Semana de 26/04 a 30/04/2010

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Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 30.04.2010

O Correio Braziliense noticia que a alta na taxa de juros anunciada na quarta feira pelo Banco Central “deve atrair uma enxurrada de dólares para o país”. Segundo o jornal, “Com os 9,50% anunciados pelo Copom, o Brasil manteve a liderança no ranking das maiores taxas do mundo. A tendência é de os investidores pegarem dinheiro emprestado nos países mais ricos, onde os juros estão próximos de zero, e trazer os recursos para cá, ganhando com a diferença. É o que os analistas chamam de carry-trade.”

Tal enxurrada provoca a desvalorização do dólar frente ao Real, gerando prejuízos à indústria nacional, pelo fato de encarecer as exportações e baratear as importações. Neste sentido, o jornal revela que “O governo está preocupadíssimo com o fato de a balança comercial estar sendo dominada por produtos primários (grãos e minérios)”, como consequência do câmbio sobrevalorizado.

Porém, ao invés de rever sua política de juros, o governo anunciou que aumentará as compras de dólares (sob a justificativa de que isso elevaria o preço da moeda americana), o que gerará um aumento ainda maior da dívida interna, dado que tais dólares são comprados às custas de emissão de títulos públicos. E a taxas de juros estratosféricas, o custo desta dívida será colossal.

Neste sentido, Editorial de hoje do Jornal do Brasil questiona esta política de juros, mostrando que a alta na taxa Selic freia o investimento, responsável pela garantia de oferta de produtos no futuro. O Editorial defende que a melhor política para controlar a inflação é, portanto, o aumento do investimento, com o consequente aumento na oferta de produtos. Interessante observar que este fato foi exposto à CPI da Dívida pela Professora da UnB, Maria de Lourdes Mollo, em Audiência Pública ocorrida em fevereiro deste ano.

Além do mais, o Jornal O Globo mostra a ineficácia da alternativa defendida pelo governo para impedir a sobre-valorização da moeda nacional, ou seja, a compra de dólares. Ontem, o Banco Central comprou US$ 1,4 bilhão, e mesmo assim o dólar caiu para R$ 1,73.

Cabe comentar que esta é a política ideal para os rentistas nacionais e estrangeiros: com juros altos e livre movimentação de capitais, os dólares entram em massa no país, sabendo que o governo os comprará e pagará com títulos da dívida interna, que rendem os maiores juros do mundo. Além do mais, este movimento provoca a queda do dólar, que assim se torna um mico na mão do Banco Central e do Tesouro, gerando uma imensa transferência de renda do setor público (ou seja, ao povo) para o setor financeiro privado.

O Jornal Valor Econômico noticia que o investidor estrangeiro tem buscado títulos de maior prazo de vencimento e com juros fixos, o que poderia sugerir que estaria havendo uma melhora no perfil da dívida interna. Porém, apenas na última linha da reportagem o jornal mostra o verdadeiro motivo para isto: as gigantescas taxas de juros ofertadas pelo governo, de até 13% ao ano, muito maiores que a campeã mundial e estratosférica Selic. Além disso, os rentistas ainda ganham a valorização do real frente ao dólar.

Para compreendermos o significado desta taxa de juros (13% ao ano), ela é a mesma taxa paga pela Grécia, que atravessa grave crise da dívida, e cujos títulos foram classificados como “lixo” pela Agência Standart and Poor`s, conforme mostra a Folha de São Paulo.

A notícia também mostra algumas medidas anti-sociais impostas pelo FMI e demais rentistas: congelamento dos salários dos servidores públicos e das pensões e aumento para 21% do imposto sobre mercadorias, medidas estas que ainda podem se ampliar. Porém, a população não aceitará tanto privilégio aos rentistas: greves e protestos de rua se multiplicam.

A notícia termina com uma revelação assustadora: a Espanha, que também pode entrar em crise, possui uma dívida várias vezes superior à grega.

Em suma: parece se avizinhar uma nova grande onda neoliberal, e de grande fortalecimento do FMI, que até pouco tempo atrás se encontrava falido.

Tesouro comprará US$ 22 bi
Autor(es): # Luciana Otoni
Correio Braziliense – 30/04/2010

Governo antecipará as aquisições de recursos para o pagamento da dívida externa como forma de conter a valorização do real

Marcello Casal Jr/ABr – 31/3/09

Arno Augustin diz que o Ministério da Fazenda agirá para garantir a competitividade das exportações
Um dia depois da decisão do Banco Central de dar uma “paulada” na taxa de juros básicos (Selic), que subiu de 8,75% para 9,50% ao ano, o que deve atrair uma enxurrada de dólares para o país, o Ministério da Fazenda anunciou que antecipará as compras da moeda norte-americana para o pagamento de parte da dívida externa. O objetivo é enxugar o excesso de recursos estrangeiros no mercado e, dessa forma, conter a valorização do real, que se tornou um empecilho para as exportações brasileiras. No limite, o Tesouro Nacional poderá arrematar até US$ 22,4 bilhões, total de débitos e juros que terão de ser pagos nos próximos dois anos — a liberdade para adiantar as aquisições de dólares foi dada recentemente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), justamente para facilitar as intervenções no mercado de câmbio.

“A tendência é acelerarmos as compras (de dólares)”, disse o secretário do Tesouro, Arno Augustin, ao anunciar a presença mais forte do Tesouro na ponta compradora do câmbio. Segundo ele, as antecipações devem ser vistas como mais um dos instrumentos que o governo construiu nos últimos anos para evitar a valorização mais forte do real frente ao dólar. A pressão do empresariado para que a Fazenda aja no sentido de garantir a competitividade das exportações do país tem aumentado muito. E ficará maior a partir de agora, com o aumento da taxa Selic, que tende a se estender até o fim do ano para que a inflação de 2011 convirja para o centro da meta, de 4,5%.

Augustin assinalou que o Tesouro se preparou para ampliar a sua presença no mercado de câmbio, ao aumentar de um para dois anos o prazo de adiantamento das compras de dólares para a quitação de dívida externa. Com isso, o limite de aquisição de US$ 11 bilhões foi acrescido em US$ 11,4 bilhões. “O governo tem instrumentos para trabalhar essa questão importante para o país. E, se for necessário, agiremos para que não haja valorização excessiva do câmbio”, reforçou. As compras podem ser feitas livremente, sem aviso ou autorização prévia.

Fundo Soberano
O secretário sinalizou claramente que também o Fundo Soberano do Brasil(1) (FSB) poderá ser usado para conter a guinada do real. Ele explicou que há a opção de o Tesouro emitir títulos públicos para fazer caixa e comprar dólares. O patrimônio do fundo está hoje em R$ 17 bilhões. “Vou reforçar: usaremos todos os instrumentos disponíveis para corrigir distorções no câmbio”, frisou. Com a primeira alta da taxa Selic em 19 meses, a Fazenda já se conscientizou de que o Brasil atrairá, sobretudo, capital de curto prazo, interessado nos elevados juros pagos pelos papéis federais.

Com os 9,50% anunciados pelo Copom, o Brasil manteve a liderança no ranking das maiores taxas do mundo. A tendência é de os investidores pegarem dinheiro emprestado nos países mais ricos, onde os juros estão próximos de zero, e trazer os recursos para cá, ganhando com a diferença. É o que os analistas chamam de carry-trade.

1 – Poupança
De natureza contábil e financeira, o Fundo Soberano do Brasil foi criado pelo governo no fim de 2008 para funcionar como uma espécie de poupança pública. Entre as suas fontes de recursos estão os excedentes de superavit primário. O dinheiro pode ser usado para a compra de dólares ou para estimular a economia em tempos de recessão. Todo o dinheiro é administrado pelo Tesouro Nacional.

Moeda cai ao menor nível desde janeiro
A decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros (Selic), de 8,75% para 9,50% ao ano, teve especial importância no comportamento do mercado de câmbio ontem, pois estimulou uma leva de investidores a direcionarem recursos para o país.
A moeda norte-americana oscilou bastante durante o dia, mas acabou encerrando os negócios com queda de 1,16%, cotada a R$ 1,730, o menor nível desde janeiro. O fluxo de dólares para o país deve continuar, segundo analistas. Na interpretação deles, esse dinheiro vem principalmente de brasileiros que moram fora do país. O BC precisou fazer duas intervenções no mercado para conter uma alta maior do real. A última vez que a instituição entrou pesado no mercado enxugando o excesso de recursos foi em 15 de abril, para evitar um preço inferior a R$ 1,75. “O BC só conseguiu amenizar o impacto das vendas e fazer com que o dólar parasse de cair”, disse Mário Paiva, da Corretora Liquidez.

Incentivo ao exportador

Deco Bancillon

Temendo um descontrole ainda maior no setor externo, devido à forte valorização do real frente ao dólar, o governo decidiu preparar um conjunto de medidas de incentivo aos exportadores. O pacote inclui uma linha de crédito no valor de R$ 7 bilhões a ser liberada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a venda ao exterior de carros, máquinas de lavar e outros bens duráveis, de maior valor agregado, produzidos pela indústria nacional. A taxa de juros será de 8% ao ano, a maior cobrada nos empréstimos autorizados pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI) — parte dos encargos será subsidiada pelo Tesouro Nacional. O governo está preocupadíssimo com o fato de a balança comercial estar sendo dominada por produtos primários (grãos e minérios).

As condições para o empréstimo foram aprovadas ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que também fixou regras para os R$ 80 bilhões que o governo repassará este ano ao BNDES. Grande parte das linhas de crédito será voltada à produção de máquinas e equipamentos. Tanto que o governo praticamente triplicou o volume de recursos destinado ao setor de bens de capital — de R$ 39,1 bilhões para R$ 115,5 bilhões.

Será ofertada ainda uma bolada para o financiamento de caminhões e ônibus. A disponibilidade de recursos para esses veículos saltou de R$ 10,5 bilhões para R$ 28 bilhões. Mas as taxas de juros subirão de 7% para 8% ao ano nos financiamentos contratados a partir de 1° de julho.

A discutível ortodoxia do BC
Jornal do Brasil – 30/04/2010

Há pouco mais de dois meses , às vésperas da reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom), o JB publicou um editorial a respeito da questionável ortodoxia das autoridades monetárias, capaz de chegar às raias da insensibilidade quanto ao papel regulador de outras instâncias da economia, entre elas a política industrial ou o comércio exterior. Lembrava que até Keynes, resgatado das sombras do conservadorismo quando o mundo precisou de criatividade no enfrentamento à crise dos subprimes nos EUA, entendia que a ortodoxia fiscal, em vez de paradigma, era na realidade instrumento à la carte, em resposta ou prevenção a situações de real dramaticidade quanto a níveis de liquidez, estoques e preços gerais da economia.

O que se discutia na ocasião era o indício de que, mais uma vez, o Banco Central recorreria ao recurso do aperto à economia como forma de controlar o aquecimento da demanda, que gerava pressões inflacionárias. A preferência estava explicitada, ainda de acordo com o editorial, pela declaração do presidente do BC, Henrique Meirelles, no Boletim Focus: Haja o que houver, o Banco Central vai atuar de forma consistente, o que significa não evitar decisões tecnicamente justificadas que, em curto prazo, possam parecer antipáticas ou impopulares. Foi quase assim na época da publicação dessa análise, mas acabaria ocorrendo agora.

A reunião do Copom que viria adiante foi uma das mais divididas do ano, com a tese vencedora triunfando por margem mínima. A votação pela manutenção da taxa de juros pelo nono mês consecutivo acabaria causando certa surpresa em que já apostava em uma tendência de alta, mas foi compreendida pelo mercado como um ato de cautela em um momento pré-definições sobre candidaturas a cargos eletivos o próprio presidente do BC era postulante a um.

Há muito tempo se sabe que, embora em níveis historicamente baixos, o preço do dinheiro no Brasil ainda é um dos mais caros do mundo percepção ampliada pela elevação da taxa Selic em 0,75 ponto percentual na reunião de quarta-feira. Com isso, o investimento em produção, caminho tão ou mais viável que a simples aposta na ortodoxia monetária, sofre um baque em um momento no qual, dadas as condições internacionais, poderia avançar e ganhar terreno. A taxa agora de 9,5% ao ano tem a função de dar uma freada de arrumação em uma economia, para essa corrente, ávida demais por consumir sem a mesma contrapartida na demanda.

Como todo remédio dessa receita, pode funcionar, mas causa danos colaterais. Frear o crescimento como forma de manter a inflação sob controle é uma forma simples, porém perigosa, de segurar os índices dentro das metas estabelecidas. Imediatamente após o anúncio da elevação, que já era esperada, empresas de bens de capital cujas encomendas e investimentos são conduzidos com enorme antecipação passaram a rever seus objetivos. Se tinham previsão de adquirir mais equipamentos de forma a atender ao aumento do consumo pelas famílias, tiveram de revê-la para baixo. Optou-se pela não produção da riqueza como forma de garantir que essa mesma riqueza surja mais adiante. A alteração dessas condições é uma saída, mas não consolida um crescimento constante e compatível com o que a economia sinaliza.

Banco Central faz dois leilões, compra US$1,4 bi, mas dólar cai para R$1,73
Autor(es): Agencia O Globo/ Bruno Rosa
O Globo – 30/04/2010

Um dia após alta de juros, moeda americana recua 1,14%. Bolsa sobe 1,98%
Um dia após o Banco Central (BC) elevar os juros básicos da economia em 0,75 ponto percentual, para 9,5% ao ano, o dólar atingiu ontem sua menor cotação em quatro meses. A moeda americana encerrou em queda de 1,14%, cotada a R$1,732, menor patamar desde 8 de janeiro, quando fechou a R$1,730. E isso apesar de o BC ter entrado no mercado e comprado, segundo fontes, entre 1,2 bilhão e US$1,4 bilhão, o dobro do que vinha adquirindo nos últimos dias.

Na Bolsa, com a falta de notícias negativas na Europa e as boas perspectivas envolvendo empresas americanas, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) encerrou em alta de 1,98%, aos 67.978 pontos.

O BC tentou segurar a queda do dólar com dois leilões no início da tarde de ontem. Como após o primeiro leilão a moeda continuou caindo, chegando ao mínimo de R$1,723, a autoridade monetária entrou novamente no mercado e conseguiu segurar a cotação em R$1,73. O último dia em que o BC realizou dois leilões de compra no câmbio foi em 15 de abril. Antes disso, só em julho de 2007.

Segundo o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o mercado de câmbio diário estava descolado do mercado de juros futuros e, por isso, houve um ajuste ontem:

– Como há tendência de novos aumentos do juros, o mercado de câmbio antecipa o movimento.
Francisco Carvalho, gerente de câmbio da BGC Liquidez, lembrou que hoje é o a data de vencimento para a formação da taxa de câmbio que irá liquidar os contratos futuros de maio na Bolsa, o que levou as instituições financeiras a puxarem a cotação para baixo.

– Todos estão testando o Banco Central, que já disse que vai aumentar a atuação no câmbio – acrescentou Carvalho.

Investidor busca título de longo prazo
Investidor local já disputa títulos de longo prazo
Autor(es): Lucinda Pinto, de São Paulo
Valor Econômico – 30/04/2010

A demanda por títulos públicos prefixados de longo prazo, os mais procurados pelos investidores estrangeiros, ganhou nos últimos meses também a predileção dos aplicadores locais. Diversificação de risco, aposta na estabilidade da inflação nos próximos anos e expectativa de que os juros serão mais baixos no futuro ajudam a explicar o apetite pelos papéis. O estoque de NTN-F com vencimento em 2021 nas mãos do mercado já soma R$ 7,2 bilhões, um volume expressivo para um papel com apenas três meses de existência. O secretário-adjunto do Tesouro, Paulo Valle, já identifica demanda por papéis prefixados com prazo de 30 anos, o que seria uma emissão inédita no Brasil.

A demanda por títulos públicos prefixados de longo prazo, os preferidos dos investidores estrangeiros, vem ganhando nos últimos meses reforço também dos aplicadores locais. Fundos mútuos, tesourarias e assets brasileiros estão na lista dos que estão levando as chamadas NTN-F (Notas do Tesouro Nacional série F) nos leilões semanais. E também fundos de pensão, que tradicionalmente buscam papéis corrigidos por índices de preço, têm optado por ampliar a presença dos prefixados mais longos em suas carteiras.

Diversificação de risco, aposta na estabilidade da inflação nos próximos anos e expectativa de que os juros serão mais baixos no futuro ajudam a explicar esse apetite dos players locais pelos papéis.

Por causa desse interesse dos brasileiros, o estoque de NTN-F com vencimento em 2021 nas mãos do mercado já soma R$ 7,2 bilhões, segundo informações do Tesouro Nacional. É um volume expressivo para um papel com apenas três meses de vida. Para se ter uma ideia, a NTN-F com vencimento em 2017, que era até fevereiro o “benchmark” de dez anos, conta com um estoque de R$ 37 bilhões, volume que representa a soma das ofertas feitas pelo Tesouro desde janeiro de 2007.

Segundo o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Paulo Valle., quando a NTN-F 2017 começou a ser ofertada, era notório o interesse maior dos investidores externos – mais habituados a aplicações de longo prazo -e de fundos de pensão por esse título. Tanto é que, até o início deste ano, cerca de 50% dessas notas estavam nas mãos dos não residentes. Cerca de 35% ficavam com bancos e tesourarias locais, 7% com fundos de pensão e 5% com fundos mútuos.

Este ano, entretanto, o Tesouro identificou uma demanda maior partindo de outros investidores brasileiros. E, por isso, quando foi lançada a NTN-F 2021, foram ofertados lotes maiores de papeis, para fazer frente a esse interesse do mercado interno. Assim, apenas 20% dos títulos foram comprados por investidores não residentes. Bancos e tesourarias ficaram com cerca de 60%; fundos de pensão e fundos mútuos têm, respectivamente, 10% e 4%. “O estrangeiro ficou com uma participação menor no volume de NTN-F 2021, não porque esteja comprando menos, mas porque a participação dos locais cresceu”, explica Valle.

Segundo o secretário, a presença do não residente no mercado segue forte e em expansão. Ele diz que hoje há pelo menos dez grandes fundos soberanos comprando NTN-Fs e NTN-Bs (papéis mistos, com uma parte da rentabilidade prefixada e outra atrelada ao IPCA) nos leilões semanais do Tesouro. E os fundos de pensão, que tinham preferência pelas NTN-Bs desde 2003, também começam a ajustar sua meta atuarial, acrescentando o parâmetro puramente prefixado. “Os fundos mais sofisticados estão misturando as duas referências, o que é uma tendência”, diz.

Valle considera que o aumento do apetite de investidores por papéis prefixados com vencimentos mais longos reflete o que ele chama de “maturidade do mercado”. “O processo gradual de redução de taxa de juros leva o investidor a diversificar e reduz a indexação da economia”, explica.

Especialistas concordam que é a aposta em uma taxa de juros mais baixa ao longo do tempo que está levando players a aplicarem em papéis tão longos. “O mercado acredita que, depois desse ciclo de alta de juros que está em curso, as taxas vão voltar a cair. Com isso, é interessante assegurar agora o prêmio que os papéis oferecem”, explica o trader de renda fixa do banco Modal, Luiz Eduardo Portella, acrescentando que esse tipo de operação não pode ser feita com contratos futuros de juros (DI), que não têm liquidez para prazos tão longos. “Sem dúvida, esse movimento mostra que o mercado não enxerga risco de mudança na política econômica”, conclui.

Paulo Valle diz que o alongamento dos prazos vai continuar. Segundo ele, o Tesouro já identifica no mercado demanda por papéis prefixados com prazo de 30 anos – o que seria uma emissão inédita no Brasil. Mas, até que o volume dos títulos de dez anos ganhe proporção ainda maior, o Tesouro não deverá atender a esse interesse. “Nossa intenção é consolidar uma curva de juros bem definida. Se emitirmos um título de 30 anos, provavelmente vamos diminuir a liquidez do título de 10 anos, e isso afetaria a construção dessa curva”, afirma.

A maior diversificação na base dos compradores dos títulos prefixados, segundo Valle, é interessante ao Tesouro, porque reduz os riscos para a gestão da dívida nos períodos de volatilidade. Afinal, a participação de diferentes perfis de investidor pode evitar que haja o que se chama de “efeito manada”, que é a corrida dos investidores para uma única direção, distorcendo a taxa paga pelo papel.

Foi o que ocorreu em 2008, quando a crise de liquidez internacional levou investidores estrangeiros a reduzirem exposição em vários ativos pelo mundo, o que incluiu ações e ativos prefixados brasileiros. Por causa disso, a taxa de retorno da NTN-F de 10 anos no mercado secundário, à época, saltou de cerca de 10% ao ano para 18% ao ano. “Era uma taxa que não fazia nenhum sentido”, afirma Valle. Hoje, as NTN-Fs longas pagam uma taxa entre 12,50% e 13%.

Grécia anuncia arrocho fiscal para receber pacote do FMI
Autor(es): LUCIANA COELHO – DE GENEBRA
Folha de S. Paulo – 30/04/2010

De cada € 10 devidos pela Grécia, € 3 são para credores franceses e € 2 para alemães

Governo confirma ajuda de € 120 bilhões e, segundo jornal, Atenas acordou em poupar € 24 bi em gastos públicos e elevar tributos

O governo grego confirmou que o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os demais países da zona do euro pretendem elevar o pacote de ajuda à Grécia de € 45 bilhões (R$ 103 bilhões) a € 120 bilhões (R$ 275 bilhões) e anunciou novas medidas para conter seu crescente deficit orçamentário em mais de dez pontos até 2013.

O FMI e a UE, junto com Atenas, tentam fechar os parâmetros do pacote neste fim de semana. O socorro depois teria de ser submetido aos parlamentos nacionais, à Comissão Europeia e ao conselho-diretor do Fundo. E, para ser aprovado pelo Fundo, é preciso que Atenas apresente um plano detalhado de como levará sua economia desgovernada há duas décadas de volta aos trilhos.

Ontem, segundo o jornal “Financial Times”, havia consenso de novas medidas totalizando uma economia de mais € 24 bilhões em três anos.

Entre outras coisas, segundo o FT, os funcionários públicos terão seus salários congelados durante o período. No plano anterior anunciado neste ano, os servidores já haviam perdido o 14º salário e tido as pensões congeladas -o que provocou greves e protestos de rua.

No afã de contentar os futuros credores e também o mercado, que vinha de dois dias de queda, o governo do socialista George Papandreou, que herdou a crise do antecessor conservador, anunciou ainda um novo aumento do imposto sobre mercadorias -o valor será definido, mas fala-se em 21%- e elevou as taxas sobre o álcool e produtos de tabaco.

À CNN, um porta-voz do premiê, Vassilis Papadimitriou, confirmou a possibilidade de um pacote maior, antecipada na véspera por legisladores alemães. Isso serviu para conter temporariamente o desatino do mercado, que levara os juros sobre os títulos gregos de dois anos para acima de 15%. Ontem, eles fecharam a 12,7% -no início da semana, os títulos do país foram rebaixados pela agência de classificação de risco Standard and Poor’s a para BB+ (no jargão, “junk”, lixo) com perspectiva de piora.

Credores europeus

O valor inicial proposto para o pacote, € 45 bilhões, mal servia para rolar as obrigações que vencem neste ano. Já os € 120 bilhões cobrem dois terços de toda a dívida grega com bancos estrangeiros, que batia em € 236 bilhões no fim de 2009, segundo o Banco para Compensações Internacionais, o BIS.
De cada € 5 devidos pela Grécia, € 4 são a países europeus. E os dois maiores credores são exatamente os países que dividem o debate sobre o resgate: França e Alemanha.

Os bancos franceses têm uma exposição de US$ 75,2 bilhões, e os alemães, de US$ 35 bilhões. Mas enquanto Paris pede urgência na ação, para que a situação não fuja definitivamente de controle e afete toda a região, Berlim resiste.

A chanceler Angela Merkel já exortou seus parlamentares a aprovarem rapidamente o plano -originalmente, os alemães contribuiriam com 30% dos € 30 bilhões ofertados pela zona do euro; se o valor subir, fala-se em ao menos € 16 bilhões de Berlim. Mas eles hesitam ante a oposição pública.

Teme-se que um resgate a Atenas leve a outros, de Lisboa e de Madri, igualmente endividadas e rebaixadas pela S&P.

Se ninguém agir e a Espanha estourar, no entanto, o problema será bem mais grave: a exposição dos bancos à dívida do país, cuja economia é muito maior, fechou o ano em US$ 1,14 trilhão. Só o que a Espanha deve aos bancos alemães (US$ 238 bilhões) já equivale a mais do que toda a dívida grega.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 29.04.2010

O Correio Braziliense noticia o debate sobre o reajuste aos aposentados que ganham acima de um salário mínimo: 7% ou 7,71%, como se esta fosse a grande questão em torno do tema. O governo alega que aumentar o reajuste para 7,7% custaria R$ 700 milhões aos cofres públicos, dinheiro este que não existiria.

Porém, cabe ressaltar que em abril o Tesouro gastou mais que R$ 50 bilhões para cobrir parte do prejuízo do Banco Central em 2009, que totalizou R$ 147 bilhões. Este prejuízo monstruoso é decorrente da política de acumulação de reservas cambiais em dólar, que se desvalorizaram fortemente frente ao real em 2009. E quem ganha? O setor financeiro privado, que vende os dólares ao Banco Central, recebendo em troca títulos da dívida interna.

Ou seja: enquanto o Congresso discute as migalhas do orçamento (se o reajuste dos aposentados deve ser de 7% ou 7,7%), os rentistas continuam com sua farra.

O Jornal do Brasil mostra que as “agências de risco” continuam em sua estratégia de “rebaixar a classificação” de títulos da dívida de países europeus, sendo que ontem foi a vez da Espanha. Apesar do FMI criticar a atuação das agências de risco, está claro que a atuação de tais agências leva os países a recorrerem ao FMI, justificando a existência desta instituição que até pouco tempo atrás se encontrava falida, e que sobrevive dos juros recebidos por seus empréstimos.

Defesa do reajuste de 7% aos aposentados
Correio Braziliense – 29/04/2010

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), defendeu ontem à noite o relatório concedendo reajuste de 7% para os aposentados que ganham mais de um mínimo. Apesar de a medida provisória que aumenta os benefícios estar na pauta de ontem, líderes entraram em acordo e adiaram a votação para a próxima semana. Partidos da base governista insistem em elevar o índice proposto pelo governo para 7,71%. Vaccarezza e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), se reuniram com outros representantes da base para tentar construir acordo em torno dos 7%. A reunião, no entanto, não teve resultado positivo para o governo. Isolado, o governo ameaça vetar o reajuste de 7,71% se o índice passar nas duas Casas. Se o presidente vetar, o reajuste dos aposentados cai automaticamente para 3,45%, índice calculado com base na inflação do período. Assim, o governo seria obrigado a editar uma nova medida provisória com o reajuste.
A CRISE EUROPEIA: A VEZ DA ESPANHA
INSOLVÊNCIA AGORA RONDA A ESPANHA
Autor(es): Ubirajara Loureiro, Marta Nogueira, Jornal do Brasil
Jornal do Brasil – 29/04/2010

País também é rebaixado e derruba mercados

Um dia depois de a Grécia ter seus títulos da dívida classificados na pior categoria, ontem foi a vez de a Espanha receber um downgrade da agência de classificação de riscos Standard & Poor”s. O movimento era previsto pelo agravamento da crise iniciada com os problemas também em Portugal, igualmente rebaixado, e agora é uma ameaça direta às economias da Europa, cujas bolsas despencaram. O FMI fez críticas à atuação das classificadoras de risco, as quais, segundo a instituição, “não merecem muito crédito”.

Os mercados financeiros e o euro mantiveram-se em declínio quarta-feira em meio a temores de contágio da crise da Grécia a outros países da zona do euro, reforçados pelo rebaixamento da nota da dívida da Espanha pelo Standard & Poor”s

O temor maior, segundo o embaixador Jório Dauster, que participou ativamente da renegociação da dívida brasileira em 1990 e 1991, é que a crise grega se propague a países que também estão com suas economias expostas por viverem uma situação fiscal desequilibrada, que só pode ser corrigida a longo prazo com uma forte contenção econômica que significa recessão. As consequências afetariam negativamente o comércio mundial.

O mercado já está sinalizando que, mesmo com apoio do Fundo Monetário Internacional e de outros países europeus, dificilmente a Grécia poderá quitar seus compromissos. As taxas de juros que estão sendo exigidas do país já estão mais de seis pontos acima das cobradas da Alemanha. O problema é que a Grécia de hoje é Portugal e a Espanha de amanhã, sem falar da Irlanda. Depois deles, pode vir a França. Um default de três ou quatro países europeus seria uma catástrofe disse Dauster

O economista Sidnei Nehme, da Corretora NGO, em informe distribuído quarta-feira a seus clientes disse que, com a perspectiva de um calote grego, já se fala em quebra de bancos. Para Nehme, a situação deve ser um alerta para quem preconiza a adoção de moedas únicas no Mercosul ou entre os países do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).

É muito difícil reunir num único bloco países com gestão de política monetária e vulnerabilidades diferentes. Em épocas de crise, o bom e velho dólar e os títulos do tesouro americano ainda são o melhor refúgio afirmou Nehme.

As bolsas europeias, que se mantiveram em queda durante todo o dia, ampliaram suas perdas no final das sessões com a divulgação da notícia de que a agência de classificação financeira havia baixado a nota da dívida soberana da Espanha de AA+ para AA devido à situação de seu déficit.

A praça que mais sofreu foi a de Madri, com queda de 2,99%. A tendência inverteu-se após os presidentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, e do Banco Central Europeu (UE), Jean-Claude Trichet, reuniram-se com parlamentares alemães para reiterar a urgência de ajudar os gregos.

A Grécia precisa de 8,5 bilhões de euros até o dia 19 de maio. Em meio à incerteza, (apesar de os países europeus tenham dito que vão ajudar) os investidores que ainda não viram resultados palpáveis dessas promessas continuarão projetando uma catástrofe declarou Nordine Naam, especialista em obrigações do banco de investimentos Natixis.

Ante a situação, o presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, anunciou a realização de uma cúpula dos países da zona do euro dia 10 de maio para desbloquear a ajuda esperada pelos mercados.

As nações que adotaram o euro com a economia enfraquecida tiveram seus problemas mascarados pela situação mais estável dos seus parceiros comerciais, de acordo com o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas.

Com o risco de captação baixo, os gastos fiscais se expandiram mais do que a capacidade de eles pagarem suas dívidas ressalta Freitas. Quando a demanda interna diminuiu, afetada pela crise, a fragilidade destes países ficou em evidência.

A previsão, para Thadeu de Freitas, é que o euro continue caindo diante do dólar. O real deve permanecer valorizando em relação às duas moedas.

Já Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, acha que é mais fácil os países em crise deixarem o euro do que a moeda quebrar. Para ele, a divisa é uma âncora de estabilidade na União Europeia para enfrentar a globalização e precisa de sustentação.

Não cabe a membros do grupo financiar a solução de problemas de outros países disse.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 28.04.2010

O jornal Valor Econômico noticia que a CPI da Dívida Pública deve recomendar mudanças na “Lei de Responsabilidade Fiscal”. Uma das mudanças atende a reividicação das entidades que acompanham permanentemente a CPI da Dívida: maior transparência na divulgação dos gastos com a dívida, visto que atualmente o governo divulga somente o montante de “juros reais”, ou seja, que superam a inflação. O restante dos juros é alocado como “amortizações”.

Outra recomendação da CPI é a necessidade de autorização do Legislativo para a emissão de títulos da dívida que viabilizam empréstimos do BNDES. A CPI também levou em consideração demanda das entidades da sociedade civil quando recomenda a divulgação do voto de cada integrante do COPOM (Comitê de Política Monetária, que define as taxas de juros), com a respectiva justificativa.

Outra recomendação da CPI – também originária dos aportes da sociedade civil – é a exigência de que o Banco Central apresente, a cada seis meses, justificativas para a evolução das “Operações de Mercado Aberto”, importante parcela da dívida interna que tem crescido absurdamente para financiar a compra de dólares das reservas cambiais. A CPI também recomenda a redução do comprometimento dos estados com o pagamento da dívida com a União.

Enquanto estas recomendações não são colocadas em prática, o mercado continua contabilizando os lucros derivados da alta de juros, a ser anunciada hoje. Outra notícia do Valor Econômico mostra que gestores de fundos de investimento aguardam a decisão do COPOM para investir em títulos públicos.

Enquanto isso, na Europa, a crise da dívida se alastra rapidamente, com as manobras das agências de risco, que rebaixaram mais uma vez a classificação da dívida de Portugal e Grécia. Outros países também estão na mira dos rentistas, como a Espanha. A estratégia é provocar o aumento das taxas de juros cobradas destes países, levando-os a pedirem em massa empréstimos do FMI. Desta forma, recrudescem com toda força as imposições neoliberais, e instituições até há pouco tempo falidas – como o FMI – são ressuscitadas e fortalecidas.

Outra notícia do Valor Econômico mostra que o FMI deve liberar os recursos em partes, exigindo sempre em troca as velhas imposições de cortes de gastos sociais.

Porém, a sociedade não assistirá passivamente a esta nova onda neoliberal: greves se alastram em Portugal e na Grécia, conforme mostra o jornal O Globo. Trabalhadores do transporte público, correios, estivadores, servidores do Parlamento, caminhoneiros, dentre outros articulam pesadas greves, configurando assim a “fúria da população”, como diz O Globo.

CPI da Dívida Pública sugere mudanças na LRF
Valor Econômico – 28/04/2010

O relatório final da CPI da Dívida Pública foi apresentado ontem na Câmara com sugestões de mudanças e de regulamentação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), algumas já em tramitação no Congresso.

É o caso da fixação do limite de endividamento da União, previsto no artigo 30 da LRF, mas até hoje sem regulação. Tramita no Senado um projeto de resolução que estabelece em 350% da receita corrente líquida o teto global para o montante da dívida consolidada da União. A CPI recomenda, também, a aprovação do projeto que estipula em 650% da receita corrente líquida o limite para a dívida mobiliária federal.

Dentre os projetos novos apresentados, está o que inclui na LRF um dispositivo determinando que haja separação, no projeto de lei orçamentária, no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) e nos relatórios de execução, do que são juros reais e juros nominais consignados para a amortização da dívida.

Outra sugestão é de que se exija prévia autorização do Congresso para o uso dos recursos derivados da emissão de títulos, independentemente da forma da emissão e da despesa que ele vá financiar. “A tendência tem sido, muitas vezes, no sentido contrário, como no caso dos volumosos empréstimos recentes do Tesouro ao BNDES”, diz o relatório, escrito pelo deputado Pedro Novais (PMDB-MA).

Uma terceira norma foi proposta, sobre a transparência das decisões do Comitê de Política Monetária. O relator sugere que a LRF determine que as atas das decisões do comitê contenham o voto de cada integrante e sua justificativa em reuniões que decidirem sobre a meta da taxa de juros básica.

O deputado também propôs que o Banco Central apresente, a cada seis meses, justificativas da evolução de suas operações compromissadas “tendo em vista a importância que assumiram as operações compromissadas do Banco Central no total da dívida interna e que, originalmente, a LRF previu que apenas o Tesouro Nacional emitisse dívida pública”. O relator indica também que se amplie a capacidade dos Estados investirem, autorizando a dedução de prestações da dívida de até 3% da receita líquida real , se desembolsados em contrapartida a financiamento de instituições multilaterais de fomento. Outra sugestão é a do encaminhamento à Comissão Mista de Orçamento, todo mês, de um demonstrativo da execução dos contratos de renegociação da dívida dos Estados. O relatório deve ser votado na próxima semana. (CJ)

Gestores de renda fixa aguardam o Copom para definir suas estratégias
Autor(es): Angelo Pavini, de São Paulo
Valor Econômico – 28/04/2010

Os gestores de fundos de renda fixa estão atentos à decisão de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom), de subir os juros básicos, atualmente em 8,75% ao ano, para estabelecer suas estratégias de mais longo prazo. Segundo Eduardo Castro, superintendente executivo de gestão de fundos do Santander, as carteiras mantêm estratégias em taxas pós-fixadas ou mais curtas há cerca de quatro semanas, quando ficou claro que a atividade econômica e a inflação estavam acima do desejado para o cumprimento das metas para o IPCA. “Tudo indicava a necessidade de uma alta maior dos juros do que o projetado nas taxas prefixadas futuras da época”, diz o executivo.

Segundo Castro, a estimativa do mercado é que o Banco Central (BC) suba os juros em 3 pontos percentuais, mas as taxas futuras indicam aumentos maiores. “Há prêmio nas taxas longas”, diz. Por isso, a reunião de hoje será decisiva para as projeções. “Com a surpresa da inflação e da atividade, a tendência seria mais de uma alta de 0,75”, afirma o executivo. Essa é a previsão do Santander, para esta reunião e para a próxima.

Mas existe a possibilidade de o BC subir os juros em 0,5 ponto. Nesse caso, acredita Castro, os juros mais longos vão continuar altos. “Porque todos vão esperar que a alta seja maior que os 3 pontos que o consenso do mercado estima.” No caso do 0,75 de alta, a estimativa seria que o aperto poderia ser até menor que os 3 pontos de alta total. “Por isso é fundamental esperar para entender o que o BC planeja”.

Os fundos estão também usando as NTN-B para se proteger. Se o juro subir menos, a inflação no curto prazo será maior e as NTNs de menor prazo sairão ganhando. “Preferimos os prazos mais curtos também porque se o juro real tiver de subir, não corremos o risco de ficar com um juro real travado por um prazo mais longo”, ressalta Castro.

Os fundos de renda fixa estão também comprando mais debêntures de empresas, apesar de as taxas de juros pagas estarem menos atrativas este ano. Castro explica que, nos últimos seis meses, houve um vencimento grande de CDBs das carteiras dos fundos – papéis que foram comprados em 2008, quando a crise financeira internacional cortou o crédito dos bancos e os forçou a pagar mais aos investidores. “Era comum bancos de primeira linha pagando mais de 105% do CDI”, afirma.

Como as taxas dos papéis recuaram este ano, os fundos ficaram com um volume grande de recursos para investir. “E nós estamos repondo o que saiu de CDBs comprando debêntures, para manter a parcela de crédito privado”, diz o gestor. Segundo ele, as taxas das debêntures caíram em relação ao fim de 2009, mas ainda é possível comprar papéis com juros de 110% do CDI, o que é interessante para os fundos. “E temos muitos setores, elétrico, empresas de cartões, e muitos prazos também, entre um e cinco anos”, afirma. Esse movimento é um reflexo também do momento da economia, de aquecimento e de procura por crédito por parte das empresas para rolar dívida ou alongar prazos.

Mais recentemente, os bancos também passaram a pagar um pouco mais pelos CDBs depois que o BC restabeleceu os níveis de recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo. “Vimos algo de CDBs de dois anos de grandes bancos pagando 104% do CDI e algumas letras financeiras – papel que não permite resgate antes do vencimento – de 106% a 108% do CDI”, afirma. Mas, passado o ajuste, a tendência é que os CDBs voltem a recuar, para perto dos 101% do CDI, bem menos competitivos, afirma Castro.

EFEITO DOMINÓ NA EUROPA
TERRITÓRIO MINADO PO POLÍTICA FISCAL
Autor(es): Raquel Abrantes, Jornal do Brasil
Jornal do Brasil – 28/04/2010

Crise da Grécia se alastra, rebaixa Portugal, ameaça a Espanha e derruba mercados.

O rebaixamento da Grécia e também de Portugal pela agência de classificação de risco Standardand Poor”s gerou uma espécie de efeito dominó que derrubou os mercados europeus. Especialistas ouvidos pelo JB destacam que o contágio da crise está avançando – e afeta países que adotaram impostos como receita e empréstimos no exterior – ameaçando agora a situação da Espanha. A queda nas bolsas foi generalizada, e a Bovespa fechou em baixa de 3,43%.

O território europeu está minado devido a uma política expansionista mal planejada e, neste cenário, o euro torna-se uma camisa-de-força para o crescimento. Terça-feira, quando a agência de classificação de risco Standard and Poor”s rebaixou a nota da dívida soberana da Grécia e de Portugal, especialistas já começaram a pensar na vez da Espanha, em um contágio desencadeado pela similaridade entre os países mais pobres do continente, que adotaram os impostos como forma de receita e, mais adiante, os empréstimos no exterior.

Com a recessão, o esvaziamento de capital da Grécia, Portugal e Espanha mostrou a fragilidade de economias unidas pelo euro, mas desvinculadas politicamente apesar da existência da União Europeia. O rebaixamento da dívida vem apenas corroborar as incertezas do mercado quanto à capacidade de pagamento dos governos, que buscam formas de reduzir os juros cobrados nas negociações de seus títulos. Para o professor de economia internacional da FGV-SP Ernesto Lozardo, o grande erro dos líderes europeus foi criar uma moeda comum antes de adotar políticas fiscais integradas e responsáveis.

– A moeda símbolo da UE vai se tornando menos confiável, porque não tem equilíbrio fiscal. Os países mais pobres financiaram seu crescimento com a expansão tributária e, quando não puderam mais, por causa da inflação, buscaram recursos internacionais – explicou Lozardo.

No velho mundo, onde Alemanha e França são as locomotivas, a retirada dos investimentos dos menos desenvolvidos gera um efeito dominó no continente, segundo o professor de economia internacional da UFRJ, Reinaldo Gonçalves.

– Os americanos querem que os primos ricos paguem a conta da crise e eles não querem pagar, com toda razão – avalia. – O governo grego internacionalizou o problema, pedindo ajuda, para evitar uma crise de legitimidade do Estado e buscar aval para cobrir o rombo com novo aperto fiscal da população.
Por volta de 1980, o Fundo de Desenvolvimento Europeu era usado para melhorar a infraestrutura dos países mais atrasados da UE, o que gerou crescimento. Mas, quando os recursos pararam de entrar, Grécia, Portugal e Espanha partiram para a elevação de impostos.

– As nações não queriam ficar atrás do resto do grupo em desenvolvimento”, relacionou Lozardo.
O professor da FGV lembra que, apenas no final de 2007, surgiu a preocupação entre os líderes europeus de criar uma receita baseada na competitividade dos mercados, com a assinatura do Tratado de Lisboa. Contudo, a crise financeira internacional impediu que o projeto fosse colocado em prática.

Papel do Fundo será forçar um ajuste fiscal mais severo
Autor(es): Alex Ribeiro, de Washington
Valor Econômico – 28/04/2010

O papel mais importante do Fundo Monetário Internacional (FMI) no pacote de socorro à Grécia não será exatamente liberar dinheiro, mas sim dizer aos gregos que eles devem fazer um ajuste fiscal ainda mais severo. Essa é uma mensagem que os vizinhos e parceiros da zona do euro, como a Alemanha, estão impedidos de transmitir, devido a uma longa história de guerras e conflitos.

O déficit nominal grego é estimado em 13,6% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, suficientes para fazer a dívida pública saltar de 115% para 123% do PIB. Para piorar as coisas, o mercado financeiro não acredita muito nas estatísticas oficiais. Há um ano, as autoridades previam um deficit de 3,7% do PIB para 2010.

O FMI negocia um pacote tradicional com os gregos, em que o dinheiro é liberado de acordo com o cumprimento de condicionalidades. No caso do descumprimento, as tranches são bloqueadas. A Grécia precisa de dinheiro com urgência para pagar € 8,5 bilhões de euros em títulos que vencem dia 19 de maio. Pelas regras fiscais da União Europeia, o déficit público da Grécia deveria ser de, no máximo, 3% do PIB. O país já negociou um pacote com os europeus que prevê a redução do déficit em 4 pontos percentuais do PIB neste ano, e a convergência para os 3% até 2012. O ajuste fiscal negociado como os vizinhos, porém, não foi duro o suficiente para acalmar os mercados, embora tenha ressucitado velhos rancores na Grécia, que foi ocupada pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

O FMI tenta vender para os gregos uma imagem de que, depois da crise econômica que levou à Grande Recessão, o organismo mudou. “Infelizmente, os gregos não são os únicos que estão demonizando o FMI”, disse o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, nesse fim de semana. “Acho que os gregos deveriam ver o FMI do jeito que ele é hoje: um tipo de organização cooperativa, onde países de todo o mundo trabalham juntos para ajudar quem está encrencado.”

O cardápio de medidas em negociação não tem muitas alternativas: será composto basicamente de cortes de gastos públicos. É uma medida bastante dura porque a economia grega ainda precisa de estímulos fiscais para se recuperar. Como membro da zona do euro, a Grécia não tem política cambial e monetária autônomas e, portanto, não pode contar com desvalorizações da moeda ou aceleração da inflação para repartir o peso de seu ajuste.

Greves levam caos a Portugal e Grécia
Autor(es): Agência O Globo/
O Globo – 28/04/2010

Transporte público para em protesto contra medidas de austeridade

ATENAS e LISBOA. Os trabalhadores do setor de transporte público de Grécia e Portugal entraram em greve contra as medidas de austeridade anunciadas pelos dois governos para combater o déficit fiscal e o risco de calote da dívida soberana. Na Grécia, os grevistas paralisaram ônibus, trens e metrôs por seis horas, ontem. Em Portugal, onde a paralisação nos transportes começou na segunda-feira e termina hoje, cerca de 20 mil trabalhadores de 16 empresas de transportes aderiram ao movimento, afetando cerca de um milhão de passageiros, segundo os sindicatos.

Pressionado de um lado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e os países da zona do euro para adotar medidas duras de corte de gastos, o governo grego também enfrenta a fúria da população que, em última instância, pagará o preço do ajuste para reduzir o déficit público. Uma nova pesquisa de opinião indicou que 61% dos gregos se opõem à decisão do governo de recorrer ao pacote de ajuda que pode chegar a C 55 bilhões.

Na segunda-feira, a greve de estivadores impediu que centenas de turistas voltassem aos seus navios. Em comunicado, a federação de transporte público grega (OSME) denunciou “as medidas antipopulares e antitrabalhistas do governo”.

O governo de Portugal, temendo um contágio da crise grega, adotou um plano rigoroso para reduzir o déficit público de 9,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos), hoje, para 2,8% do PIB, em 2013.

Em protesto, os trabalhadores do transporte público se juntaram aos dos correios, que começaram uma greve na segunda feira e que deve continuar até 7 de maio. Os funcionários da administração do Parlamento devem cruzar os braços hoje e os sindicatos de caminhoneiros também planejam uma passeata em maio.

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 27.04.2010

A Agência Câmara traz uma série de notícias sobre o Relatório Final da CPI da Dívida, apresentado ontem pelo Relator Pedro Novais. A primeira notícia mostra o reconhecimento, pelo Relator, de que o maior fator contribuinte para o crescimento da dívida é a taxa de juros elevada, o que afasta a hipótese – comumente divulgada pela grande imprensa e pelo setor financeiro – de que a dívida decorre de uma suposta “gastança” com servidores públicos, previdência social, ou outros gastos sociais.

O Relator reconhece também o processo de troca de dívida externa por dívida interna: a política de compra de reservas cambiais – por meio da emissão de títulos públicos – gera grande custo para o país, que recebe juros baixíssimos pelas reservas e paga os maiores juros do mundo na dívida interna.

A notícia também mostra a posição do deputado proponente da CPI, Ivan Valente (PSOL/SP), que questiona itens equivocados do Relatório Final. O Relator diz que não encontrou ilegalidades na dívida, e que não há necessidade de auditoria.

A segunda notícia da Agência Câmara mostra o pedido do Relator por mais transparência no endividamento. Ele critica o uso da “dívida líquida” como indicador de endividamento, pois ela desconta ativos (como as reservas cambiais) que não rendem quase nada ao país. O Relator também defende a revisão dos contratos das dívidas estaduais com a União, e a necessária autorização legislativa para as emissões de títulos para empréstimos do BNDES.

A terceira notícia mostra que a CPI ouvirá as entidades da Auditoria Cidadã da Dívida antes de votar o relatório, no dia 4 de maio.

Relator: juro alto é responsável por escalada da dívida pública
Agência Câmara – 27/04/2010 22:32
Laycer Tomaz

Pedro Novais: custos da política monetária prejudicam o País.

A política econômica de juros altos é a principal responsável pelo crescimento da dívida pública. Essa é a conclusão do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida Pública proposto pelo deputado Pedro Novais (PMDB-MA), e que deve ser votado daqui a duas semanas. Ele concluiu nesta terça-feira a leitura do seu parecer, mas adiantou que quer discutir o texto com os integrantes da CPI antes da votação.

Novais defende que a troca de uma dívida externa, atrelada ao dólar, por uma dívida interna, atrelada à taxa Selic, pode não ser tão positiva como diz o governo. Para ele, o aumento da dívida vem dessa decisão, que protege o País das crises externas, mas cria uma condição muito boa para os credores do Brasil, que tem uma cultura de juros altos.

Outro problema apontado pelo relator é o alto custo da manutenção de reservas internacionais pelo governo. Enquanto títulos brasileiros da dívida pagam a Selic, atualmente em 8,75% e prestes a aumentar, a maioria das reservas brasileiras é aplicada em títulos da dívida pública norte-americana (US treasury bonds) — escolha de menor risco, cujo retorno por ano é de 0,5%. “A discrepância entre juros recebidos e pagos aumenta os custos da política monetária, o que é prejudicial ao País”, disse.

Previdência

Para o deputado Ivan Valente (Psol-SP), que propôs a instalação da CPI, essa é uma conclusão positiva. Ainda que o relator não tenha dito isso, Valente ressalta que pelo menos tacitamente o texto reconhece que o crescimento da dívida não foi causado pelos gastos com Previdência ou com o pagamento de servidores, como é defendido por setores da área econômica do governo e da oposição. “Nossas constatações são quase as mesmas: o diagnóstico é de que há problemas na dívida, mas as recomendações do relator não resolverão o problema”, disse.

A principal discordância de Valente é quanto a uma auditoria minuciosa da dívida, para rever a forma como ela foi contraída e como aumentou nos últimos anos. Para o deputado, deveria ser aberta uma auditoria externa, como foi previsto pela Constituição de 1988. Já o relator recomenda que essa fiscalização continue sendo feita pelo Congresso, com ajuda do Tribunal de Contas da União.

Indiciamentos

Embora afirme que é possível melhorar a administração da dívida pública, o relator ressalta que a comissão não encontrou indícios de ilegalidades nos processos de contratação e renegociação. Segundo ele, representantes do TCU disseram desconhecer qualquer comportamento suspeito de agentes públicos na administração da dívida. “Aqueles que levantaram críticas ao processo de endividamento e aos termos das renegociações não ofereceram, à CPI, elementos que fundamentassem acusações concretas contra procedimentos ou pessoas”, disse Novais.

O deputado Ivan Valente, no entanto, contestou essa informação e disse que os representantes do TCU ouvidos fizeram estudos pontuais e limitados e, mesmo assim, encontraram irregularidades. Segundo ele, o Ministério Público deveria ser acionado para investigar todos os indícios citados na CPI por depoentes. Valente já adiantou que pretende propor um voto alternativo ao do relator, devido a esses pontos.

Beneficiários

Para o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), a principal incógnita continua sendo a identificação dos beneficiários dos pagamentos feitos pelo Brasil quanto a juros, amortização e renegociação da dívida. Para ele, o mercado financeiro sustenta uma política de juros altos no Brasil, por meio de sua influência sobre o Banco Central, e os bancos são os principais beneficiados pelos papéis da dívida brasileira, que rendem juros altos.

Já para Pedro Novais, o fato de a dívida estar nas mãos de bancos não quer dizer que o sistema financeiro a controle. Os papéis, segundo o seu relatório, estão lastreando fundos de renda. Pelos dados da Secretaria do Tesouro Nacional, bancos nacionais detêm hoje 27% da dívida pública mobiliária federal, enquanto os bancos estrangeiros tem participação de 6%. “Sabemos que hoje, embora boa parte dos títulos esteja em carteira de bancos, eles detêm os títulos em nome de um segmento de poupadores que aplica em investimentos (CDBs, por exemplo) lastreados nesses títulos”, explicou.

Relator pede mais transparência na análise da dívida pública
Agência Câmara – 27/04/2010 22:23

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida Pública, deputado Pedro Novais (PMDB-MA), recomenda medidas para aumentar a transparência da análise dessa dívida. Além da auditoria permanente do Tribunal de Contas da União, ele propõe que seja regulamentada a Lei de Responsabilidade Fiscal quanto à prestação de informações pelo Ministério da Fazenda. O TCU vem recomendando o cumprimento da lei, que a CPI deve reiterar.

Ele repetiu o que vem falando sobre o uso de dados sobre a dívida bruta para essa divulgação. Para o relator, a dívida líquida, dado que é utilizado pelo governo e desconta da dívida real as reservas externas e empréstimos do Tesouro, esconde a real dimensão do débito.

Dois projetos que estão no Senado receberam apoio do relator. Ambos fixam limites para as dívidas, líquida e bruta, em 350% e 650% das receitas líquidas correntes da União. O Brasil já vem cumprindo esses limites, que são compatíveis com o endividamento de países com o perfil brasileiro.

Estados e municípios

O relator apresentou três projetos de lei como recomendações. Eles reforçam leis, em especial a LRF, para desafogar estados e municípios quanto à capacidade de endividamento. “A LRF foi um divisor de águas na administração, mas não sou daqueles que acham que ela é intocável. Sou contra afrouxá-la, mas é possível aperfeiçoar a lei principalmente quanto aos estados”, disse.

Novais também encontrou problemas nos contratos de negociação das dívidas dos estados com a União. Segundo ele, é preciso ver se as condições foram as mesmas para todos os estados, e mesmo se tratando de contratos já realizados eles poderiam ser revistos caso apresentem discrepância.

Petrobras

Por fim, o relator quer que as emissões de empréstimos diretos do Tesouro para o BNDES e a Petrobras passem pelo Congresso, por meio do Orçamento da União. Esses empréstimos, que no momento da crise financeira foram relevantes, estão sendo anunciados novamente pelo governo, e Novais teme que a prática se banalize. Um dos problemas é que esses empréstimos não contam como dívida da União, embora demorem para retornar ao Tesouro. “Recursos gastos fora do Orçamento não são uma boa prática administrativa”, disse.

CPI da Dívida Pública vai ouvir ONG antes de votar relatório
Agência Câmara – 27/04/2010 17:06

Deputados da CPI da Dívida Pública se reunirão com representantes da ONG Auditoria Cidadã da Dívida para colher sugestões para o relatório final da comissão. A reunião, solicitada pela entidade, foi marcada para a próxima terça-feira (4), às 10 horas.

Como o prazo da CPI já foi prorrogado e houve acordo para que não sejam mais apresentados requerimentos na comissão, a reunião será informal.

Também na terça (4), às 14h30, a CPI se reunirá para discutir o relatório do deputado Pedro Novais (PMDB-MA), apresentado hoje.

A reunião foi encerrada há pouco.

Reportagem – Marcello Larcher
Edição – Daniella Cronemberger

Notícias diárias comentadas sobre a dívida – 26.04.2010

O Jornal O Globo noticia o aumento do poder de voto dos países “emergentes” no Banco Mundial, o que poderia sugerir que esta Instituição estaria se democratizando e alterando sua prática de exigir, como contrapartida de seus empréstimos, a implementação de medidas neoliberais.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que o aumento do poder de voto dos países “emergentes” foi ínfimo: de 44% para 47%, sendo que o Brasil aumentou sua participação em 2,06% para 2,24%. Em segundo lugar, boa parte destes países “emergentes” já aplica o receituário neoliberal, como no caso do Brasil.

Agravando a situação, os 186 países-membros também vão colocar mais US$ 86 bilhões no Banco, para permitir que este faça mais empréstimos, o que aprofundará ainda mais a imposição de medidas anti-sociais por todo o mundo.

Uma prova de que o Brasil já incorporou o receituário neoliberal está em notícia da Folha de São Paulo, segundo a qual o aumento da taxa de juros “Selic” beneficiará os investidores dos chamados “Fundos DI”. Embora o país já tenha a maior taxa de juros do mundo, elas ainda serão aumentadas na próxima reunião do COPOM, nesta semana.

As imposições neoliberais também ocorrem na Grécia, conforme mostra o Jornal do Brasil. A Alemanha está impondo que o governo grego continue a aprofundar a “estrita política de rigor”, para que a União Européia possa emprestar àquele país. Em bom português, tal “política de rigor” significa pesados cortes de gastos sociais, como as aposentadorias. Conforme comentado em edições anteriores desta seção, o setor financeiro exerceu enorme pressão para que esta situação acontecesse, aumentando as taxas de juros exigidas para refinanciar a dívida grega.

O Jornal mostra como o “mercado” é insaciável: “O governo grego foi confrontado nos últimos meses com uma alta constante das taxas de juros associadas a seus títulos de dívida pública, apesar dos anúncios de medidas para reduzir os gastos e ampliar receitas fiscais.”

Esta política também será feita na Hungria, onde o governo eleito anunciou que irá solicitar uma renegociação de dívida com o FMI e à União Européia, conforme mostra o Portal G1. Segundo o Presidente do partido vencedor, o país “está imerso em dívidas”, e cortará gastos públicos.

Enquanto isso, as “agências de risco” – cujas avaliações contribuíram bastante para aumentar as taxas de juros da Grécia e jogá-la nas mãos do FMI – são investigadas pelo Senado dos EUA, por terem recomendado investimentos que se mostraram falidos na crise, conforme noticia o Valor Econômico. O Jornal também traz reportagem sobre as reuniões de Primavera do FMI e Banco Mundial em Washington, onde não se avançou em pontos como a regulação bancária internacional. O Brasil foi contrário à taxação dos bancos (para a formação de um fundo para salvar bancos da crise), sob o argumento de que o sistema bancário brasileiro é sólido e bem capitalizado.

Cabe comentar que esta seria mais uma razão para que os bancos fossem tributados, porém, não para se formar um fundo para eles mesmos, mas para se aumentar os gastos sociais.

Bird amplia participação de emergentes
Autor(es): Agência O Globo/Fernando Eichenberg Correspondente
O Globo – 26/04/2010

Cota do Brasil sobe de 2,06% para 2,24%. China assume 3o- lugar, atrás de EUA e Japão

WASHINGTON. O Banco Mundial (Bird) anunciou ontem a conclusão de sua reforma no sistema de votos da instituição. Países “em desenvolvimento” tiveram sua representação elevada em 3,13 ponto percentual, para 47,19% do total. Os emergentes queriam uma repartição meio a meio, mas se contentaram com uma parcela menor — segundo os compromissos assumidos no encontro de Istambul, em 2008 —, de olho na revisão que será feita em 2015. O Brasil, cuja participação era de 2,06%, passou para 2,24%.

Mas o destaque foi a China, que passou de 2,77% para 4,42%, tornando-se o terceiro maior cotista do Bird, atrás apenas dos Estados Unidos, que permaneceram com 15,85%, e do Japão, que teve sua cota reduzida de 7,62% para 6,84%.

— Espero que os países em desenvolvimento obtenham paridade ao longo do tempo — disse o o presidente do Bird, Robert Zoellick .

Os 186 países-membros do Bird concordaram também em um aporte de mais U$ 86 bilhões para o capital do banco, dinheiro que ficará disponível em caso de necessidade, dos quais R$ 5,1 bilhões em recursos imediatos em dinheiro.

— Nunca antes houve uma reforma dessas. Foi uma combinação (cota e aporte) extremamente ambiciosa — disse Zoellick, acrescentando que, com a injeção de capital, o Bird não corre o risco de cortar empréstimos já assumidos este ano.

Com a sua reforma de cotas e de representação ainda em discussão, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, felicitou a conclusão das mudanças no Bird: — É um grande dia para o Bird. Esperamos fazer nossa reforma até o início de 2010.

Ontem, o ministro de Finanças da Grécia, George Papaconstantinou, disse estar otimista em relação às negociações em andamento com a União Europeia (UE) e o FMI para o socorro de C 45 bilhões ao país.
— Estamos confiantes de que será feito a tempo e de que seremos capazes de financiar a dívida pública — disse em Washington, onde participou da reunião conjunta de FMI e Bird.

Já o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, em inglês) defendeu a reforma do sistema financeiro mundial, mas considerando as diferentes realidades. Para o IIF, que reúne quase 400 bancos, os emergentes não devem ser sofrer com novas taxas sobre seu sistema financeiro.

Alta dos juros deve beneficiar fundos DI
Autor(es): FABRICIO VIEIRA DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de S. Paulo – 26/04/2010

Modalidade que acompanha Selic é a que menos deu retorno e a que mais sofreu saques no ano; BC decide taxa nesta semana

Para analista, investidor deve aguardar ao menos duas elevações dos juros para então decidir se muda de aplicação

A semana deve marcar o início do ciclo de elevações da taxa básica Selic, que a levará a rondar os 11,50% no fim do ano. Ao menos é o que projeta o mercado. Nesse cenário, as aplicações que seguem os juros vão começar a recuperar a rentabilidade perdida desde o início de 2009, quando a taxa básica da economia brasileira passou a ser reduzida pelo Banco Central.

Em tese, os fundos DI e outras aplicações com taxas pós-fixadas serão os maiores beneficiados. Isso ocorre porque tais investimentos acompanham com maior proximidade as oscilações da taxa Selic, que hoje está em 8,75% anuais.

No sentido contrário, aplicar em ações tende a ser menos atraente com a alta dos juros.
No acumulado do ano, os fundos DI estão na lanterna, com rentabilidade média de 2,46%, até o dia 20. Seu concorrente direto, a renda fixa, tem retorno de 3,16% no período. Apesar de os dois tipos de fundo seguirem os juros, eles têm características diferentes.

“Os fundos DI estão atrás em termos de rentabilidade no ano, o que tem motivado muitos saques. Mas daqui a uns dois meses, considerando que os juros realmente comecem a ser elevados agora, devem começar a atrair mais os investidores com os retornos crescentes”, afirma Mauro Calil, do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil & Calil.

Levantamento da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostra que os fundos DI são os que mais perderam aplicações neste ano, com saída líquida de R$ 2,95 bilhões. Já a renda fixa recebeu R$ 28,76 bilhões no período.

O fundo DI tem em sua carteira principalmente títulos públicos que seguem a Selic. Dessa forma, sofrerá o impacto direto da alta da taxa básica. Já as carteiras dos fundos de renda fixa têm uma liberdade maior para serem formadas, carregando uma variedade de papéis públicos e privados -o que explica sua melhor performance até o momento no ano.

Entre as outras aplicações que pagam juros, o atual cenário promete ser menos favorável à poupança, que vai perder a atratividade que conquistara em 2009 (leia ao lado). No caso do Tesouro Direto, vai depender do tipo de título que o investidor decidir comprar.

Outra categoria que paga juros é o CDB (Certificado de Depósito Bancário). Emitido pelos bancos, o CDB paga taxas diferentes dependendo da instituição que o negocia. Devido à liberdade de que dispõem, os bancos oferecem as taxas que acharem justas. Nos períodos em que desejam atrair os clientes para esse tipo de aplicação, os bancos elevam o juro oferecido -como ocorreu em 2008.

Disputa

“Até que haja ao menos uns dois aumentos da Selic, que permitam que os fundos voltem a pagar taxa em torno de 1% ao mês, os investidores não devem ficar ansiosos para migrar de uma aplicação à outra”, avalia Aquiles Mosca, estrategista de investimentos do Santander Asset Management. Mosca também afirma que, devido à maior liberdade para os gestores formarem as carteiras dos fundos de renda fixa, eles podem buscar alternativas para driblar o ganho potencial do DI. “O gestor pode manter o retorno da renda fixa interessante, concorrendo com o DI, se assim desejar”, afirmou.

A renda fixa costuma ser conhecida como aplicação prefixada -ou seja, tem suas taxas definidas no momento em que a aplicação é feita. Mas essa aplicação tem maleabilidade para ter parte da sua carteira composta por papéis pós-fixados, que vão ganhar daqui para a frente com a alta da Selic.
Isso significa que, se a princípio será o DI que vai ganhar com a alta do juro, a renda fixa poderá não ficar para trás, dependendo da atuação do gestor.

Alemanha impõe obstáculos à Grécia
Autor(es): FRANCE-PRESSE
Jornal do Brasil – 26/04/2010

A Alemanha não pretende assinar um cheque em branco para a Grécia, país que pediu a ajuda dos sócios da zona euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para escapar da falência, declarou neste domingo o ministro das Relações Exteriores de Berlim, Guido Westerwelle.

– Não está de jeito nenhum acordado que a Grécia receba efetivamente a ajuda da Europa.

Não assinamos um cheque em branco. A ajuda só acontecerá se não existirem outros meios para estabilizar nossa moeda comum – ressaltou.

A Alemanha pode rejeitar o pedido de ajuda da Grécia se Atenas não prosseguir nos próximos anos com a rigorosa e “estrita política de rigor”, afirmou o ministro alemão das Finanças ao jornal Bild am Sonntag.

Acordo

O FMI e a Grécia queriam avançar rapidamente, este domingo, para colocar fim à crise orçamentária em que o país está envolvido, mas sua vontade e a de várias nações europeias chocaram-se contra a intransigência da Alemanha.

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, e o ministro grego das Finanças, Georges Papaconstantinou, disseram que confiam no resultado das negociações atualmente em curso entre Grécia, Comissão Europeia e FMI.

– O FMI, os sócios europeus e todos os que estão envolvidos no esforço financeiro reconhecem a necessidade de velocidade – declarou Strauss-Kahn no final de uma reunião com Papaconstantinou no domingo, paralelamente às reuniões de primavera do Fundo e do Banco Mundial (Bird).

– Estou convencido de que concluiremos as negociações a tempo para satisfazer as necessidades da Grécia – declarou em comunicado.

O ministro grego das Finanças disse, por sua vez, estar convencido de que a ajuda financeira prometida pelos europeus e pelo FMI estaria pronta “no mês de maio”.

A Grécia, que está perto da bancarrota por conta do peso de sua dívida pública e de seu déficit orçamentário, deve fazer frente ao prazo de 19 de maio para pagar 8,5 bilhões de euros. Esse calendário, combinado com a crise que continua afetando os mercados, forçou Atenas na sextafeira a pedir que a ajuda prometida por seus parceiros da zona do euro se concretizasse.

O governo grego foi confrontado nos últimos meses com uma alta constante das taxas de juros associadas a seus títulos de dívida pública, apesar dos anúncios de medidas para reduzir os gastos e ampliar receitas fiscais.

O FMI, os sócios europeus e a Grécia decidirão nos próximos dias se é necessário revelar a quantidade total de ajuda para o governo grego nos próximos três anos, informou a ministra de Economia da Espanha, Elena Salgado. A cifra de 45 bilhões de euros aportadas pela zona do euro e pelo FMI é apenas para o primeiro ano.

Governo eleito da Hungria já fala em negociar dívida com UE e FMI
26/04/10 – 08h59 – Atualizado em 26/04/10 – 09h00
Da EFE

Budapeste, 26 abr (EFE).- A Hungria está disposta a renegociar as condições sobre o pagamento de sua elevada dívida com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), anunciou hoje em entrevista coletiva em Budapeste Viktor Orban, líder do partido vencedor nas eleições legislativas de domingo.

Orban, que preside o partido Fidesz, reconheceu que o país “está imerso em dívidas” e anunciou sua disposição em renegociar seus compromissos financeiros com UE e FMI quando assumir o poder.
“Somos nós que devemos ter um novo plano”, disse Orban, após assegurar que o novo Governo, que possivelmente será chefiado por ele, terá como meta “um déficit de 0%”, para o que elaborará planos a longo prazo.

Analistas acreditam ser possível que a Hungria fixe com o FMI uma redução do déficit fiscal para 5% ainda em 2010, o que permitiria ao novo Gabinete aliviar os ajustes econômicos e devolver empréstimos de 20 bilhões de euros pedidos para evitar a quebra do Estado.
Nas eleições legislativas de ontem, os eleitores decidiram apoiar o Fidesz com 263 das 386 cadeiras do Parlamento. Os socialistas, até agora no poder, ficaram com apenas 59 deputados.
Está previsto que o novo Parlamento se reúna dentro de um mês e que o presidente da República nomeie Orban como primeiro-ministro. EFE

mn/rr

Moody’s admite falha na antecipação da crise
Autor(es): Stephanie Kirchgaessner e Kevin Sieff, Financial Times, de Nova York e Washington
Valor Econômico – 26/04/2010

Raymond McDaniel, executivo-chefe da Moody ‘ s, admitiu na sexta-feira a um comitê do Senado dos Estados Unidos que a agência de avaliação de crédito americana não foi capaz de antecipar totalmente a gravidade da deterioração do mercado imobiliário dos Estados Unidos, que levou à crise financeira, e disse que “não está satisfeito” com seu desempenho.

No entanto, ele defendeu a dependência que as agências de classificação de crédito têm das instituições financeiras de Wall Street para suas comissões, alegando que “potenciais conflitos de interesses existem independentemente de quem paga”.

Mas a versão de McDaniel para os eventos foi contestada por evidências apresentadas na audiência perante o subcomitê permanente de investigações do Senado, que mostraram como administradores da cúpula da Moody`s e da Standart & Poor`s sofriam com a mentalidade que levou a falhas surpreendentes nas agências.

Em um determinado caso, Eric Kolchinsky, um ex-diretor-gerente da unidade da Moody ‘ s que classificava as obrigações de dívida garantidas (CDOs) lastreadas em hipotecas subprime, disse acreditar ter salvo a agência de cometer uma fraude em 2007, quando alertou que havia mudado a maneira como ele avaliava os instrumentos porque a Moody ‘ s estava ciente da deterioração do mercado hipotecário subprime. Um mês depois, quando surgiu a informação de que a participação de mercado da Moody ‘ s havia caído de 98% para 94%, ele foi repreendido por um administrador.

Perguntado sobre as classificações dadas pela Moody ‘ s ao produto Abacus do Goldman Sachs, que está no centro das alegações da Securities and Exchange Commission (SEC) contra o banco, Kolchinsky disse que nem ele nem seu staff sabiam que o gerente de fundos John Paulson estava fazendo apostas contra o negócio.

Países divergem e avançam pouco em soluções para evitar nova crise
Autor(es): Alex Ribeiro, de Washington
Valor Econômico – 26/04/2010

A extraordinária unidade entre os países que evitou uma recessão ainda mais profunda depois da falência do banco Lehman Brothers foi quebrada nesse fim de semana na reunião de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial aqui em Washington, quando se esperavam decisões mais concretas para garantir que uma crise similar não se repita no futuro.

O encontro terminou ontem sem progressos significativos para corrigir os desequilíbrios econômicos entre China e Estados Unidos; para fortalecer a regulação bancária internacional; e para ampliar a legitimidade dos organismos multilaterais. A reunião de ministros das finanças do G-20, na sexta, teve resultados igualmente desapontadores.

“No ano passado, o G-20 fez um trabalho maravilhoso entre os encontros de Londres e Pittsburgh para mostrar que havia um objetivo único”, resumiu ontem o diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Charles Dallara, entidade que reúne os mais importantes bancos do mundo. “De lá para cá, o G-20 parece ter perdido o rumo comum.”

Há esperanças de reagrupar os países em interesses comuns até o próximo encontro do G-20 em junho na Coreia do Sul. Mas as diferenças são grandes. Os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, estão tomando decisões próprias em assuntos como regulação bancária, sem se preocuparem muito com o que está sendo discutido em organismos multilaterais como o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês).

As economias europeias resistem em abrir mão de representação no FMI em favor dos emergentes. E as a China não deu sinais de estar disposta a desvalorizar sua taxa de câmbio.

O Brasil tem seus próprios interesses nesses temas, mas alguns deles não ficaram muito claros. É o caso, por exemplo, da sobrevalorização da moeda chinesa. Na semana passada, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou no Congresso que “é absolutamente crítico que a China valorize a sua moeda para assegurar o equilíbrio global entre as economias”.

Mas o Brasil não levantou o tema nas reuniões com os Bric nem com o G-20. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a fraca moeda chinesa não preocupa. “O problema para o Brasil é sobretudo a desvalorização do dólar, a principal moeda internacional de reserva de valor”, disse Mantega. “O que a China fez foi atrelar a sua moeda ao dólar para não perder competitividade.”

O FMI desenvolve o chamado mecanismo de avaliação mútua, que vai apontar problemas macroeconômicos de cada país que contribuem para desequilíbrios mundial. A expectativa é que o FMI diga o que há de errado na economia americana e chinesa – e como isso leva à subvalorização da moeda chinesa. O FMI pediu que os próprios países traçassem cenários para suas economias e recebeu relatórios muito otimistas.

“Quando juntamos os números, eles são consistentes, mas são otimistas”, disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. “Talvez eles sejam muito otimistas, mas, se os países colocarem as políticas corretas em vigor para atingir os objetivos, há uma pequena chance de que os cenários traçados se concretizem.

Mantega diz que o problema está sendo resolvido. “Houve um reequilíbrio. Países com excedente comercial grande, como a China e o próprio Brasil, diminuíram seus saldos e estão voltados para o próprio mercado interno”, afirmou o ministro. “Isso criou a oportunidade para países como os Estados Unidos, que estavam muitos voltados ao mercado interno, aumentassem exportações.”

Nas discussões do G-20 e no FMI, o Brasil foi contra a taxação dos bancos para recuperar recursos que, daqui em diante, venham a ser gastos no resgate do sistema financeiro. Mantega insistiu no ponto de que o sistema bancário brasileiro é sólido, bem capitalizado e, por isso, não precisa do imposto. Strauss-Kahn disse que esse tipo de visão é um pouco míope. “Talvez se você tivesse perguntado aos Estados Unidos ou Reino Unido antes da crise, eles diriam que seus sistemas financeiros eram sólidos o suficiente”, afirmou.