. Isso porque essas empresas tendem a usar cada vez mais o mercado de capitais.

Segundo o executivo, a expansão do crédito, junto com o crescimento econômico, permitirá uma redução das taxas de inadimplência ao longo de 2010, embora ele tenha preferido não traçar projeções sobre até qual patamar os níveis de calote deverão ceder. Em dezembro passado, o índice dos atrasos superiores a 90 dias – considerado referência pelo mercado – ficou em 5,6%, ainda acima dos 3,9% registrados um ano antes.

Já a integração entre Itaú e Unibanco caminha a passos largos e deve ser concluída já no fim deste ano, antes da previsão inicial de 2011. Segundo Carvalho, o plano é acelerar a migração das agências do Unibanco para a plataforma operacional do Itaú a partir de março. De um total de aproximadamente mil agências, 50 já fizeram essa migração durante a fase de testes, informou o executivo, acrescentando que praticamente todas as áreas internas do banco já foram integradas, restando apenas a parte de sistemas.

No acumulado do ano, o lucro líquido atingiu R$ 10,067 bilhões, praticamente estável em relação aos R$ 10,004 bilhões de 2009. O desempenho agradou analista e investidores em dia de recuperação do mercado de ações. Os papéis da instituição subiram 4,5%, acima de Bradesco (3,4%) e Santander (2,7%), perdendo apenas para o Banco do Brasil (4,99%).

O banco encerrou o ano com ativos totais de R$ 608,273 bilhões e patrimônio líquido de R$ 50,683 bilhões. A exemplo dos outros bancos, como Santander e Bradesco, o Itaú também aderiu ao Refis e conseguiu um desconto de R$ 292 milhões em cima dos recursos provisionados, o que se reverteu em lucro.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 09.02.2010

O Jornal O Estado de São Paulo mostra que o próprio Palácio do Planalto está preocupado com a pressão do “mercado” para o aumento nos juros, dado que a proporção da dívida indexada à Selic é recorde, segundo o Banco Central. Ou seja: a Presidência da República está preocupada com os crescentes pagamentos da dívida.

Segundo o Jornal, o aumento na proporção da dívida indexada à Selic se deve à estratégia de compra de reservas cambiais, por meio da colocação de títulos da dívida interna, indexados à Selic, nas chamadas “Operações de Mercado Aberto”, ou “Operações Compromissadas”.

Segundo o jornal, “a eventual subida do juro engordaria a carteira dos investidores na mesma proporção em que faria crescer a dívida pública. Por causa disso, na semana passada o tema motivou o Palácio do Planalto, como noticiou o Estado, a manifestar desconforto com o que considera uma pressão dos bancos em favor da alta da Selic.”

Cabe comentar que esta pressão do mercado – que influi na decisão do Banco Central sobre os juros – tem sido denunciada pela CPI da Dívida.

O Jornal O Globo também mostra como o “mercado” influencia a decisão do BC sobre os juros: estabelecendo expectativas de inflação acima da “meta” de 4,5%, faz com que o Banco Central resolva subir os juros para “controlar” a inflação.

Dívida vinculada à Selic é recorde
Dívida atrelada à Selic chega a 62%
Autor(es): Fernando Nakagawa
O Estado de S. Paulo – 09/02/2010

Dados do Banco Central mostram que, proporcionalmente, a dívida do governo nunca esteve tão atrelada ao juro básico da economia, a taxa Selic. Em dezembro de 2009, 62% do endividamento líquido do setor público eram remunerados pela taxa decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), um novo recorde anual. Em 2006, a fatia era 20 pontos porcentuais menor, de 41,7%.

O recorde de participação da Selic na dívida ocorre às vésperas de um possível aumento na taxa de juro, que pode ser decidido pelo Copom para controlar pressões inflacionárias. Para boa parte dos analistas do mercado financeiro, a alta deve começar em março ou abril. Para outros, virá somente no fim do primeiro semestre ou início do segundo.

Seja como for, a eventual subida do juro engordaria a carteira dos investidores na mesma proporção em que faria crescer a dívida pública. Por causa disso, na semana passada o tema motivou o Palácio do Planalto, como noticiou o Estado, a manifestar desconforto com o que considera uma pressão dos bancos em favor da alta da Selic.

A participação da taxa de juro na dívida subiu rapidamente nos últimos anos. Dos 41,7% de 2006, foi para 47,2% no ano seguinte e saltou para 58,2% em 2008. Segundo o professor de economia da USP Fabio Kanczuk, essa alta da participação do juro pós-fixado na dívida resulta da estratégia do governo de comprar dólares para as reservas internacionais.

Os números do BC mostram que essa correlação ocorre desde 2006, quando o Brasil passou a ser credor internacional. Naquele ano, a posição credora na divisa americana equivalia a 3,4% da dívida. Em 2007, saltou para 17,5%. Desde então, ficou em 30,3% em 2008 e 24,7% no fim do ano passado, o equivalente a R$ 33,23 bilhões.

Essa relação existe porque o BC compra a moeda americana dos bancos e paga em reais. Mas, para evitar que esse dinheiro seja despejado na economia como crédito, o que pode criar pressão inflacionária, o próprio BC vai ao mercado para “enxugar” o excesso de liquidez.

Para reduzir os reais em circulação, o BC vende aos bancos títulos públicos, que geralmente pagam aos investidores uma remuneração baseada na Selic. Por isso, as reservas avançam e, ao mesmo tempo, a dívida interna em reais aumenta.

Nessa transação financeira, são firmados dois compromissos: o BC se compromete a devolver os reais com juros no fim do período – geralmente algumas semanas – e os bancos a entregar os títulos de volta ao BC. Por isso, a transação é conhecida como “operação compromissada”.

Em dezembro de 2009, o estoque dessas operações era de R$ 454,71 bilhões, o equivalente a 54,5% da dívida pública atrelada à Selic. Sem as operações compromissadas, a participação da Selic na dívida despencaria de 62% para 28,2%.

Mercado prevê inflação próxima de 5% e teme alta de juros já em março
Autor(es): Agencia O Globo/Patrícia Duarte e Eliane Oliveira
O Globo – 09/02/2010

O susto com a inflação de janeiro está levando o mercado a aumentar as expectativas para o ritmo da variação dos preços este ano, aproximando o IPCA de 5%.

Como consequência, fica cada vez mais forte a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltar a subir os juros no mês que vem, quando se reúne novamente. Por enquanto, a média das apostas continua sendo de que o movimento ocorrerá apenas em abril.

A pesquisa Focus do BC, divulgada ontem, mostrou que o mercado calcula o IPCA agora em 4,78%, acima dos 4,62% registrados anteriormente. É a terceira semana seguida de elevação nas projeções, distanciandoa mais ainda do centro da meta do governo, de 4,5%. Para o IGPDI, as contas já ultrapassaram os 5% e estão a 5,13% este ano.

— O IPCA de janeiro explica esse aumento na projeção — resumiu o economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman, para quem o Copom volta a puxar a Selic (hoje em 8,75% ao ano) já em março, encerrando o ano a 12%.

Na semana passada, foi anunciado que o IPCA de janeiro ficou em 0,75%, muito acima do 0,37% de dezembro, o que acabou levando a revisão do indicador pelo mercado. O problema maior são os preços dos alimentos, que têm subido sistematicamente.

Cesta sobe 4,6% em Goiânia e 0,19% no Rio, diz Dieese Em janeiro, o custo da cesta básica aumentou em dez de 17 capitais brasileiras. Segundo a Pesquisa Nacional da Cesta básica, divulgada ontem pelo Dieese, que monitora os preços dos gêneros alimentícios considerados essenciais, as maiores altas foram registradas em Goiânia (4,61%), Salvador (1,43%) e Florianópolis (1,1%) na comparação com o mês anterior.

O custo médio da cesta básica, no Rio de Janeiro, foi de R$ 213,77, ficando praticamente estável em relação a dezembro, alta de 0,19%. Nas 17 capitais, em comparação a janeiro de 2009, a variação foi negativa. As maiores quedas em Belo Horizonte (11,35%) e Goiânia (-9,38%). No Rio, o recuo nesta comparação foi de em 4,88%.

Apesar de algumas visões serem de que a alta de inflação levará a autoridade monetária a subir os juros básicos logo, a pesquisa Focus ainda mostra que a maioria dos analistas consultados acredita que a elevação virá em abril. No fim do ano, eles projetam a Taxa Selic em 11,25%.

E mesmo os que acreditam numa alta mais cedo, mantêm a projeção.

Ou seja, a alta acontecerá antes, mas não será maior.

Schwartsman, que já foi diretor do BC, apesar de ter antecipado de abril para março a previsão do aumento da taxa, manteve em 3,25 pontos percentuais o movimento integral.

O Focus mostrou ainda que o mercado elevou as estimativas sobre o câmbio ao fim do período, de R$ 1,76 para R$ 1,80, o que pesa na inflação. Para 2011, a conta continua em R$ 1,85. O mercado manteve a projeção de Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 5,35% neste ano e em 4,50% para o próximo.

A balança comercial brasileira registrou um déficit de US$ 172 milhões na primeira semana de fevereiro, resultado da diferença entre US$ 2,928 bilhões em exportações e US$ 3,1 bilhões em importações. O saldo negativo se deveu ao crescimento de 42,6% das compras externas em relação ao mesmo período do ano passado. A média diária importada, de US$ 620 milhões, foi a maior já registrada até agora.

Com isso, no ano, a balança está deficitária em US$ 338 milhões.

Déficit comercial: alta de até 428% nas importações Nas importações, as maiores altas foram nas aquisições de adubos e fertilizantes (428,2%); cobre e obras (179,2%); siderúrgicos (126,1%); combustíveis e lubrificantes (91,2%); equipamentos elétricos e eletrônicos (67,9%); e instrumentos de ótica e precisão (47,3%).

Em comparação a fevereiro de 2009, houve alta dos embarques das três categorias de produtos: básicos (16,3%), semimanufaturados (9,3%) e manufaturados (3,5%). A média diária exportada foi de US$ 585,6 milhões.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 08.02.2010

A Folha de São Paulo traz coluna mostrando a crise da dívida nos países ricos, que se endividaram para salvar os bancos, e agora querem cortar gastos sociais e congelar salários dos servidores públicos para pagar este endividamento. Na Grécia, os servidores já estão nas ruas, protestando contra esta política, mostrando que não têm de pagar pela crise provocada pelo setor financeiro.

Na Inglaterra e nos EUA, onde a dívida também aumentou severamente, ocorre a possibilidade das agências de risco rebaixarem os títulos, devido ao “déficit público”. Seria a primeira vez que os EUA deixariam de ser classificados como país de “risco zero”. Atualmente, ele detém este privilégio pois pode emitir a moeda aceita internacionalmente (o dólar). Resta saber até quando este privilégio se manterá.

Crise da dívida lá
Nelson de Sá – Nelson de Sá
Folha de S. Paulo – 08/02/2010

Na manchete on-line do “Wall Street Journal”, a reunião do G7, dos países industrializados, terminou com a promessa de “manter o estímulo” e “enfrentar os problemas de dívida pública”. A “crise da dívida na Europa”, segundo o jornal e agências como a Reuters, foi o “foco das atenções”.
O ministro alemão das finanças garantiu que “o euro vai se manter estável”. Outro ministro europeu citou Grécia, Espanha e Portugal e prometeu: “Vamos resolver, nós mesmos, sem o socorro do FMI”.

ALEMANHA, ITÁLIA ETC.
JAS/economist.com

O site da “Economist” destaca para a semana, com uma ilustração da Europa em dissolução (acima), que quarta tem manifestação ampla dos servidores públicos gregos contra as “medidas de austeridade” no país. E sexta a Alemanha solta números mostrando o país estagnado no quarto trimestre de 2009. A Itália, também.

GRÃ-BRETANHA?
Economista-chefe do FMI até dois anos atrás, o britânico Simon Johnson deu entrevista à BBC, logo após o encerramento do G7, e alertou que a Grã-Bretanha, com “orçamento sem controle”, deve ser “vista na mesma categoria de países como Grécia e Espanha, que enfrentam severos problemas de dívida”. Na zona do euro, a crise “vai incluir a Irlanda -e, creio, a Itália está na linha de tiro”.

EUA, “NUNCA”
Da reunião do G7 no Canadá, o secretário do Tesouro dos EUA deu entrevista à rede ABC, destacada nos sites dos jornais americanos sob o enunciado “Geithner: a nota dos títulos americanos está protegida”. Na quinta, a agência de classificação Moody’s avisou o país para o risco de queda do “rating” máximo devido ao déficit público. “Isso nunca vai acontecer com este país”, diz Geithner.